Moro usa contra Bolsonaro as táticas midiáticas de quando era juiz aliado
Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail
Com o habitual, como direi?, senso de oportunidade que exibia quando era juiz, o ex-ministro Sergio Moro já se manifestou em meio ao noticiário que dá conta de que Jair Bolsonaro ligou as trocas na Polícia Federal a interesses de familiares e aliados seus. Divulgou a seguinte nota:
"Assistimos hoje ao vídeo da reunião interministerial ocorrida em 22 de abril. O material confirma integralmente as declarações do ex-ministro Sérgio Moro na entrevista coletiva de 24 de abril e no depoimento prestado à PF em 2 de maio. É de extrema relevância e interesse público que a íntegra desse vídeo venha à tona. Ela não possui menção a nenhum tema sensível à segurança nacional."
RELAÇÃO ENTRE SERPENTES
Sim, sim, é bem provável que Bolsonaro, que lidera um governo hediondo -- e muito em razão de suas qualidades pessoais, ou da falta delas -- tenha mesmo feito o que se diz que fez. Afinal, está lá nas mensagens no WhatsApp a vinculação da troca do comando da Polícia Federal a uma investigação em curso.
Em nota tão curta, nota-se o jeito Moro de ser. Vamos ver?
1: o depoimento ainda é sigiloso, mas ele já dá de barato que o vídeo confirma suas declarações;
2: ora, ele só pode fazer essa afirmação porque sabe que o conteúdo do vídeo já vazou;
3: mais uma vez, usa um vazamento a serviço de uma tese sua, como sempre fez quando juiz;
4: o vídeo está sob sigilo temporário, determinado pelo ministro Celso de Mello. Moro, que é parte do inquérito e, formalmente ao menos, também investigado, diz qual deve ser o comportamento do ministro;
5: ou seja, tudo aquilo que fazia contra Lula, o PT e outros partidos ou políticos, como se nota, faz agora contra Bolsonaro, embora as situações sejam bem distintas: afinal, desta feita, o Ministério Público não atua como um simples subordinado seu, e ele não detém, no caso, os poderes de juiz.
Mas, pode-se perceber, continua habilíssimo na arte de mobilizar o noticiário.
Bolsonaro e Moro resolveram ter uma relação marcada pela fidelidade entre serpentes.
Claro! Tivesse o presidente atuado de forma decente e republicana, não estaria metido nesse rolo.
Observo para encerrar: não é que Sergio Moro tenha reagido mal a cada vez que o então chefe mandava a tal República às favas. Houve muitas outras, ele se calou.
Roeu a corda quando Bolsonaro decidiu afrontar o subordinado que se entedia como chefe do chefe.