Neste Natal e rumo a 2024, a certeza de que dias melhores já vieram e virão
Quando a imprensa tem responsabilidade, reconhece esforços e resultados invulgares, como se dá com o governo Lula. "The Economist", insuspeita de simpatia pelo comunismo e mesmo por esquerdismos mais suaves, sustenta que três países se destacaram neste ano que termina: Brasil, Grécia e Polônia.
A revista britânica afirma que Lula restaurou a normalidade democrática e chama a atenção para a redução do desmatamento na Amazônia. Nota que o petista sucede a "quatro anos do populismo mentiroso de Jair Bolsonaro, que espalhou teorias conspiratórias, paparicou policiais matadores, apoiou fazendeiros que incendeiam florestas, recusou-se a aceitar a derrota eleitoral e encorajou seus devotos a tentar uma insurreição".
Desde 2013, a "Economist" escolhe "O País do Ano", entendido como "o lugar [do mundo] que melhorou mais". O, por assim dizer, "prêmio" estava destinado ao Brasil, mas a distinção não veio em razão do tratamento, considerado excessivamente lhano, dispensado por Lula a Vladimir Putin e a Nicolás Maduro — crítica que não me parece despropositada, ainda que eu mantivesse a distinção, que ficou com a Grécia, se me fosse dado decidir.
Tão relevante como combater o golpismo e recuperar isso a que o texto chama "normalidade", são as conquistas econômicas, que alguns especialistas na própria opinião consideravam impossíveis.
Mesmo com um Congresso, em princípio, hostil, Lula conseguiu se articular para aprovar o novo arcabouço fiscal e a reforma tributária e começou a desmontar o hospício em que se juntam desonerações, regimes especiais de tributação e a pura, simples e descarada sonegação.
Defesa das instituições e encaminhamento de questões (re)estruturantes da economia se deram enfrentando uma oposição que jamais aderiu a práticas consagradas pela política. Ao contrário: tem sido necessário, no Parlamento e nas redes sociais, enfrentar uma horda de sabotadores: em vez de propostas alternativas, a pura e simples recusa ao debate; em vez da crítica qualificada, o achincalhe, o ódio, o preconceito, a apologia da barbárie; em vez da defesa do interesse nacional, uma espécie de espírito de milícia sempre à caça dos adversários.
É importante que uma publicação de alcance mundial reconheça, pois, o feito nada corriqueiro em curso. Talvez esteja a faltar à imprensa nativa não a generosidade — porque não é disso que se cuida —, mas uma escala mais clara de valores para reconhecer que há algumas escolhas civilizatórias que dispensam a controvérsia. Acolhê-las não implica submissão a um governo, a um partido, a uma corrente de pensamento. Jamais esperem deste escriba que se declare isento no confronto entre a democracia e a sua negação.
A "Economist" fez, a meu modo, o que fiz aqui. Olhou o lugar — e a lama ideológica e moral — em que estávamos em 2022 e a cotejou com o que se tem agora. O juízo comparativo é importante porque indica evolução ou involução. Mas também é imperioso que se atente para a qualidade da mudança. A reforma tributária, por exemplo, a despeito dos desafios que estão por vir, avançou 50 anos em um.
Nesta véspera de Natal e rumo a 2024, com os votos de sempre e de rigor por dias melhores, observo: jamais incluam entre as favas contadas os direitos fundamentais garantidos pelo regime democrático. Se nos descuidarmos, a coisa desanda. O ódio costuma ser mais fiel do que o amor. E continua à espreita.
"O presente é tão grande, não nos afastemos/ Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas."
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