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Reinaldo Azevedo

Repórter é atacada. São violentos convictos. Band e ministro do STF reagem

Manifestantes pró-Bolsonaro fazem pouco caso de mais de 16 mil mortos em manifestação em frente ao Palácio do Planalto. Que tipo de gente faz isso? - Foto: Pedro Ladeira/Folhapress
Manifestantes pró-Bolsonaro fazem pouco caso de mais de 16 mil mortos em manifestação em frente ao Palácio do Planalto. Que tipo de gente faz isso? Imagem: Foto: Pedro Ladeira/Folhapress

Colunista do UOL

17/05/2020 22h38

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Mais um profissional de imprensa atacado pelos fascistoides de Bolsonaro. Desta vez, uma repórter da BandNews TV. Já chego lá.

Os manifestantes que se aglomeram às portas do Palácio da Alvorada ou do Palácio do Planalto não são melhores do que o próprio Jair Bolsonaro. São, aliás, piores e não devem ser vistos com condescendência. Há uma certa tendência de achar que se trata de pessoas humildes, eventualmente esmagadas pela desinformação e pela pobreza, a depositar suas esperanças num demiurgo. Falso!

No mais das vezes, são indivíduos de classe média, com escolaridade razoável aos menos — muitos com curso universitário —, arrogantes o bastante para tachar de mentirosas as informações publicadas pela imprensa profissional, preferindo acreditar em sites de lunáticos e nas correntes de WhatsApp criadas por outras pessoas com as quais têm afinidades eletivas.

CAIXÃO DA PSICOPATIA E DA SOCIOPATIA
São autoritárias e, com alguma frequência, impiedosas. Neste domingo, mais uma vez, lá estava um caixão a decorar o "protesto a favor". Isso corresponde a fazer pouco caso de mais de 16 mil mortos. E olhem que são números oficiais. Há evidências de que são dados brutalmente subestimados. Em Manaus, os enterros diários foram multiplicados por três. Nas duas primeiras semanas de maio, o número de mortos na cidade do Rio supera em mais de 50% o de ocorrências em igual período do ano passado.

Tivemos hoje o pior domingo: 7.938 novos casos da doença, chegando a 241.080 pessoas com diagnóstico confirmado, com 485 novas mortes documentadas. Nos fins de semana e às segundas, os números caem em razão da paralisação de serviços ligados à notificação nos Estados. Aguardem dados apavorantes nos próximos dias. A doença começou a provocar estragos para valer entre os pobres só agora.

E, no entanto, lá estão os fanáticos do "Mito" a exibir caixões em claro sinal de escárnio e impiedade, dando de ombros para os que sofrem e para milhares de pessoas que perderam seus entes queridos. Não vale dizer que eles não sabem o que está acontecendo: sabem, sim! Sabem e não dão bola. Sabem e não estão nem aí. Sabem e não têm a menor empatia com os que sofrem. Assim como os alemães sabiam da política de extermínio dos judeus. Sabiam. E parte considerável ou apoiava ou preferia olhar para o outro lado.

"Está comparando o governo de Bolsonaro com o nazismo, banalizando o Holocausto, Reinaldo". Eu não! Quem banaliza o Holocausto, segundo entidades judaicas, é a Secom. Eu estou usando o extremo conhecido da crueldade e o extremo conhecido da indiferença para evidenciar que nada há de inocente no comportamento desses de hoje e dos alemães de ontem.

Vejam aí, por exemplo, os bolsonaristas a cantar musiquinhas em favor da cloroquina. O que sabem a respeito? Nada! Acatam o que a ciência diz? Não! Se o líder mandou tomar, então defendem que se tome. Ignorantes, vulgares, truculentos e autoritários. E são assim por escolha, não porque sejam vítimas de circunstâncias.

AGRESSÃO
Neste domingo, Clarissa Oliveira, da BandNews TV foi agredida, quando aguardava para entrar ao vivo, pelo mastro de uma bandeira carregada por uma manifestante, que chamada os jornalistas que cobriam o evento de "lixo". Aos risos, depois de atacar a repórter, a mulher pediu desculpas obviamente falsas. Ironizava a situação em vez de reconhecer a falha. No evento anterior às portas do Palácio do Planalto, dois profissionais do Estadão foram agredidos.

A direção de jornalismo do grupo Bandeirantes afirmou em nota: "A agressão à nossa repórter, Clarissa Oliveira, durante manifestação em frente ao Palácio do Planalto, ofende a liberdade de imprensa e a todos os jornalistas". Pede ainda "punição exemplar a esse ato inaceitável de selvageria", lamentando "mais essa prova de desrespeito ao trabalho da imprensa".

O ministro Alexandre de Moraes, do STF, escreveu no Twitter:
"É absolutamente inadmissível que uma repórter, exercendo sua profissão, seja covardemente agredida por manifestante radical, que jamais saberá o real significado do direito de livre manifestação e da imprensa livre, um dos sustentáculos da Democracia".

Ele é relator no Supremo de inquérito que apura a organização de atos ilegais contra o regime democrático.

Na sexta-feira, o general Luiz Eduardo Ramos e o ministro Paulo Guedes reclamaram do trabalho da imprensa. Que eu saiba, nem antes nem agora lamentaram a agressão a jornalistas. "Ah, o governo não é culpado..." Quando o presidente e ministros prestigiam atos truculentos, tornam-se culpados.

Sim, os fascistoides estão em declínio, em número cada vez menor. Mas existem e são convictos. O presidente governa para eles. E, bem, eu não poderia me esquecer aqui das palavras finais de Paulo Guedes em seu pronunciamento de 40 minutos na sexta:
"Nós estamos aperfeiçoando nossas instituições. A política já mudou. Ela hoje é temática. Ela hoje é quem é a favor da defesa da vida e do patrimônio podendo estar armado; quem é a favor da família."

Neste domingo dos mais de 16 mil mortos, saudando aquela gente boa que pisoteia cadáveres e agride jornalistas, Bolsonaro falou mais uma vez em defesa da família, sabe-se lá por quê.

Todos farinha do mesmo saco.

Do ponto de vista moral e ético, é um produto antigo. A mesma farinha da Alemanha e da Itália da década de 30 do século passado.