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Reinaldo Azevedo

ANÁLISE

Texto baseado no relato de acontecimentos, mas contextualizado a partir do conhecimento do jornalista sobre o tema; pode incluir interpretações do jornalista sobre os fatos.

Pacheco e Alcolumbre defendem as instituições ao pôr Mendonça na geladeira

Rodrigo Pacheco e Davi Alcolumbre: o atual presidente do Senado e o ex, hoje à frente da CCJ, fazem a coisa certa - Divulgação/Senado
Rodrigo Pacheco e Davi Alcolumbre: o atual presidente do Senado e o ex, hoje à frente da CCJ, fazem a coisa certa Imagem: Divulgação/Senado

Colunista do UOL

18/08/2021 05h07

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Não se trata de procrastinação, mas de cautela. Fazem bem o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), e da CCJ na Casa, Davi Alcolumbre (DEM-AP), em postergar a sabatina de André Mendonça na comissão — e, pois, a submissão de seu nome ao plenário da Casa, rumo à vaga que está aberta no Supremo. Gente que conhece aquele colegiado de 81 parlamentares assegura que, hoje, ele não obteria os 41 votos necessários para ter um dos 11 assentos do tribunal. Em certa medida, a demora é útil para o candidato, mas ela se dá à revelia dele próprio e de Bolsonaro. Ao contrário: há nisso um recado.

Tanto Pacheco como Alcolumbre emitem um claro sinal ao presidente da República de que estão descontentes com a sua decisão de estruturar a pré-campanha à reeleição promovendo uma guerra contra o Supremo — que o "Mito" de si mesmo insiste em dizer que se resume a dois ministros: Alexandre de Moraes e Roberto Barroso. Bem, todos sabem que isso é falso: esses são os dois da hora; amanhã, viriam outros. Ademais, em situações assim, mexeu com um — no caso, dois —, mexeu coma instituição.

Soa, quando menos, impróprio que autoridades da Casa criem as facilidades necessárias para levar Mendonça para o Supremo — um nome da cozinha de Bolsonaro — quando o chefe do Executivo promove uma verdadeira guerra contra dois membros da Corte. E, por óbvio, a acusação de que cometeram crimes não passa de fantasia.

O presidente está descontente com Barroso em razão do insucesso de sua empreitada em favor do voto impresso. Não custa lembrar: o ministro nem dispõe de Orçamento secreto para comprar votos, não é mesmo? Se o troço não passou, não se pode imputar a responsabilidade ao magistrado. A acusação de que o ministro cabalou votos contra a PEC é uma sandice. Ouvido na Câmara, disse o que pensava. Qual a alternativa? E há ainda o inquérito administrativo aberto no TSE contra Bolsonaro, o que também move a sua fúria.

O caso com Moraes envolve a penca de crimes cometidos pelo próprio presidente e por alguns de seus aliados, que são investigados em inquéritos que estão sob a relatoria do ministro. Bolsonaro passou a figurar como investigado naquele das "fake news", a pedido do TSE, depois da sua live criminosa. Também é alvo de outra investigação relativa ao vazamento de inquérito sigiloso. E Moraes ainda é relator da investigação sobre suposta interferência indevida na PF.

EM VEZ DE POLÍTICA, GUERRA
Como é de seu estilo, Bolsonaro não faz a confrontação política. Bota a sua cachorrada para tentar destruir a reputação de seus alvos da hora -- já fez isso até com aliados convertidos em inimigos -- e sai por aí a distribuir ameaças de golpe. Resolveu envolver o Senado na sua luta ensandecida contra os dois magistrados ao afirmar que levaria pessoalmente as denúncias ao presidente da Casa. Vale dizer: para ele, quanto mais conflito, melhor.

Nesta terça, Pacheco deixou claro que não há a menor possibilidade de ele pôr para tramitar eventuais pedidos de Bolsonaro e outros que estão por lá. Se o combate de Arthur Lira ao golpismo tem sido, até agora, mera retórica, há senadores que estão efetivamente empenhados em refrear o golpismo. E um dos modos é congelar as indicações que passam pelo Senado: tanto a de Mendonça como a recondução de Aras para o comando do Ministério Público da União — e, pois, da vital PGR.

ARAS NO SUPREMO?
Há quem especule que Alcolumbre preferiria Aras no lugar de Mendonça e que a decisão de cozinhar em banho-maria as duas indicações seria uma manobra com esse intuito. Não é.

Para começo de conversa, a esmagadora maioria preferiria Aras a Mendonça, com algumas poucas exceções de senadores ainda apegados ao "fetiche da destruição", que é a Lava Jato. Mas não. Isso não é mais do que uma lateralidade. E, como sabem, este que escreve considera as duas opções catastróficas. Alcolumbre já comentou com interlocutores que não lhe cabe facilitar o caminho de um indicado de Bolsonaro ao Supremo quando o próprio presidente da República trata publicamente o tribunal como inimigo.

As pretensões do presidente são mais do que claras a esta altura, vocalizadas por ele próprio e por seus seguidores. A intenção é não reconhecer o resultado das urnas se este não lhe for favorável. E, para tanto, o que se tem é mesmo incentivo à insurreição.

Lira, reitero, não tem avançado além da retórica pastosa na defesa das instituições. Isso precisa ter uma dimensão prática. E, como se nota, pouco se pode esperar do Ministério Público Federal depois que doutora Lindora Araújo considerou que a criança de cujo rosto Bolsonaro retirou a máscara e a outra que o fez por conta própria, instada pelo presidente, pareciam bastante felizes...

Que Pacheco e Alcolumbre liderem no Senado a defesa das instituições.