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Reinaldo Azevedo

ANÁLISE

Texto baseado no relato de acontecimentos, mas contextualizado a partir do conhecimento do jornalista sobre o tema; pode incluir interpretações do jornalista sobre os fatos.

Kátia dispara: "Face de um marginal". Ou: Araújo toma o bugalho por alho

Ernesto Araújo, ainda chanceler quando este texto vai ar, ao descobrir que alho não é bugalho e que a soja não nasce no supermercado - AFP
Ernesto Araújo, ainda chanceler quando este texto vai ar, ao descobrir que alho não é bugalho e que a soja não nasce no supermercado Imagem: AFP

Colunista do UOL

29/03/2021 05h21

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A senadora Kátia Abreu divulgou uma dura nota, repudiando o ataque que sofreu de Ernesto Araújo, o inacreditável e estupefaciente titular do Itamaraty.

E afirmou o que toda pessoa sensata afirmaria, mormente sendo presidente da Comissão de Relações Exteriores do Senado. É evidente que o Brasil não pode aplicar um veto à China na disputa pelo 5G. Os dois gigantes detêm a tecnologia; nós temos um vasto mercado. O veto interessa a quem?

Kátia fala em nome dos interesses do país, mas também lembrou particularmente o agronegócio, de que ela é expressão. Já foi presidente da CNA (Confederação Nacional de Agricultura e Pecuária do Brasil). Aliás, foi a fase em que a entidade procurou criar marcos de preservação do meio ambiente e de produção responsável, em parceria com a Embrapa, em vez de produzir ideologia rasteira e barata.

Se os EUA apresentarem a melhor proposta, que seja! Mas veto à China? O que isso significaria? O agronegócio de ponta, hoje, é um dos que mais apelam à tecnologia. Um eventual banimento da Huawei, por exemplo, implicaria um prejuízo gigantesco também ao setor. Mas o que sabe Ernesto Araújo a respeito? Não distinguiria um alho de um bugalho. Deve imaginar que soja, carne e feijão nascem no supermercado.

Está no Ministério para produzir teorias conspiratórias, não para encontrar as melhores soluções para o país que ele representa na comunidade internacional. A propósito: ninguém fala com ele; ninguém lhe dá bola; ninguém o quer por perto.

Ou não o vimos a liderar um ridículo grupo de 10 pessoas em viagem a Israel, em busca de um spray milagroso, quando o Brasil, à revelia do governo federal, já está em vias de produzir todo o ciclo de duas vacinas em solo pátrio?

O bolsonarismo é uma doença perigosa e incurável. Mata. E muito!

Leiam a nota de Kátia:
O Brasil não pode mais continuar tendo, perante o mundo, a face de um marginal. Alguém que insiste em viver à margem da boa diplomacia, à margem da verdade dos fatos, à margem do equilíbrio e à margem do respeito às instituições. Alguém que agride gratuitamente e desnecessariamente a Comissão de Relações Exteriores e o Senado Federal.

É uma violência resumir três horas de um encontro institucional a um tuíte que falta com a verdade. Em um encontro institucional, todo o conteúdo é público.

Defendi que os certames licitatórios não podem comportar vetos ou restrições políticas. Onde está em jogo a competitividade de nossa economia, como no caso do leilão do 5G, devem prevalecer os critérios de preço e qualidade, conforme artigo 'O Céu é o Limite', que divulguei na Folha de S.Paulo (21/03/21).

Ainda alertei esse senhor dos prejuízos que um veto à China na questão 5G poderia dar às nossas exportações, especialmente do Agro, que vem salvando o país há décadas. Defendi também que a questão do desmatamento na Amazônia deve ser profundamente explicada ao mundo no contexto da negociação para evitar mais danos comerciais ao Brasil.

Se um Chanceler age dessa forma marginal com a presidente da Comissão de Relações Exteriores do Senado da República de seu próprio país, com explícita compulsão belicosa, isso prova definitivamente que ele está à margem de qualquer possibilidade de liderar a diplomacia brasileira.

Temos de livrar a diplomacia do Brasil de seu desvio marginal.

Brasília, 28 de março de 2021

Kátia Abreu (PP-TO), presidente da Comissão de Relações Exteriores do Senado da República.