Topo

Reinaldo Azevedo

O que quer Bolsonaro ao flertar com grevistas armados? PMs somam 500 mil

Eis o instrumento privilegiado da democracia segundo a entende o pensador Jair Bolsonaro - reprodução
Eis o instrumento privilegiado da democracia segundo a entende o pensador Jair Bolsonaro Imagem: reprodução

Colunista do UOL

21/02/2020 09h05

Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail

Email inválido

Coisa boa não passa pela cabeça do presidente Jair Bolsonaro.

As milícias virtuais que lhe dão suporte nas redes sociais são inteira e absolutamente solidárias com os policiais amotinados do Ceará e defendem movimentos em outros Estados. Como o presidente não censura a violência, elas se sentem no rumo certo.

Não conto aqui nenhuma novidade, porque isso já vazou aqui e ali em seu discurso, ainda que de modo rebarbativo, que o homem vislumbra a possibilidade de, um dia, esquerda e direita travarem um confronto final. Há lunáticos às pencas nas tais páginas que sonham com esse momento.

Generais responsáveis da ativa temem o que chamam politização dos quarteis. A cúpula das Forças Armadas, com exceções, vê Bolsonaro com muitos senões. Mas ele é muito apreciado na tropa.

Segundo a página do Ministério da Defesa, as Forças Armadas do país reúnem 444.814 homens. Desse total, 296.334 integram o Exército, o maior efetivo. Os demais se dividem, em números praticamente iguais, entre Marinha e Aeronáutica.

Pois é... O Artigo 144 da Constituição afirma que as Polícias Militares são forças reservas do Exército. Uma situação sem dúvida curiosa: estamos falando de unidades também armadas que somam hoje em torno de 500 mil homens em todo o país. Vale dizer: a "reserva" tem um efetivo 68,72% maior do que o próprio e supera o conjunto das Três Armas, ainda que, obviamente, com armamento muito mais modesto.

Bolsonaro sabe muito bem o jogo perigoso que pratica quando dá piscadelas para rebeliões nesse contingente armado, desestabilizando, de resto, os governadores.

Vão juntando as peças aí... Temos um presidente que não é avesso a proselitismo junto à soldadesca das Forças Armadas. Nas operações de Garantia da Lei e da Ordem, ele quer homens com licença para matar. E flerta de modo nada discreto com o baguncismo nas PMs, a ponto de um ministro seu chamar de "legitima defesa" quando um amotinado atira contra um senador da República, ainda que este tenha se comportado como um porra-louca.

No melhor dos sonhos do presidente, os que comungam de suas ideias sobre armas poderão sair por aí com o seu próprio berro em nome da tal legítima defesa.

É preciso começar a juntar as peças do tabuleiro. O presidente da República tem uma mentalidade disruptiva e alimenta uma guerrilha ideológica que vislumbra um confronto final com os inimigos.

Tem de ser imediatamente contido. Ou virá, sim, coisa muito feia pela frente.