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Reinaldo Azevedo

ANÁLISE

Texto baseado no relato de acontecimentos, mas contextualizado a partir do conhecimento do jornalista sobre o tema; pode incluir interpretações do jornalista sobre os fatos.

XP-Ipespe: Lula venceria todos; Bolsonaro, é possível, perderia para todos

Reprodução/XP-Ipespe
Imagem: Reprodução/XP-Ipespe

Colunista do UOL

18/08/2021 07h27

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A pregação golpista de Jair Bolsonaro, como sabemos, vive o seu auge. Todas as apostas de que ele iria refrear o discurso delirante deram com os burros n'água. Basta ver a humilhação política a que ele submete Arthur Lira (PP-AL), presidente da Câmara, que se mostra, a cada dia, uma figura menor. O presidente abre as burras do Orçamento secreto, mas exige rituais de desmoralização. Pois bem... Usualmente se diz que ele age assim pensando nas eleições. Pois é... Será que está dando certo?

Até agora, aponta pesquisa Ipespe/XP, divulgada nesta terça, a resposta é não. Ao contrário: o auge do golpismo coincide com uma piora nos números ao menos, ainda que os patamares sejam os mesmos de julho. Uma boa síntese pode ser esta: Lula venceria todos os adversários, e Bolsonaro, provavelmente, perderia para todos. Foram realizadas 1.000 entrevistas, de abrangência nacional, entre os dias 11 a 14 deste mês. A margem de erro é de 3,2 pontos percentuais para mais ou para menos.

OS NÚMEROS
Na votação espontânea, Lula oscilou 3 pontos para cima em relação ao mês passado e aparece, agora, com 28%. Bolsonaro conserva os 22%. Os demais candidatos somam 6%. Dizem ainda não ter escolhido um nome 33%, e 11% afirmam não saber ou votar nulo ou em branco.

Num dos cenários da pesquisa estimulada, o petista aparece na liderança isolada, com 40% (38% no mês passado). Bolsonaro oscilou para baixo: de 28% para 26%. Ciro Gomes (PDT) preserva os 10%. Sergio Moro (sem partido) fica com 9%; Luiz Henrique Mandetta (DEM), com 4%; Eduardo Leite (PSDB), 4%, e 9% dizem não saber ou votariam em branco ou nulo.

Num segundo cenário, Lula marca 38%, e Bolsonaro 28%. Ciro vem em terceiro, com11%. Na sequência, estão João Doria, Mandetta e Datena, todos com 5%. Rodrigo Pacheco aparece com 1%, e também 9% ou não sabem ou não escolheriam ninguém.

O SEGUNDO TURNO
Lula venceria com folga todos os outros postulantes. Derrotaria Bolsonaro por 51% a 32%. Há um mês, eram 49% a 35%. A diferença aumentou. Bateria ainda Moro (49% a 34%), Eduardo Leite (51% a 22%), Ciro Gomes (49% a 31%; há um mês, 45% a 30%). Não se fez a simulação contra João Doria. Não entendi a razão.

Se Lula vence a todos, é bem provável que Bolsonaro perdesse de todos, ainda que as diferenças estejam dentro da margem de erro. Ciro abre 12 pontos contra o presidente: 44% a 32%. Moro marca 36% a 30%. Doria ficaria com 37%, contra 35% do atual presidente. Também Leite aparece numericamente à frente: 35% a 33%. Essas três últimas simulações teriam um número brutal de eleitores que não votariam em ninguém,

AVALIAÇÃO
Ainda que tenha oscilado dentro da margem, tudo indica que o prestígio do governo está em deterioração. Consideram a gestão de Bolsonaro ruim ou péssima 54% dos ouvidos (eram 52% em julho). Ela é regular para 25%. E só 20% dizem ser boa ou ótima. O descontentamento com a economia é patente. Para 63%, ela está no rumo errado -- eram 60% há um mês. Só 27% dizem que é o caminho certo (antes, 30%).

E não! A obsessão de Bolsonaro foi incapaz de empurrar a maioria para o voto impresso. Nada menos de 58% se dizem contrário ao dito-cujo, contra 36% que se manifestam a favor — e, por óbvio, isso não quer dizer que acreditem haver fraude.

VOLTEMOS AO PONTO
Vocês já sabem qual é a aposta principal de Bolsonaro: golpe. Não haverá -- o que não quer dizer que o país esteja livre de graves conflitos se ninguém contiver a pregação ensandecida do presidente. Seus aliados apostam suas fichas na melhoria da economia e no novo Bolsa Família.

Quanto a economia precisa melhorar para mudar efetivamente a vida de muitos milhões, incluindo os desempregados que Paulo Guedes atribui aos erros de metodologia do IBGE? Pois é. Há ainda a inflação que tem se negado a voltar para a casinha. Ela é especialmente alta nos alimentos, o que corrói a qualidade de vida dos mais pobres.

A ideia de gênio de Paulo Guedes e de Onix Lorenzoni para o mercado de trabalho é precarizar ainda mais as relações trabalhistas, com contratações que excluiriam até mesmo vínculos com o INSS. Traz votos?

Há uma outra aposta: o governo pretende dar um calote dos precatórios para liberar recursos para a ampliação do Bolsa Família, rebatizado de Auxílio Brasil. Vai acontecer? Quem tiver bola de cristal que o diga.

Uma coisa a pesquisa Ipespe/XP evidencia quando se comparam dados da série histórica desse levantamento: o golpismo de Bolsonaro contribui para corroer a sua popularidade, não o contrário. Cada vez mais, fala para convertidos.