Topo

Reinaldo Azevedo

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Na Folha: Cartas lidas na USP evidenciam que o país despertou de um choque

Público acompanha na parte externa a leitura dos manifestos pela democracia na Faculdade de Direito da USP, no Largo de São Francisco - Eduardo Knapp/Folhapress
Público acompanha na parte externa a leitura dos manifestos pela democracia na Faculdade de Direito da USP, no Largo de São Francisco Imagem: Eduardo Knapp/Folhapress

Colunista do UOL

11/08/2022 22h20

Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail

Email inválido

Leiam trechos do meu artigo na Folha de amanhã, que já está disponível na edição online do jornal.
*
A leitura das cartas em defesa das liberdades, nesta quinta (11), marca um momento notável da história brasileira. Começamos, como país, a renascer de um desastre civilizatório. Brotam esperanças na terra crestada. E isso implica reconhecer que há destruição e cinzas. Qualquer que seja o resultado da eleição de outubro, viveremos dias atribulados. Não haverá o descanso à sombra depois da batalha. Se Bolsonaro vencer, tentará, pela via legislativa, destruir uma democracia já lanhada, buscando emparedar o Supremo. Se o vitorioso for Lula, seus eventuais erros serão o menor dos nossos problemas. A extrema-direita continuará a atacar as instituições.

Defendi, como sabem, desde a primeira hora, que os desiguais se juntassem em favor daquilo que lhes permite serem quem são: o regime de liberdades e de triunfo da lei sobre a vontade dos mais fortes. Sou signatário inicial da "Carta às Brasileiras e aos Brasileiros em Defesa do Estado de Direito", que mereceu leitura solene na São Francisco e outras faculdades e universidades Brasil afora. Cobrei aqui com dureza o capital: a ditadura lhes serve? E, por isso, saudei com entusiasmo o documento "Em Defesa da Democracia e da Justiça". O capital está lá. Mas também os trabalhadores, os cientistas, os defensores dos direitos humanos e os ambientalistas. Na terra dos 700 mil mortos de doença, de susto, de bala, de vício, de desídia e delinquência praticadas por um governo fanaticamente criminoso, surge uma vereda. Parece ter acordado aquele bem imaterial, sempre intangível, mas que pode operar prodígios: a sociedade civil. Estávamos todos aterrados pela estupefação, pelo choque e pela incredulidade. Era como se nos disséssemos: "Não é possível! Isso não está acontecendo!" E, no entanto, estava e está.

Fanfarrão Minésio tripudia sobre corpos pretos com ainda mais armas. Ironiza as vítimas da Covid, escarnecendo de pessoas sufocadas por falta de oxigênio. Impregna a fé de milhões com obscurantismo e faz pouco caso da ciência. Condena, em suma, o país a morrer ensimesmado em suas "vastas solidões". E na gente, como em "Rosa dos Ventos", de Chico Buarque, deu o hábito "De caminhar pelas trevas/ De murmurar entre as pregas/ De tirar leite das pedras/ De ver o tempo correr". Mas, quero crer, despertamos a tempo. Não na forma de um estrondo ou de uma "explosão atlântica" --porque os tempos não comportam mais disrupções, libertadoras ou não--, mas de suspiros organizados com calma, com método, com racionalidade.
(...)
Íntegra aqui