Texto baseado no relato de acontecimentos, mas contextualizado a partir do conhecimento do jornalista sobre o tema; pode incluir interpretações do jornalista sobre os fatos.
Se o negacionismo de Bolsonaro não matasse, diria a ele: "Continue assim!"
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Não fosse o negacionismo e a estupidez de Jair Bolsonaro cobrarem tão caro em vidas humanas — temos um presidente cujo discurso e prática matam pessoas —, eu diria a ele: "Continue nessa toada, valentão, e você vai quebrar a cara". Mas, como é evidente, seu comportamento influencia muita gente. E muita gente morre e mata em razão disso porque sai por aí espalhando o patógeno e contribuindo para criar cepas do vírus ainda mais contagiosas e letais. Ontem, na marcação de 24 horas, feita pelo consórcio de veículos de comunicação, contaram-se 2.798 mortes, com o sistema de saúde do país inteiro em pleno colapso. Bem, isso tem reflexos.
Levantamento feito pelo Datafolha aponta que 54% dos brasileiros consideram seu governo ruim ou péssimo no que respeita ao combate à pandemia. No fim de janeiro, eram 48%, um índice já elevado. A piora é sensível. Há pouco mais de um mês, viam a gestão como ótima ou boa 26%; desta feita, apenas 22%. Pode estar se rompendo aquela renitência de fanáticos — em torno de 30%. E, é certo, só o fanatismo explica essa adesão. E, como tal, a disposição para aderir a líderes dessa natureza não tem lastro objetivo. Inexiste um grupo social, hoje, que ganhe com essa gestão. Pistoleiros aqui e ali podem até se beneficiar, como casos isolados, com o seu adesismo. Mas não chegam a formar uma categoria.
O discurso destrambelhado e homicida começa a marcar as consciências. Consideram que Bolsonaro é o principal culpado pela situação da pandemia nada menos de 43% dos brasileiros. O índice, por óbvio, está muito abaixo do que é justo atribuir ao presidente, mas, claro!, é elevado. Apenas 17 % jogam o peso nas costas dos governadores — repetindo, nesse caso, a acusação irresponsável e mentirosa feita pelo próprio Bolsonaro. A margem de erro da pesquisa é de dois pontos percentuais para mais ou para menos.
O topo numérico da rejeição ao presidente se deu no fim do ano passado, quando 50% apontavam um governo ruim ou péssimo, o que se repetiu no mês seguinte: 49%. O auxílio emergencial — e as pesquisas autorizam a fazer esta afirmação — baixaram esse índice para 43% em agosto — em dezembro, ainda eram 42%, notando, no entanto, que a aprovação (ótimo ou bom) nunca superou 30%. Sim, meus caros, esse governo é tão desastrado e desastroso que mesmo os péssimos números de agora são ainda generosos porque incompatíveis com a ruína em curso. E há 24% que afirmam ser essa gestão "regular". Em que setor?
Vem aí a nova rodada de auxílio emergencial. Vai atingir menos gente. E os valores pagos serão bem inferiores àqueles R$ 600. Pode ter alguma influência na avaliação sobre o presidente? A ver. Bolsonaro foi tão longe na insanidade negacionista que se tornou sócio de um desastre sem precedentes.
A ruína na economia é uma consequência na pandemia no mundo inteiro. Por aqui, a irresponsabilidade fará com que dure mais tempo. A inflação, indicam as projeções mais confiáveis, deve ficar bem perto da margem superior da meta — o centro é 3,75%, podendo oscilar dois pontos percentuais —, e uma elevação da taxa de juros é dada como certa. Há quem defenda uma pancada de 0,75 ponto, o que, definitivamente, não colabora com o crescimento. Uma nota: nesta gloriosa gestão, a cesta básica subiu espantosos 32,56%. Logo, caro leitor, a inflação dos pobres é muito maior, e mais sentida, do que essa que você percebe.
Para encerrar: dizem nunca acreditar no que diz o presidente 45% dos entrevistados. E acreditam sempre apenas 18%. É o tamanho disso a que chamam "bolsonarismo" — que vem a ser a expressão do reacionarismo. Sempre esteve latente na sociedade. Bolsonaro apenas cavalgou o rancor. Outros, um dia, assumirão o seu lugar. Cumpre que os democratas tenham juízo, a despeito de suas divergências, e façam as coisas certas para manter a besta lá nas profundezas.