Texto baseado no relato de acontecimentos, mas contextualizado a partir do conhecimento do jornalista sobre o tema; pode incluir interpretações do jornalista sobre os fatos.
No AM, Bolsonaro faz exortação golpista diante do comandante do Exército
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O presidente Jair Bolsonaro foi ao Amazonas fazer, acreditem, campanha eleitoral. Aproveitou para inaugurar uma ponte de madeira de... 18 metros! Bateu um papinho golpista, depois, com os militares. Na presença do ministro da Defesa, Braga Netto, e do comandante do Exército, Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira, afirmou:
"O que queremos é paz, progresso e, acima de tudo, liberdade. A gente sabe que esse último desejo passa por vocês. Vocês é que decidem, em qualquer país do mundo, como aquele povo vai viver".
E mais adiante:
"Mais do que obrigação, tenho certeza que vocês agirão dentro das quatro linhas da Constituição, se necessário for. Espero que não seja necessário, e a gente parta para normalidade. Não estamos nela. Estamos longe dela".
Não! Não são os militares que decidem como o povo vai viver. Não na democracia. A decisão é desse próprio povo, que a expressa por intermédio da Constituição.
Não foram os militares que tiraram o uniforme dos civis; foram os civis que puseram um uniforme nos militares. E lhes deram o monopólio do uso da força, segundo regras.
Nem os miliares da ditadura ousaram afirmar tamanha estupidez. Ocorre que o presidente está sonhando com a intervenção militar.
Releiam a afirmação sobre "as quatro linhas da Constituição". Nem sentido faz. Seu superior no Exército, quando ainda era um tenente, apontou o seu esforço para ser um líder e a sua incapacidade para atingir esse objetivo em razão do excesso de ambição e da falta de pensamento lógico.
Vejam ali. Ora, tudo o que queremos, não é mesmo?, é que militares ajam "dentro das quatro linhas da Constituição" — e isso implica, pois, que não haverá nenhuma ameaça aos civis. Mas aí Bolsonaro emenda: "Espero que não seja necessário".
Opa! Ele espera que não seja necessário exatamente o quê? Agir dentro das quatro linhas?
Ocorre que aquilo que pretende dizer é o exato oposto daquilo que disse. Ele está convocando os militares a fazer uma intervenção, sob a sua liderança, rompendo as quatro linhas da Constituição.
Como não pode chamar golpe de "golpe", então sustenta que uma suposta intervenção armada estaria de acordo com a Constituição.
Atenção! Enquanto ele fazia esse discurso, André Mendonça, advogado-geral da União, redigia a Ação Direta de Inconstitucionalidade contra medidas restritivas em curso no Rio Grande do Norte, no Paraná e em Pernambuco. Pretende, na verdade, cassar de governadores e prefeitos a competência, que está na Constituição e que já foi reafirmada pelo Supremo, para implementá-las.
A fala aos militares vale como uma ameaça ao Supremo. Caso o tribunal resolva não lhe dar o que quer — e não vai —, então diz: "Quem manda são esses caras aqui".
Eis aí o nosso paladino da liberdade.