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Reinaldo Azevedo

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Pesquisa Quaest 2: Silveira e ataque a urnas são tiros no pé de Bolsonaro

Genial-Quaest-Reprodução
Imagem: Genial-Quaest-Reprodução

Colunista do UOL

11/05/2022 07h02

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Se dependesse de alguns, como chamar?, "analistas", o presidente Jair Bolsonaro já poderia estar comemorando uma possível vitória no primeiro turno. Por enquanto ao menos, a possibilidade de levar a taça de primeira está com o petista Lula da Silva — ainda que eu não aposte nisso. Acho que o embate será duro.

Mas por que faço essa observação? Porque se produziram muitos quilômetros de texto confundindo desejo com fato, torcida com análise. Alguns por antipetismo somado a bolsonarismo enrustido, e outros por "isentismo", que é a necessária isenção transformada num vício, num maneirismo.

Explico!

O mundo ameaçou desabar sobre a cabeça de Lula quando ele afirmou que Zelensky, o presidente da Ucrânia, não é exatamente uma pessoa que milita em favor de uma saída para a guerra. "Erro!" "Mais um!" "Depois do aborto, agora a Ucrânia!" "Há ainda a gafe sobre policiais!" "Lula tropeça!"

Ah, sim! Sugiro que o "zelenskyanismo" leia artigo do insuspeito de putinismo Thomas Friedman. Como um bom patriota, pensa nos interesses americanos e acha que a coisa está indo longe demais. E pede que se desconfie um tantinho do ator ucraniano. Está mais próximo do que disse Lula do que de pensadores brasileiros que seriam bons patriotas... americanos. Mas volto ao ponto.

O "caos" que anteviram na campanha de Lula passou longe da vontade expressa pelo eleitorado nas pesquisas — e não é diferente com a divulgada nesta quarta. Ao contrário: nesta jornada ao menos, Lula fica até mais perto de vencer a disputa no primeiro turno do que no mês passado. Fosse como diziam, teria despencado nas intenções de voto. Isso não quer dizer, é evidente, que eu ache que se pode sair por aí a dizer qualquer coisa.

Entendo, ademais, que o pré-lançamento da candidatura de Lula, num discurso concatenado com o de Geraldo Alckmin, o vice, foi muito bem-sucedido. Certamente não escapou ao eleitorado. Essa questão em particular é especulação porque não há na pesquisa pergunta que autorize uma afirmação. Mas dá, sim, para sustentar que o caos que se anunciou não veio, certo? Desejo. Torcida. Isentismo.

BOLSONARO E SILVEIRA
Já o perdão concedido por Bolsonaro a Daniel Silveira -- e, mais uma vez, houve uma turminha que preferiu mesmo fazer mira no STF -- foi lido por alguns de nossos "analistas" como uma sacada esperta, já que o STF também não estaria entre os campeões de afeto no coração dos brasileiros...

Pois é... Ocorre que há certos arroubos do "Mito" que valem por uma pregação a convertidos. E foi esse o caso. Bolsonaro — e escrevi isto aqui — falou para a sua turma. Sim, era método na loucura, como de hábito. A patuscada, no entanto, foi rejeitada por quem não pertence à seita. E isso a pesquisa Genial-Quaest captou.

Dizem que Bolsonaro acertou em conceder a graça a Silveira 30% dos ouvidos. Para 45%, foi um erro. Como o esperado, a apreciação negativa salta para 65% entre os eleitores de Lula; nesse grupo, só 14% apoiam a decisão. Já os de Bolsonaro defendem, em sua maioria, a medida: 64%. Ainda assim, há 17% que discordam.

Ora, todos sabemos que, para ganhar a eleição, Lula precisará de não lulistas, e Bolsonaro, de não bolsonaristas, certo? Pois é: entre aqueles que dizem que não votarão nem em um nem em outro, o perdão a Silveira caiu muito mal: 54% o rejeitaram, e só 17% o aprovaram.

Disseram que, apesar do caso, continuam a votar no atual mandatário 28% dos ouvidos, e há 7% que até poderiam fazê-lo por isso. Mas notem: 45% seguem não votando, e 12% veem diminuir a chance de fazê-lo em razão do perdão. Isso, sim, é um erro.

URNAS ELETRÔNICAS
Bolsonaro voltou a exacerbar a retórica golpista tendo as urnas eletrônicas como pretexto -- e com apoio de parte dos milicos.

Mais uma vez, convém prestar atenção aos números, que podem ajudar a explicar a sua possível estagnação — além do preço do tomate...

De setembro do ano passado para cá, caíram de 27% para 22% os que não confiam nas urnas — menor do que o eleitorado bolsonariano. Confiavam muito 41%; agora, 40%. Passou de 27% para 35% os que confiam "um pouco, mais ou menos".

Mas notem: mesmo entre os eleitores de Bolsonaro, só 36% dizem não confiar — 23% confiam muito, e 40% um pouco. Entre os que votam em Lula, 49% confiam muito, e 31%, um pouco. Só 16% desconfiam da coisa. Ocorre que, entre os eleitores que rejeitam os dois, as urnas gozam de prestígio: a desconfiança é de apenas 18% — 45% confiam muito, e 34% um pouco.

Cansei de ler o papo-furado de que Bolsonaro havia conseguido, digamos, ajeitar o seu discurso. Lula, por sua vez, teria perdido o rumo. Não é o que os números mostram.

E ainda há o preço do tomate...