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Pesquisa: Lula no 1º turno; Moro imbatível só no colunismo do nariz marrom
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Será que o pré-candidato Sergio Moro (Podemos) decola e tira Jair Bolsonaro (PL) do segundo turno? Há uma coisinha aqui e outra ali a dar esperança a seus fiéis, mas, por enquanto, isso é mais desejo do que realidade. Se as eleições fossem hoje, é bem provável que o petista Luiz Inácio Lula da Silva vencesse no primeiro turno. Ao menos é o que evidencia pesquisa Genial/Quaest divulgada nesta manhã. As entrevistas foram feitas entre os dias 2 e 5 de dezembro. A margem de erro é dois pontos para mais ou para menos.
PRIMEIRO CENÁRIO
Nem sempre os mesmos cenários são testados -- o que impede a comparação de dados. Às vezes, acontece. Vamos ver. Se Moro aparece como o nome da tal "terceira via", sem João Doria (PSDB), mas com Ciro Gomes (PDT), o resultado, neste mês, é este:
- Lula: 47%
- Bolsonaro: 24%
- Sergio Moro: 11%
- Ciro Gomes: 7%
- Brancos/ nulos/ não votam: 7%
- Indecisos: 4%
Os adversários do petista somam 42%, e ele tem 47%. A tendência seria se eleger no primeiro turno. Aliás, essa possibilidade existe em todos os cenários.
Essa mesma disposição foi testada há dois meses, em outubro. Vejam:
- Lula: 44%
- Bolsonaro: 24%
- Sergio Moro: 10%
- Ciro Gomes: 9%
- Brancos/Nulos/ não votaria: 9%
- Indecisos: 3%
Reparem: Lula cresceu de outubro para dezembro. Sergio Moro oscilou apenas um ponto percentual para cima, e Ciro Gomes variou dois para baixo. Ninguém transita na imprensa com tanta desenvoltura como o ex-juiz ou é tão incensado. Até agora, sobre ele, apenas notícias positivas. Sem contar os especialistas em panegíricos. Os números seguem, no entanto, no padrão de há dois meses.
Simulação idêntica não foi feita no mês passado.
SEGUNDO CENÁRIO
E com todos os pré-candidatos? Qual seria o resultado em dezembro?
- Lula: 46%
- Bolsonaro: 23%
- Sergio Moro: 10%
- Ciro Gomes: 5%
- João Doria (PSDB): 2%
- Rodrigo Pacheco (PSD): 1%
- Luiz Felipe D'Ávila (Novo): 1%
- Brancos/Nulos/ Não votaria: 7%
- Indecisos: 5%
Atenção! Em novembro, cenário idêntico foi apresentado ao eleitor, com este resultado:
- Lula: 48%
- Bolsonaro: 21%
- Sergio Moro: 8%
- Ciro Gomes: 6%
- João Doria: 2%
- Rodrigo Pacheco: 1%
- Luiz Felipe D'Ávila: 0%
- Brancos/Nulos/ Não votaria: 10%
- Indecisos: 4%
Observem que a adesão maciça de setores da imprensa a Moro e um ciclo de notícias positivas como jamais se viu não alteraram substancialmente os números. Talvez se possa falar de um discreto movimento do eleitorado de Ciro para Moro. Mas é cedo para dizer. Não é possível fazer a comparação com outubro.
TERCEIRO CENÁRIO
Um terceiro cenário foi simulado, mas é de tal sorte irrealista que não merece considerações. Nesse caso, nem Moro nem Doria disputariam, e os nomes alternativos a Lula (48%) e Bolsonaro (27%) seriam Ciro (8%) e Pacheco (2%). Parece-me que a especulação não serve nem mesmo para informar algum dado subterrâneo da opinião pública.
QUARTO CENÁRIO
E se Doria for o candidato da terceira via conservadora, não Moro? Vejam os números neste dezembro:
- Lula: 47%;
- Bolsonaro: 27%
- Ciro: 7%;
- Doria: 5%
- Branco/Nulo/Não votaria: 9%
- Indecisos: 5%
Em outubro, com esta mesma composição, estes eram os números:
- Lula: 45%
- Bolsonaro: 26%
- Ciro: 10%
- Doria: 6%
- Branco/Nulo/Não votaria: 10%
- Indecisos: 3%
Novembro não simulou tal cenário.
CONSIDERAÇÕES SOBRE O PRIMEIRO TURNO
O que se pode concluir sobre essa rodada de primeiro turno da pesquisa Quaest/Genial, quando se cotejam os dados com simulações idênticas em pesquisas passadas? Moro avançou um tantinho como um nome da terceira via conservadora, mas o movimento ainda é discretíssimo. É incompatível com o barulho do noticiário e do colunismo do nariz marrom.
Doria colhe um resultado muito ruim no levantamento, especialmente porque venceu as prévias do PSDB no dia 27 do mês passado. Se os números da pesquisa forem fiéis à realidade, isso não teve impacto nenhum no eleitorado. Não até agora ao menos.
SEGUNDO TURNO
Se a eleição fosse hoje, Lula venceria todas as simulações de segundo turno. Bateria Bolsonaro por 55% a 31%. No mês passado, 57% a 27%. Em outubro, 53% a 29%. Em três meses, os que anulariam, votariam em branco ou nem compareceriam marcaram, respectivamente, 15%, 13% e 11%.
O petista derrotaria Sergio Moro por 53% a 29%. Em novembro, mês que marca a melhor performance do ex-presidente, eram 57% a 22%. Em outubro, 52% a 26%. Os votos inválidos ou ausentes ficaram em 19% e 15%.
O candidato do PT marcaria 54% a 21% contra Doria — 58% a 13% em novembro e 54% a 16% em outubro. O total de votos inválidos e de que gente que declara que não votaria seria enorme. De outubro para cá, 27%, 26% e 26%.
Ciro Gomes se sobreporia a Bolsonaro por 39% a 34%. Não se fez tal simulação nos dois meses anteriores. Os brancos e nulos seriam 23%.
E um confronto direto e improvável entre o presidente e seu ex-ministro da Justiça? Ficariam em empate técnico, com Moro numericamente à frente: 34% a 31%. Os que anulariam ou nem quereriam saber da eleição chegariam perto de um terço do eleitorado: 30%.
CONSIDERAÇÕES SOBRE O SEGUNDO TURNO
Em relação a novembro, quando Lula teve a sua melhor performance, há um encurtamento significativo da distância entre o petista e seu algoz: de 35 pontos (57% a 22%) para 24 (53% a 29%). Mas que se note: os índices de agora são praticamente iguais aos de outubro, quando a diferença ficou em 26 (52% a 26%). O valo é gigantesco.
Ainda que a performance do ex-juiz não seja meteórica, como gostariam alguns, é evidente que ele começa a se destacar não propriamente como alternativa para vencer o petista — ao menos não ainda —, mas como um nome possível disso a que mal chamam terceira via.
É a primeira pesquisa que vem a público depois que João Doria venceu as prévias do PSDB. Os números não são bons para o governador de São Paulo. E certamente terá de enfrentar o assédio daqueles que gostariam de vê-lo desistir em favor de Moro.
É claro que é muito cedo para esse tipo de conversa. Mas, como já deixei claro aqui, é evidente que o tucano é hoje o principal alvo da estratégia morista. Nota-se que Ciro também sofre algum prejuízo com o lançamento da candidatura do ex-ministro. Mas, nesse caso, não se vislumbra composição possível.
Um arguto analista de pesquisas aponta que Moro, com efeito, tem potencial para inviabilizar outros nomes desse campo que não é "nem Lula nem Bolsonaro". Mas falta muito para que consiga tomar do presidente a segunda vaga no segundo turno — se houver segundo turno.
Vejam, a propósito, o primeiro cenário testado. Mesmo quando o ex-juiz aparece como o nome único da direita alternativa a Bolsonaro, ele marca apenas 11 pontos, contra 24 do seu ex-chefe. No mês passado, antes do noticiário frenético que o endeusa, eram 10.
Quem disputa eleições tem sempre de estar atento aos movimentos das placas tectônicas de opinião. Uma coisa é certa: por ora, só Lula pode dormir um sono relativamente tranquilo.
Sobre a pesquisa, leia também: Moro é o segundo nome mais rejeitado; 61% dizem que o conhecem e não votariam nele.