Coronavac: ação da Anvisa deixa suspeita de uso político da agência
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A Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) tomou uma decisão absolutamente inaceitável ao anunciar a interrupção do estudo clínico da vacina Coronavac, desenvolvida pela empresa chinesa Sinovac e pelo Instituto Butantan, sem aviso prévio ao consórcio. Algo de muito estranho está em curso. A agência alardeou a ocorrência de um "efeito adverso grave". E se limitou a divulgar uma nota que, sob o pretexto de informar, faz terrorismo.
Vamos ver. A coisa mais grave não está na suspensão em si. Em princípio, a agência pode fazer isso. Ocorre que o Butantan ficou sabendo da decisão por intermédio da imprensa. É claro que isso cria uma sombra de suspeição sobre a vacina, que se espalha rapidamente nas redes. Caso venha a se evidenciar que a tal ocorrência nada teve a ver com o imunizante, o estrago, em boa parte, está feito. É absolutamente inaceitável que as coisas se deem desse modo. A suspeita de uso político da agência é evidente.
O "efeito adverso grave" nem efeito é, se Dimas Covas, diretor do Instituto Butantan, estiver certo. Segundo ele, no dia 29 de outubro, morreu um voluntário de 33 anos. Ele era uma das 13.060 pessoas que participam da Fase 3 do desenvolvimento da Coronavac no Brasil. Diz o diretor que a morte não está relacionada à vacina. Nem mesmo se sabe se ele pertencia ao grupo que efetivamente tomava a droga ou se estava entre aqueles aos quais é ministrado o placebo.
Atenção! No Brasil e no mundo, outras vacinas já tiveram seu desenvolvimento suspenso para avaliar se ocorrências de saúde havidas com integrantes de grupos voluntários estão ou não relacionadas ao imunizante. É a prática internacional. É a regra. E é o correto. Mas é a primeira vez que se recorre a um expediente que, por princípio, atinge a credibilidade do trabalho.
A Anvisa é uma agência do Estado e não se deve se comportar como um órgão de governo. Diga-se lá o que se disser — e ainda que se venha a demonstrar que a morte está ligada à vacina —, estamos diante de uma suspeita grave de uso político da agência para atender aos interesses do Palácio do Planalto.
O presidente Jair Bolsonaro mandou suspender protocolo assinado entre o Ministério da Saúde e o Instituto Butantan para a compra de 46 milhões de doses da Coronavac e chegou a anunciar que o governo federal não comprará a vacina ainda que venha a ser liberada pela agência.
Parece evidente que o vírus da politização anda circulando nos corredores da Anvisa.