Texto baseado no relato de acontecimentos, mas contextualizado a partir do conhecimento do jornalista sobre o tema; pode incluir interpretações do jornalista sobre os fatos.
Flávio incita jogadores contra Tite; Bolsonaro pensa que Seleção é Exército
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Depois de humilhar o Exército e impor-lhe a impunidade ao general Eduardo Pazuello, Jair Bolsonaro quer agora demitir Tite, técnico da Seleção Brasileira, e nomear Renato Gaúcho para o posto. Quem vocaliza a iniciativa é o senador Flávio Bolsonaro (Patriotas-RJ), esse monumento moral na arte de colecionar imóveis.
Flávio gravou um vídeo em que chama Tite de "hipócrita" e aproveitou para contar algumas mentiras, já diligentemente espalhadas nas redes sociais pelo gado fiel.
A Família que governa o Brasil está insatisfeita com a contrariedade evidente de Tite em disputar a Copa América no Brasil, num momento de recrudescimento da covid-19. A insatisfação dos jogadores da Seleção também é grande, e há o risco de muitos se negarem a disputar o torneio. Tite mantém uma relação de diálogo com a sua equipe. É possível que haja um pronunciamento amanhã.
A direção da CBF já conversou com os jogadores, e o papo não foi considerado nada amistoso. Rogério Caboclo, afastado do comando da entidade sob a acusação de assédio moral e sexual, teria tratado os atletas como subordinados da CBF sem direito a voz. O clima piorou em vez de melhorar, e ninguém está surpreso com isso.
Flávio, já em campanha eleitoral, a exemplo do chefe da família, resolveu, acreditem, evocar o nome de... Lula. Eles só pensam nisso. Disse com aquela gramática que tão bem caracteriza a família:
"É um hipócrita porque a gente tem vários vídeos dele no passado onde ele faz referências, puxa um saco do ex-presidente Lula sem tamanho. Mas falou de Bolsonaro, ele fecha a cara e faz de tudo para boicotar."
Eu nem sei se Tite realmente fecha a cara quando se fala em Bolsonaro. Se o fizer, eis uma razão para simpatizar com o técnico.
Como sabemos, eles têm um modo de fazer política, e a mentira ocupa um lugar central no discurso. Disse:
"Seria perfeitamente possível de [a Copa América] ser realizada aqui, uma vez que nós já vacinamos mais de 70 milhões de brasileiros".
Não! Foram aplicadas pouco mais de 70 milhões de doses: de 48.734.903 receberam ao menos uma dose, e 22.896.108, as duas. Assim, o número de pessoas imunizadas é menos de um terço daquele anunciado pelo senador, o que corresponde a pouco mais de 11% da população.
Assim como a família Bolsonaro incita PMs contra governadores e oficiais de mais baixa patente contra generais, este brilhante pensador resolveu conclamar a rebelião dos jogadores contra Tite. Dirigiu-se diretamente a eles:
"Então, pessoal, faço um apelo especial aos jogadores da Seleção Brasileira. Não se deixem ser usados num momento como esse. Não abram mão de fazer o trabalho de vocês por qualquer razão que seja, porque hoje a pseudojustificativa é a Covid. Amanhã pode ser uma outra coisa com que vocês não concordem."
E aí houve por bem falar de corda em casa de enforcado. Ainda convocando os atletas, sugeriu que a Globo está por trás a reação:
"Conto com vocês para evitar que esse boicote aconteça ao Brasil por uma disputa política, uma disputa entre Globo e SBT."
Epa! É uma confissão. Talvez os jogadores da Seleção não saibam, mas Fábio Faria, ministro das Comunicações, um dos mais influentes junto ao presidente, é casado com Patrícia Abravanel, uma das herdeiras do SBT. Se essa emissora está, como diz Flávio, numa disputa política com a Globo, então é preciso que se rememore essa informação, certo?
Ah, sim, senhores jogadores: vejam a situação dos hospitais e das UTIs em boa parte do Brasil. Segundo Flávio, que não depende de hospitais públicos para se tratar, o sistema de Saúde está dando conta do recado.
Sabem como é... O presidente que agora quer demitir Tite já disse sobre a covid-19 em sua live:
"A morte é uma coisa que todo mundo, o óbvio, todo mundo vai passar por ela e não vai sentir"
