Reinaldo Azevedo

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Opinião

Uma data para a prisão de Bolsonaro? Que tal 26 de fevereiro? Digo por quê

Parece que Jair Bolsonaro quer ser preso. Sendo assim, está no caminho certo. E aqueles que, no seu entorno, o estimulam a levar adiante a tal manifestação do dia 25 contra o Supremo, tudo indica, têm a intenção de usá-lo como um "mártir". Na cabeça dos valentes, isso seria um ativo eleitoral já neste ano. Para quem costuma dizer que "a liberdade é mais importante do que a vida" — lema que foi usado na campanha contra as vacinas —, o "Mito" evidencia não levar a sério nem suas convicções tortas. Está a um passo de preservar a vida, secundária para ele (e que seja longa para pagar por tudo!), perdendo o que considera o bem mais precioso. Explico.

Aliados e simpatizantes às pencas do ex-presidente aos quais resta algum juízo estão tentando convencê-lo a desistir da porra-louquice. Ele ouve as contraditas, mas, até agora, se mostra irredutível, numa evidência de que está mal cercado. A tropa de choque das milícias digitais e de seus extremistas de estimação já forçaram o prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes, e o governador do estado, Tarcísio de Freitas, a anunciar a adesão. Ou é assim, ou entram na máquina de moer reputações.

Vamos a algumas questões elementares:
1: qual é a chance de "a rua bolsonarista" não se se converter num coro de caça ao tribunal, de modo que o evento convocado e liderado por Bolsonaro se transforme numa óbvia afronta a decisões da Justiça?;

2: ainda que ele falseie a verdade de forma mansa, não tem como calar aqueles que cativou, para lembrar a raposinha de "O Pequeno Príncipe". E aí a cadeia começa a se agigantar no horizonte;

3: é evidente que os que o incitam a seguir nessa trilha apostam que o ato do dia 25 não será o o último. O que ele anuncia só faz algum sentido, dada a sandice do conjunto, se for o primeiro passo de uma escalada. Note-se: os que atendem a seu chamado têm uma exigência. E qual é? Que seu demiurgo deixe de ser investigado e que sua elegibilidade seja devolvida;

4: nos dois casos, este senhor almeja que o Poder Judiciário — que ele personaliza na figura do ministro Alexandre de Moraes para facilitar o proselitismo — se quede de joelhos para lhe fazer as vontades.

5: de um lado, nessa formulação doidivanas, estaria "o povo" — ao menos o seu — e, de outro, o STF, que, pois, estaria "contra o povo". Ocorre que esse ente é justamente aquele que enfrentou, nos limites da lei e desde que se fez necessário, tanto uma política homicida de Saúde como os sucessivos arreganhos golpistas.

Assim, deve-se concluir que o recalcitrante, mesmo inelegível e investigado por "Crimes Contra o Estado Democrático de Direito", para citar o Título XII do Código Penal, segue firme na sua disposição de atacar o tribunal. Foi o que fez ao longo de quatro anos de mandato. Não por acaso, seus seguidores investiram com especial ferocidade contra a sede da Corte naquele 8 de janeiro.

Se rolar só um tantinho do perigo, a prisão preventiva se torna um imperativo. E por dois motivos: 1) porque ele estará a ameaçar a ordem pública com fatos novos concretos; 2) porque, segundo consta, pretende levar ao protesto outros investigados, desrespeitando medida cautelar.

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"AH, ELE NÃO VAI SER DOIDO..."
Aí dirão alguns: "Ele não vai ser doido..." Não? Conto uma historinha da vida real. No Sete de Setembro de 2021, Arthur Lira, presidente da Câmara (PP-AL,) e o senador Ciro Nogueira (PP-AL), então ministro da Casa Civil, asseguraram aos magistrados que não haveria ataques às instituições; o "patriota" se limitaria a celebrar a data etc e tal.

Em Brasília, apesar da alta voltagem ideológica, evitou-se ultrapassar a fronteira do crime. Lira e Ciro, então, telefonaram aos ministros na linha: "Viram? Ele se comportou..." De Brasília, o cara voou para São Paulo e aí destrambelhou. Pediu a cabeça de Moraes, apelou ao baixo calão e disse que não mais cumpriria decisões do ministro. Ameaçou até com sangue:
"Nós temos três alternativas, em especial para mim: preso, morto ou com vitória. Dizer aos canalhas que nunca serei preso. A minha vida pertence a Deus, mas a vitória é de todos nós..."

Se repetir uma fração do que disse naquele dia, não será morto; será preso.

Faria melhor se ouvisse o que resta de sensatez à sua volta e cancelasse o troço. Não é um conselho, que não faço isso, mas uma opinião. Até porque torço para que não dê atenção. Assim, vai mais cedo para a cadeia.

AS MESMAS PALAVRAS
O golpista é uma esfinge sem segredos, né? No vídeo de agora, em que convoca a manifestação, ele afirma:

"Mais do que discurso, uma fotografia de todos vocês. Vocês são as pessoas mais importantes desse evento. Para mostrarmos para o Brasil e para o mundo a nossa união, as nossas preocupações e o que queremos: Deus, pátria, família e liberdade".

Afirmou praticamente a mesma coisa em São Paulo, naquele setembro de 2021:
"Hoje temos uma fotografia para mostrar para o Brasil e o mundo. Não de quem está agora nesse carro de som, mas uma fotografia de vocês para mostrar para o mundo e para o Brasil que as cores da nossa bandeira são verde e amarelo. Cada vez mais nós somos conservadores."

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Vale dizer: antes, como agora, ele sonha congelar um dos Poderes com a "fotografia" dos seus seguidores, substituindo a Justiça por sua turba, como reivindicam os fascistoides mundo afora.

ENCERRO
Sempre achei que o líder inconteste da extrema-direita brasileira seria preso apenas depois do trânsito em julgado de sentença penal condenatória. É uma data jurídica, não cronológica. Obrigo-me a concluir que, tudo o mais constante, vai em cana no dia 26 de fevereiro.

Se deseja pagar para ver, verá. Em 2021, nada poderia atingi-lo. Os crimes de responsabilidade que cometeu, inclusive naquele dia, não dariam em nada porque não havia número no Congresso para impichá-lo. Uma denúncia por crime comum seria igualmente barrada na Câmara.

Agora, Bolsonaro está sujeito à lei que protege o Brasil de gente como ele.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.