Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Vida ou morte
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Leiam trechos da minha coluna na Folha desta sexta:
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"Viver é muito perigoso: sempre acaba em morte". É uma das falas-pensamento de Riobaldo, em "Grande Sertão: Veredas", de Guimarães Rosa. Como citação esparsa, costuma-se omitir a segunda oração porque a primeira, isolada, empresta à reflexão um acento entre existencialista e metafísico. Falaria à humanidade, não ao indivíduo. Não deixa de ser uma daquelas boas traições ao texto original. O fatalismo cru na finitude --"acaba"-- cede a "viver", a forma nominal do verbo, que não tem tempo. A vida como um bem não fungível, que não se gasta e existe em outro plano além deste -- em que, morrendo, nos esgotamos --, está na origem de todas as religiões. Pessoas morrem ao atravessar, distraídas, uma rua. Ou engasgam com um pedaço de carne. Ou podem ser fulminadas por um último superlativo besta --"Lindíssimo!"--, a exemplo de José Dias, o agregado da casa de Bentinho, em "Dom Casmurro". E pronto. Entram no reino do nunca mais. A vida sempre acaba em morte. Jair Bolsonaro tentaria emporcalhar meu parágrafo, discursando sobre uma montanha de cadáveres: "Todo mundo morre um dia". "Tem que deixar de ser um país de maricas".
(...)
Já escrevi neste espaço que, na eleição de outubro (se houver), a neutralidade entre a corda e o pescoço será necessariamente corda e que a polarização, esse termo quase sempre mal-empregado, se dá entre democracia e não democracia. Atualizo. Haverá uma disputa entre a vida e a morte. A primeira comporta um leque infinito de divergências. A outra é um "estado de sítio permanente", para lembrar de novo Machado de Assis. Que a memória da luta do indigenista Bruno Araújo Pereira e do jornalista Dom Philipps colabore para que a vida vença o reino da morte no Brasil. Para que voltemos a ter direito à sorte e à roda da Fortuna rosianas.
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