Bolsonaro lança maior "fake news" de seu governo, mas fatos o desmoralizam
Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail
O Instituto Butantan negocia há tempos com a China o envio do Ingrediente Farmacêutico Ativo (IFA) para a fabricação da Coronavac no Brasil. O ex-presidente Michel Temer, em parceria com o governo de São Paulo, é um dos interlocutores do governo chinês por intermédio da embaixada daquele país no Brasil
No evento com ex-presidentes promovido por João Doria, Temer disse de viva voz:
"Hoje ainda, às 11h, falei com o embaixador da China no Brasil. Nessa conversa, a notícia que tive é que os insumos estão sendo acondicionados. Há uma pequena questão técnica na China, mas eles virão para o Brasil".
O presidente Jair Bolsonaro, no entanto, não teve dúvida. Seguindo o estilo de seu mentor, o finado Donald Trump, recorreu ao Twitter para contar uma inverdade. Escreveu:
"Embaixada da China nos informou, pela manhã, que a exportação dos 5400L de insumo para a vacina Coronavac aprovada, e já estão em vias de envio ao [emoji de bandeira brasileira], chegando nos próximos dias. Assim também os insumos da vacina Astra-Zeneca que estão com liberação sendo acelerada.
Agradeço a sensibilidade do Governo chinês, bem como o empenho dos Ministros @Itamaraty GovBr @ernestofaraujo, @minsaude Eduardo Pazuello e @Mapa_Brasil @TerezaCrisMS."
O único agradecimento merecido — pelo esforço, não pelo resultado — é o feito à ministra Tereza Cristina, da Agricultura. É a única que, desde o primeiro dia, tentou manter uma relação profissional, como é o correto, com a China. Ernesto Araújo e Eduardo Pazuello, ao contrário, só contribuíram para crispar as relações entre os dois países.
O chanceler, como é sabido, acha que o Brasil tem de confrontar a China, numa luta contra o globalismo e o comunismo. Alimenta a súcia de psicopatas na Internet que acreditam que o vírus é parte de um complô para dominar o mundo. Para Araújo, o coronavírus é, na verdade, comunavírus.
Yang Wanming, embaixador da China no Brasil, retuitou Bolsonaro e acrescentou a seguinte mensagem:
"A China está junto com o Brasil na luta contra a pandemia e continuará a ajudar o Brasil neste combate dentro do seu alcance. A União e a solidariedade são os caminhos corretos para vencer a pandemia."
Os bolsonalhas ficaram em dúvida se comemoravam a resposta do embaixador. Afinal, como explicar que seu chefe pudesse ser grato aos inimigos por mandar para cá o insumo para fazer a "vachina", aquela que poderia transformar jumentos em jacarés? E eles não querem ser jacarés de jeito nenhum!
Wanming é embaixador. Exerce a diplomacia. Se um presidente da República se mostra grato, cabe a ele dar a resposta cordial que deu. Afinal, seu papel é aparar eventuais arestas entre os dois países e buscar convergência de interesses. É o que faz a diplomacia. A única no mundo que ataca seu principal parceiro comercial e investidor é mesmo a brasileira. Como sabem, Araújo já se orgulhou de o Brasil ter se tornado um pária no mundo.
Bem, a despeito da delicadeza de Wanming, sabem ele e os fatos que quem destravou o envio dos Ingredientes Farmacêuticos Ativos — porque também há o do da AstraZeneca-Oxford — foi o governo de São Paulo, com o auxílio do ex-presidente Michel Temer.
GUERRA DA VACINA, NÃO! O EMBATE É OUTRO
O governo de São Paulo emitiu uma nota desmentindo Bolsonaro. E fez muito bem. Guerra da vacina? Uma ova! Trata-se de um embate da verdade contra a mentira. O que seria "não entrar na guerra"? Deixar que prosperem as bobagens dos negacionistas, que, agora desesperados também com as pesquisas de opinião, pretendem tomar para si méritos que não lhes pertencem, fingindo que não estavam sabotando a vacina?
Diz o Palácio dos Bandeirantes:
"Não é verdade o que disse o Presidente Bolsonaro em redes sociais, de que a importação de insumos da China foi uma realização do Governo Federal.
Todo o processo de negociação com o governo chinês para a liberação de 5.400 litros de insumo para a vacina do Butantan foi realizado pelo Instituto e pelo Governo de São Paulo, que vem negociando com os chineses a importação de vacinas e insumos desde maio do ano passado.
Esta negociação é continua e nunca foi interrompida, mesmo quando o Governo Federal, através do presidente da República, anunciou publicamente, em mais de uma ocasião, que não iria adquirir a vacina por causa de sua origem chinesa. Neste período, um total de 4 lotes de vacinas e insumos foram recebidas pelo Governo de SP sem nenhuma participação do governo Bolsonaro.
O Instituto Butantan informa que houve autorização do governo chinês para o envio dos insumos. Eles não estão no aeroporto conforme equivocadamente publicado pelo Presidente da República, mas sim nas instalações da Sinovac, em Pequim.
O Governador João Doria terá reunião virtual amanhã, 26, às 10h30, com o embaixador chinês, Yang Wanming. Logo após, terá entrevista coletiva no Palácio dos Bandeirantes em que serão detalhados a logística de importação dos insumos da vacina do Butantã, ainda esta semana, para o Brasil."
E isso tudo é apenas fato. Como vê sua popularidade despencar e tomar vulto as manifestações em favor do impeachment, Bolsonaro agora se agarra até à China, chamando para si méritos que não são seus.