Dupla Pibinho & Dolão põe fim à "Bolha da Val" e cria solidão dos aviões
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Até quarta-feira passada, estrangeiros retiraram da Bolsa US$ 44,8 bilhões, maior volume da história para um ano. Nota: um ano de dois meses... O valor já é superior ao que se deu no ano passado inteiro. Reflete a confiança que o governo Bolsonaro inspira nos investidores de fora.
"Ah, mas e o coronavírus? E a situação internacional?" É verdade! Existem as circunstâncias que não são da escolha de Jair Bolsonaro e de Paulo Guedes. Mas há as que são.
Refaço a pergunta: você, com bilhões de dólares para investir, os entregaria aos cuidados de um país em que o presidente toma o lugar de um humorista quando recebe más notícias sobre a economia? Ou que estimula um ato em favor do fechamento do Congresso e do Supremo?
Informa a Folha:
"A saída também supera a retirada de 2008, maior da série histórica da B3. Em valores corrigidos pela a inflação, foram sacados R$ 44,6 bilhões no ano da crise financeira. A velocidade de saída também é recorde, cerca de R$ 1,05 bilhão por pregão, e supera a média diária de 2008."
Mestre Bolsonaro, no entanto, afirmou que os empresários com os quais se encontrou ontem na Fiesp pensam que tudo vai bem. Para Guedes, o estresse deriva do "frisson" criado pela imprensa. Aliás, noticiar isso para quê? Coisa de sabotadores. Empresários não deveriam anunciar em veículos de comunicação que lidam com o fatos, defende o nosso líder.
Mais alguns dados de reportagem da Folha? Vamos lá:
"Considerando IPOs (oferta inicial de ações, na sigla em inglês) e follow-ons (oferta subsequente de ações), o saldo de estrangeiros está negativo em R$ 33,4 bilhões neste ano. Em 2019, considerando essas operações, a saída foi de R$ 4,7 bilhões."
Nada a temer, no entanto, quando, segundo o ministro da Fazenda de há três semanas, a gente pode viajar para Cachoeiro de Itapemirim, ganhar mais com as exportações e incentivar a indústria nacional. O Brasil não pode ser conhecido apenas como o país do Pelé, da Escrava Isaura e da Bossa Nova. Os bravos forjam por aqui uma nova teoria econômica.
O mundo já conheceu a bolha das tulipas na Holanda, no século 17, a crise de 1929, a bolha da Internet, a imobiliária. Vivíamos por aqui sob a ditadura da "Bolha da Val" — não a Marchiori, mas aquela empregada vivida por Regina Casé no filme "Que Horas Ela Volta", de Anna Muylaert.
Até que chegou a dupla de gênios, Bolsonaro e Guedes — batizado nas redes com nome de dupla sertaneja: Pibinho & Dolão —, para empurrar o país para o realismo.
Lugar da Val não é a Disney. "Acabou a festa", para ecoar a indignação do ministro.
Rodrigo Maia foi ao ponto: o governo atrapalha as reformas e a chegada de investimentos. Sim, obra do governo, de ninguém mais. As oposições, como veem, estão quietas. Até torço para que seja estratégia e não falta do que dizer.
Não pergunte a Dolão o que aconteceu porque ele dirá que isso é com Pibinho. Se você perguntar a Pibinho, ele dirá que o dólar está alto porque flutua, é assim mesmo. E que o dinheiro saiu do Brasil por culpa da imprensa pessimista, que é chegada a uma má notícia.
Em suma: não foi fácil pôr fim à "Bolha da Val". Mas conseguimos.
Rico não precisa mais dividir espaço com pobre em aeroporto. Nem com rico.
Em parceria com o coronavírus, a dupla Pibinho & Dolão inventou uma nova solidão, uma solidão pós-moderna e pós-globalismo: a solidão dos aviões.
Nunca mais iremos cantarolar Belchior: "Foi por medo de avião que eu segurei pela primeira vez na sua mão".
A poesia está restrita ao medo dos jegues.