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Reinaldo Azevedo

ANÁLISE

Texto baseado no relato de acontecimentos, mas contextualizado a partir do conhecimento do jornalista sobre o tema; pode incluir interpretações do jornalista sobre os fatos.

Derrota é clara, mas "sim" supera expectativa, com vexame histórico do PSDB

Aécio Neves, deputado do PSDB, que se absteve em dia de vexame do PSDB. Isso é perder sentido de história e fazer pouco caso de um ataque evidente à ordem democrática - Marcos Oliveira/Agência Senado
Aécio Neves, deputado do PSDB, que se absteve em dia de vexame do PSDB. Isso é perder sentido de história e fazer pouco caso de um ataque evidente à ordem democrática Imagem: Marcos Oliveira/Agência Senado

Colunista do UOL

11/08/2021 00h34Atualizada em 11/08/2021 15h45

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5, 3, 2, 1... para Jair Bolsonaro sair por aí a dizer que, não fosse a interferência do Supremo — de Roberto Barroso, em particular —, e estaria reinstituído o terraplanismo eleitoral, com o voto impresso e o que ele chama de "contagem pública dos votos" — que já existe.

Arthur Lira (PP-AL), presidente da Câmara, conseguiu entregar o que queria: a derrota da PEC do voto impresso, que ficou muito longe dos 308 votos, mas com mais "sins" do que "nãos": 229 a 218. Ficaram faltando 79 votos. Imaginar que o STF, e um ministro em particular, tenha a maior de todas as bancadas na Câmara é delírio de pilantras. Mas, como eles mesmos diriam, não importa a verdade e sim a "narrativa".

Apenas PSL, Republicanos e Podemos fizeram encaminhamentos favoráveis ao voto impresso. Fosse assim, haveria apenas 95 deputados alinhados com a tese bolsonariana. Ocorre que aí entra o centrão...

Siglas identificadas com esse estado de espírito — além, claro, do Orçamento secreto... — liberaram suas respectivas bancadas: PP, PSC, PTB, Pros e Patriota, além do Novo. Embora o Solidariedade seja da turma, encaminhou voto contrário. O campo estava aberto para o trabalho de Ciro Nogueira, o novo ministro da Casa Civil. Ele pôde fazer por Bolsonaro o que o antigo titular da pasta, general Luiz Eduardo Ramos, não faria: virar votos em favor da tese amalucada. E isso aconteceu.

Desde o primeiro momento, adverti aqui e em meu programa de rádio, em que se decidiu levar a votação a plenário, o que é regimental, o objetivo era não levar uma lavada. Nogueira se impôs uma tarefa para mostrar serviço: arrumar mais "sins" do que "nãos" — e, se preciso, cuidar de algumas ausências. Assim, 449 parlamentares votaram. Com o presidente da Casa, que se abstém segundo o Artigo 17, 450 de manifestaram. Não deram as caras 63 deputados. A favor não eram, claro! Ou estariam lá para dizer "sim". Mas também não entram na cota dos contrários. Alexandre Padilha (PT-SP) consta como ausente, mas diz ter votado contra. Logo pedirão auditoria do voto eletrônico!!!

DESASTRE TUCANO
Querem um exemplo de desastre político e moral? Tomem o caso do PSDB, que conta com uma bancada de 32 deputados. Embora o partido tenha encaminhado voto contrário, o que se viu? Aécio Neves (MG) houve por bem se abster num dia em que Brasília foi palco de um desfile militar claramente intimidatório. A atitude não é compatível com quem disputou a Presidência da República e quase se elegeu. Ainda que ele próprio tenha recorrido contra o resultado então, as circunstâncias, agora, são outras. Comportamento desastroso. Não só o dele.

Ausentaram-se ainda entre os tucanos:
- Bruna Furlan (SP)
- Celso Sabino (PA)
- Danilo Forte (CE)
- Adolfo Viana (BA)
- Paulo Abi Akel (MG)

Disseram "sim" ao voto impresso:
- Bia Cavassa (MS)
- Celio Silveira (GO)
- Domingos Sávio (MG)
- Lucas Redecker (RS)
- Mara Rocha (AC)
- Mariana Carvalho (RO)
- Pedro Vilela (AL)
- Rose Modesto (MS)
- Rossoni (PR)
- Ruy Carneiro (PB)
- Sheridan (PR)
- Daniel Trzeciak (RS)
- Geovânia de Sá (SC)
- Edna Henrique (PB)

Vale dizer: nada menos de 20 dos 32 deputados tucanos evitaram dizer "não" a Bolsonaro: 1 abstenção, 5 ausências e 14 votos "sim". Estamos falando de 62,5% da bancada. E isso se dá num dia em que, simbolicamente, Brasília foi ocupada por tropas.

Isso reflete um possível braço de ferro entre Aécio e João Doria, governador de São Paulo e postulante à vaga de candidato do partido à Presidência? É possível. Além, claro, das articulações auriculares de Ciro Nogueira. Se é assim entre os tucanos, imaginem como não foi o trabalho junto aos partidos que constituem a base do governo.

De todo modo, se uma tentativa interna de resposta a Doria é dizer "sim" ao voto impresso ou se ausentar do embate no dia em que tanques desfilaram em Brasília, não estamos falando apenas de políticos que perderam o eixo: perderam também o sentido de história. Há gente pronta aí para integrar a base bolsonarista num eventual segundo mandato.

Previa-se que o voto impresso teria em torno de 200 votos. O número foi superior e se logrou o intento de livrar Bolsonaro de uma derrota muito humilhante. Com o que colaborou o PSDB, seja lá o que essa sigla signifique hoje em dia.

De todas as vergonhas desta terça, essa foi a maior.

Doria, note-se, posicionou-se contra o voto impresso: assim fizeram 12 deputados do PSDB. O resultado indica a batalha que o governador de São Paulo tem pela frente. Mas aponta também uma sigla que deixou seu umbigo se confundir com os destinos na nação.

Um vexame histórico.