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Reinaldo Azevedo

ANÁLISE

Texto baseado no relato de acontecimentos, mas contextualizado a partir do conhecimento do jornalista sobre o tema; pode incluir interpretações do jornalista sobre os fatos.

Bolsonaro tem uma ideia para você, meu bom brasileiro: "morrer sem sentir"

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Imagem: Reprodução

Colunista do UOL

28/05/2021 05h14

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O presidente Jair Bolsonaro tem um plano para os brasileiros. Sugiro que seus potenciais adversários em 2022 isolem o grande momento do nosso líder, que foi ao ar na sua "live" de ontem, e tenham o vídeo sempre à mão. Afirmou:

"Ninguém aguenta mais esses lockdowns, estes isolamentos por aí. Ninguém aguenta mais isso. Respeitamos, lamentamos as mortes? Lamentamos. Todas as mortes. Todas as mortes, sem exceção. A morte é uma coisa que todo mundo, o óbvio, todo mundo vai passar por ela e não vai sentir".

É isso aí, brasileiros! O presidente os convida a morrer sem sentir.

De resto, nem essa pusilanimidade é verdadeira. Os pacientes de Covid que morrem sem assistência passam por um sofrimento horrendo.

O que mais dizer? Essa frase define este senhor.

Passou boa parte do tempo atacando os membros da CPI, em particular o presidente da comissão, Omar Aziz (PSD-AM), e Randolfe Rodrigues (Rede-AP), vice, que foi adicionalmente vítima de ataques homofóbicos, ainda que não seja gay.

E daí? O que define a homofobia não é a orientação sexual do alvo, mas o uso da homossexualidade como uma desqualificação.

Disse:
"Agora, tem uma saltitante na comissão que queria me convocar. É brincadeira, né? Ô, saltitante, está de brincadeira! Não tem o que fazer não, saltitante?".

Eis o chefe de Estado do Brasil, hoje ridicularizado mundo afora. Entendo que uma CPI não tem poderes para convocar o presidente. Mas, igualmente, não pode convocar governadores. E seis deles, com razão, recorreram ao Supremo para não comparecer. Espero que o tribunal faça a coisa certa.

O presidente que se expressava desse modo era o mesmo que já havia feito discurso golpista e recorrido de novo ao Supremo contra o poder de Estados e municípios para adotar medidas restritivas.

Na CPI, Dimas Covas, diretor do Butantan, já havia feito o breviário da decomposição da decência.