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Reinaldo Azevedo

Weintraub: dois ataques racistas à China; um deles junto com Dudu Bananinha

Reprodução/Twitter
Imagem: Reprodução/Twitter

Colunista do UOL

06/04/2020 09h17

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Por que a família Bolsonaro busca um confronto com a China? Não tenho a menor ideia. A bancada do agronegócio, por exemplo, deve saber. Ou então o setor de Saúde, que viu um lote de respiradores ter a sua compra suspensa por empresa chinesa, que preferiu vender os aparelhos para os EUA.

No sábado, com a delinquência intelectual costumeira, mas se achando espirituoso, o ministro da Educação, Abraham Weintraub, foi ao Twitter para escrever uma tolice racista sobre os chineses, repetindo a acusação de que a crise provocada pelo coronavírus pode fazer parte de um complô para dominar o mundo. A embaixada respondeu. E o fez certamente antes de saber de uma nova investida do próprio Weintraub, aí em parceria com o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), que também já atacou aquele país

No sábado, escreveu Weintraub no Twitter, fazendo uma caricatura de um suposto chinês falando português:
"Geopolíticamente, quem podeLá saiL foLtalecido, em teLmos Lelativos, dessa cLise mundial? PodeLia seL o Cebolinha? Quem são os aliados no BLasil do plano infalível do Cebolinha paLa dominaL o mundo? SeLia o Cascão ou há mais amiguinhos?"

É mesmo de morrer de rir, certo? Não dá para saber se Weintraub é mais cretino fazendo piada querendo ou sem querer...

A Embaixada da China no Brasil respondeu, como vocês lerão abaixo. O ministro não se deu por satisfeito e atacou outra vez.

Numa live realizada no Instagram pelo deputado Eduardo Bolsonaro -- com ataques aos governadores, diga-se --, o ministro da Educação afirmou que logo surgirá outra epidemia na China. E explicou os motivos:
"[Os chineses] Comem tudo que o sol ilumina e algumas coisas que o sol não ilumina comem também. Eles têm contato com um monte de bicho que não é pra comer, além de comer porco e frango. Então, nos próximos dez, os chineses não vão mudar os hábitos deles dos últimos milhares de anos em dez anos".

Alegou experiência pessoal e relatou o que teria visto quando, segundo disse, foi fazer MBA em Hong Kong:
"Quando você entra nos mercados, mesmo em Hong Kong, que é uma área quase toda ocidentalizada, é tudo bicho vivo. Eles acham que tem que matar na hora de comer. Tem sapo, enguia. Na China, as pessoas têm um contato muito direto com os bichos. Aqui, a gente cria frango na granja e porco no chiqueiro. A população é urbanizada, não tem contato direto com os bichos".

A estudantes que reclamaram da redução de bolsas de estudo, o sabido Weintraub, informa o Correio Braziliense, respondeu que houve apenas realocação. Escreve o jornal:
"O ministro da Educação ainda aproveitou a deixa para responder os estudantes que reclamaram da redução do número de bolsas de estudo oferecidas pelo MEC. Ele alegou que não houve redução do número de bolsas, sobretudo na área de ciências humanas como o que foi comentado; apenas o incremento do número de bolsas em áreas essenciais, como a saúde. Weintraub disse, contudo, que, por conta desses riscos sanitários, é melhor ter médico, enfermeiro e fisioterapeuta do que ter antropólogo, sociólogo e filósofo."

Weintraub é um dos discípulos do autointitulado professor e filósofo Olavo de Carvalho.

RESPOSTA DA EMBAIXADA
Antes dessa nova série de insultos, a Embaixada no Brasil na China já havia se manifestado sobre o ataque de sábado. Segue a nota, transformada numa série de sete postagens no Twitter, conforme o original:

Em 5 de abril, o Ministro da Educação do Brasil Abraham Weintraub, ignorando a posição defendida pela parte chinesa em diversas gestões, fez declarações difamatórias contra a China em redes sociais, estigmatizando a China ao associar a origem da COVID-19 ao país.

Deliberadamente elaboradas, tais declarações são completamente absurdas e desprezíveis, que têm cunho fortemente racista e objetivos indizíveis, tendo causado influências negativas no desenvolvimento saudável das relações bilaterais China-Brasil.

O lado chinês manifesta forte indignação e repúdio a esse tipo de atitude.

Atualmente, a pandemia da Covid-19 está se espalhando globalmente, trazendo um desafio que nenhum país consegue enfrentar sozinho.

A maior urgência neste momento é unir todos os países numa proativa cooperação internacional para acabar com a pandemia com a maior brevidade, com vistas a salvaguardar a saúde pública mundial e o bem-estar da Humanidade.

A OMS e a comunidade internacional se opõem explicitamente à associação de vírus a um certo país ou uma certa região, combatendo a estigmatização sob qualquer pretexto.

Instamos que alguns indivíduos do Brasil corrijam imediatamente os seus erros cometidos e parem com acusações infundadas contra a China.

RETOMO
A China é o maior parceiro comercial do Brasil e hoje o principal produtor de equipamentos e acessórios de proteção pessoal de que o nosso país precisa para enfrentar a Covid-19.

Os chineses comem, direta e indiretamente, bem mais do que os delírios de Weintraub: comem, por exemplo, a carne e os grãos que produzimos — estes usados como alimento e como ração.

De coluna de Nelson de Sá, na Folha, extraio seguinte trecho:
"O mesmo Xin Jing Bao cobriu no sábado (4) a coletiva sobre "segurança e suprimento alimentar" de um diretor do ministério chinês da agricultura, convocada porque "muitas pessoas se preocupam que a soja importada do Brasil venha a ser afetada".

Wei Baigang afirmou que "as importações do Brasil não foram afetadas em março, e as importações dos EUA devem crescer", agora que "a primeira fase do acordo comercial sino-americano foi implementada".

Os fazendeiros dos EUA começam a plantar em abril e "a expectativa é que cresça a área de cultivo".

CONCLUO
Até quando o agronegócio brasileiro e seus representantes no Congresso vão permitir que delinquentes intelectuais e extremistas da estupidez atentem abertamente contra os interesses brasileiros? Desse governo, não virá mudança nenhuma de orientação. Essa gente diz o que pensa Bolsonaro.

Resta esperar a próxima agressão. E, claro, a reação.