Fux serve de esbirro de Moro e ataca colegas; discurso banaliza Holocausto
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O ministro Luiz Fux, presidente do Supremo e do Conselho Nacional de Justiça, resolveu usar o discurso de abertura do 14º Encontro Nacional do Poder Judiciário, promovido pelo CNJ, para atacar colegas de tribunal, defender a Lava Jato por princípio — nas melhores casas do ramo, juízes julgam causas ao invés de se comportar como advogados de uma das partes — e para elogiar o ex-juiz, hoje advogado, palestrante sobre ambiente de negócios e pré-candidato à Presidência, Sergio Moro.
Achando que não estava de bom tamanho, aproveitou o ensejo para banalizar o Holocausto Judeu, associando uma das máculas da história humana àqueles que seriam condescendentes com a corrupção. Sim, Fux é judeu. E nem a um judeu se deve conceder a licença para uma trapaça intelectual dessa magnitude.
Não vou ensinar Fux a ser judeu. Nem ele vai me ensinar o que é certo.
Busca, assim, com as suas provocações, conceder estridência a um mantado que já nasce acanhado, destinado à irrelevância. Fux não é hoje referência na defesa do devido processo legal ou das garantias constitucionais. Ao contrário: mais de uma vez, ele dá a entender ser um ministro com uma agenda que não coincide necessariamente com a Constituição. Dadas as suas declarações, é justo concluir que um pré-candidato à Presidência da República conta com o seu apoio? Seu discurso é uma soma de despropósitos.
O suposto paladino da moralidade nem parecia aquele que foi pedir a bênção de José Dirceu para ser indicado por Dilma. Ou que, amigão do casal Cabral, foi beijar os pés da Adriana Ancelmo em sinal de gratidão pelo apoio. Que fique claro: eu nunca uso texto como sentença. Pouco importa, neste artigo, se Dirceu e Adriana são culpados disso ou daquilo. Só estou evidenciando que aquele Catão que vociferava moralidade nesta quinta já usou o seu topete com mais, como posso dizer?, lassidão.
Segundo o ministro, "o Supremo Tribunal Federal não permitirá que haja a desconstrução da Operação Lava Jato". E citou como exemplo desse esforço o fato ele ter sugerido que as ações referentes à operação sejam julgadas pelo pleno, não mais pela Segunda Turma. Trata-se de um ataque a seus pares, que, então, estariam empenhados não em julgar com isenção, mas em "desconstruir a operação". Justas, pois, são as opiniões que coincidem com as suas. Quando ele as leva a julgamento, claro! O amigão de Adriana Ancelmo — se já romperam, basta pedir à assessoria que me informe, e eu publico — ficou quatro anos sentado sobre a liminar que concedia a todos os membros do Judiciário e do MP o auxílio moradia. A patuscada custou algo em torno de R$ 5 bilhões aos desdentados. O amor por decisões do pleno nasceu depois.
Topetudo na irrelevância, resolveu se comportar como advogado de Moro sabendo que há ação no tribunal que preside que trata da suspeição do então juiz. Disse: "O Brasil iniciou a Operação Lavo-Jato com sucesso. Teve um grande brasileiro que capitaneou isso, que não podemos deixar de reconhecer, que foi o juiz Sergio Moro". Sei. Em breve, Moro participará de um seminário do Institut Européen d'Administration des Affaires, uma das mais conceituadas escolas de negócios do mundo, justamente sobre o, bem..., ambiente de negócios no Brasil pós-Lava Jato.
Aquele que conhece segredos da operação e dos todas as empresas citadas por delatores dá hoje palestras sobre oportunidades de negócios. E conta, como se vê, com o apoio incondicional de Fux. Recentemente, o doleiro Dario Messer foi absolvido por crimes que confessou em delação. Isso deveria interessar ao presidente do CNJ. Mas o doutor está muito ocupado tentando ganhar o noticiário ao atacar os colegas. Devemos vê-lo como suporte de um postulante à Presidência?
Investiu também contra a correta decisão do tribunal que preside que pôs fim à folia das conduções coercitivas ilegais. Para ele, "é direito fundamental do Estado impor a sua ordem penal. Não tem só direito fundamental de preso. Tem direito fundamental de vítima, do Estado, que tem de nos conceder um dos maiores valores consagrados na Constituição que é a segurança". Giovanni Gentile, o filósofo do fascismo, até se coçou na tumba de satisfação.
E houve o momento da grande abjeção. Atribuiu o genocídio judeu à indiferença das pessoas em geral, o que realmente aconteceu, e emendou, revirando o estômago dos sensatos:
"Vamos nos perguntar: por que a corrupção ainda não foi erradicada do nosso país? O perigo da indiferença. Exatamente a indiferença que se sobrepõe aos empenhos para conjurar esse mal que tanto traz deméritos ao nosso país injustificadamente."
Fux é judeu. Eu não. Sua fala banaliza o holocausto. Eu não.
O conjunto da obra não surpreende. Revelei neste blog, no ano passado, em parceria com The Intercept Brasil, que Deltan Dallagnol estivera com Fux em 2016. Segundo o procurador contou a seus pares e a Moro, o ministro se pôs à disposição da Lava Jato e, ora vejam, criticou o colega Teori Zavascki. Atacar os pares parece ser uma obsessão.
Satisfeito, o então juiz, hoje palestrante sobre ambiente de negócios e pré-candidato à Presidência, respondeu:
"Excelente! In Fux we trust".
Como? Você é advogado ou réu e espera um juízo isento do presidente do STF em ações que digam respeito à Lava Jato? Esqueça. Ele é um juiz de acusação.
O ministro anda a ouvir maus conselheiros, que estão com uma leitura errada da realidade. Será derrotado com eles. Essa é a boa notícia.