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Reinaldo Azevedo

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Coluna na Folha: Bolsonarismo nos devolve à terra dos contrastes primitivos

Brasil verde-amarelo: faminto vasculha caminhão de ossos no Rio em busca de alguma proteína para matar a fome, que, segundo o gênio que nos governa, não é assunto assim tão grave - Domingos Peixoto/Agência O Globo
Brasil verde-amarelo: faminto vasculha caminhão de ossos no Rio em busca de alguma proteína para matar a fome, que, segundo o gênio que nos governa, não é assunto assim tão grave Imagem: Domingos Peixoto/Agência O Globo

Colunista do UOL

02/09/2022 07h21

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O governo Bolsonaro nos devolveu às contradições e aos contrastes os mais primitivos. A economia ganhou um suspiro em razão da liberação pré-eleitoral de recursos e da alta das commodities pós-retomada da economia mundial, até que venha a ser alvejada pelas sucessivas elevações de juros -"as consequências vêm sempre depois"- e pelo risco de recessão global. De toda sorte, é um alento para uma parcela de brasileiros ao menos. Os pobres "ficaram esfaimando" (apud Gregório de Matos) porque não tinham como enfrentar a inflação de alimentos, decorrente da alta demanda internacional pós-pandemia -que ajudou a fabricar "a alegria" do PIB, mas contribuiu para produzir fome e elevar a Selic, que vai cobrar seu preço em baixo crescimento, o que, por sua vez, pune muito especialmente os pobres. É um mecanismo que exclui os excluídos de sempre.

Não tenho a menor ideia se o crescimento do PIB "acima do esperado" no segundo trimestre vai ter impacto importante na eleição. Os números do Datafolha só serão conhecidos depois do fechamento desta coluna. A elevação temporária de R$ 200 no Bolsa Família ("Auxílio Brasil" é bolsonarês), segundo outros levantamentos, não surtiu, até agora, entre os mais pobres, o efeito na intensidade esperada. Podem ter evitado (e nunca se saberá) números ainda piores para Bolsonaro. A pesquisa Genial-Quaest captou até certa irritação de parte importante do eleitorado com medidas na boca da urna. Para surpresa de ninguém, governistas estão aplaudindo em êxtase o crescimento e anunciando amanhãs sorridentes, na certeza de que Paulo Guedes, como ele mesmo sugere, descobriu a Pedra Filosofal da economia. Na sua formulação, o mundo vai entrar em recessão, e o Brasil vai ter um ciclo longo de crescimento -uma coisa, assim, solitária, decorrente da sua genialidade. O acontecimento único poderia ser batizado de "Partenogênese do Crescimento", que não depende de outros parceiros.
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