Reinaldo Azevedo

Reinaldo Azevedo

Siga nas redes
Só para assinantesAssine UOL
Opinião

A média da nossa mídia é "democrata" com Biden, mas "republicana" com Lula

A média da nossa mídia é "democrata" com Joe Biden e "republicana" com Lula — com frequência, vergonhosamente "republicana". É claro que recorro a uma figura de linguagem.

A maioria teme, e com razão, a vitória de Donald Trump nos EUA. Do destrambelhado, pode-se esperar qualquer coisa. Assim, os adjetivos se amontoaram por aqui para qualificar o discurso sobre o "Estado da Nação" que o presidente americano fez na quinta no Congresso: "forte", "duro", "vigoroso", "corajoso". Até "viril".

Trump, com efeito, é um fascistoide que ameaça a democracia, o que dá a seu oponente a licença para algumas tiradas hiperbólicas, endossados entre nós por analistas que não veem exagero nenhum em se atribuir a Vladimir Putin, presidente da Rússia, os mesmos intentos que tinha Adolf Hitler de dominar a Europa. É uma besteira, mas essa é uma síntese de algum apelo popular para justificar a dinheirama posta na guerra.

Putin é um facinoroso, mas há uma medida nas coisas. No seu discurso, Biden foi hábil. Evocou o nazismo e deu um jeito de meter o adversário na conversa, sem citar seu nome. Afirmou:
"Em janeiro de 1941, o presidente Franklin Roosevelt veio a esta Câmara para falar à nação. Ele disse: 'Dirijo-me a vocês num momento sem precedentes na história da União'.
Hitler estava em movimento. A guerra assolava a Europa. O objetivo do presidente Roosevelt era despertar o Congresso e alertar o povo americano: aquele não era um momento comum. A liberdade e a democracia estavam sob ataque no mundo.
E, sim, o meu objetivo nesta noite é também despertar este Congresso e alertar o povo americano: este também não é um momento comum.
Desde o presidente Lincoln e a Guerra Civil, a liberdade e a democracia não estiveram sob ataque como estão agora.
O que torna este momento raro é que a liberdade e a democracia estão sob ataque, ao mesmo tempo, tanto dentro como fora dos Estados Unidos.
No exterior, Putin está em movimento, invadindo a Ucrânia e semeando o caos por toda a Europa e além dela.
Se alguém aqui pensa que Putin ficaria só na Ucrânia, garanto a vocês que ele não o faria.
Mas a Ucrânia pode deter Putin se estivermos ao lado deles [dos ucranianos] e fornecermos as armas que eles necessitam para se defender.
É isso o que a Ucrânia pede. Eles não estão pedindo soldados americanos. Na verdade, não há soldados americanos em guerra na Ucrânia. E estou determinado a fazer com que continue assim.
Mas, agora, a ajuda à Ucrânia está sob bloqueio daqueles [os republicanos] que querem que nós nos afastemos da nossa liderança mundial.
Há não muito tempo, um presidente republicano, Ronald Reagan, exclamou: 'Senhor Gorbachev, derrube este muro'.
Agora, o meu antecessor, um presidente republicano [Trump], diz a Putin: 'Faça o que quiser'. Um ex-presidente americano disse isso, curvando-se diante de um líder russo. É ultrajante. É perigoso. É inaceitável."

O percurso é claro. Putin é o Hitler da hora, razão por que a democracia e a liberdade estão ameaçadas fora dos EUA. E o russo tem um aliado interno — Trump —, razão por que os dois valores estão sob ataque no próprio país. Confesso certa preguiça de demonstrar por que o ex-chefete da KGB, mesmo sem ter nada que preste, não é o líder nazista da hora. Numa eventual Terceira Guerra Mundial, bombas nucleares poderiam destruir o planeta. E, pois, convenham: não se imaginam forças russas tomando Varsóvia ou marchando sobre a capital francesa...

Nem mesmo haveria tempo, como em "Casablanca", para Ilse dizer a Rick, num abraço apaixonado, antes de abandoná-lo — depois se reencontram na cidade marroquina —, a frase mais espetacularmente brega de um grande filme povoado de clichês: "Was that cannon fire or just my heart pouding?" Ou: "Foi um tiro de canhão ou só a batida do meu coração?". Ah, Ingrid Bergman a pronunciar tais palavras, com olhos cintilantes, apaixonados e um tanto lúbricos, porém tristes... Explica-se: os nazistas já estavam chegando a Paris. Hoje em dia, seria um "Cabuuuummmm", seguido de tela preta. Para sempre.

Ligar Putin aos métodos de Hitler parece aos nossos "democratas com Biden e republicanos com Lula" bastante razoável. Como é mesmo? "Forte, duro, vigoroso, corajoso, viril..." Por óbvio, a exemplo do brasileiro, quando se referiu a Netanyahu, também associando-o ao "Führer", as alusões dizem respeito a intenções e métodos. Nem um nem outro falaram de Holocausto.

Mas esperem. Deborah Lipstadt, enviada especial do governo americano para monitoramento e combate ao ódio contra judeus, disse à "Folha" que a fala do brasileiro foi, sim, antissemita porque os EUA adotam como padrão considerar antissemitismo qualquer associação entre a política contemporânea de Israel e os nazistas.

Como? Pouco importa, então, a "política contemporânea de Israel. Se outros paralelismos são aceitáveis, ainda que obviamente errados — o de Biden, por exemplo — , indago: deve-se concluir que, tomando-se as práticas hitleristas como nefastas, as forças israelenses, então, poderiam fazer qualquer coisa, e ninguém lhes imputaria ação tão detestável porque, tendo sido os judeus as principais vítimas da política de extermínio, tudo o que vier abaixo daquela situação paroxística se mostrará menos nefando — atirar contra famélicos que fazem uma fila à espera de um pouco de comida, por exemplo?

Continua após a publicidade

Quando o carniceiro de Tel Aviv explode, queima e esmaga mulheres e crianças na Faixa de Gaza, que papel deve exercer o Holocausto — que não foi citado nem pelo brasileiro nem pelo americano — se tivesse de exercer algum? Permanecer no empíreo, intocado, inacessível, a não ser por aqueles que teriam licença para acessá-lo (quem?) ou nos lembrar a todos que, sem limites, vale a vontade da Besta — e ela, nos métodos, pode eventualmente ter a cara e a disposição para matar de Netanyahu?

Será que endosso tais associações? Não. Considero inaceitável que se possa apelar ao Holocausto — Lula e Biden não o fizeram — seja para minimizar seja para justificar a barbárie. Seremos todos mais precisos, e isto não melhora nem Putin nem Netanyahu, se cada tragédia for tomada por aquilo que é, segundo a proporção que tem. Crianças mortas e mutiladas são crianças mortas e mutiladas em Mariupol, Gaza, Varsóvia, Dresden...

O fato é que os "democratas com Biden e republicanos com Lula" transformaram a fala do brasileiro numa divisa da insensatez, enquanto o do americano é tomada como uma saudação ao mundo livre.

O 6 DE JANEIRO E O 8 DE JANEIRO
Biden voltou a associar Putin a Trump em sua fala, desta feita aludindo à invasão do Capitólio. Assim:

"Eu digo isto ao Congresso: devemos enfrentar Putin. Aprovem o projeto de lei bipartidário de segurança nacional.
A história está nos observando. Se os Estados Unidos se afastarem agora, colocarão a Ucrânia em risco. A Europa estará em risco. O mundo livre estará em risco, encorajando outros que desejam nos prejudicar.
A minha mensagem ao presidente Putin é simples. 'Não iremos desistir. Não vamos nos curvar. Eu não vou me curvar'.
A história está assistindo, assim como a história assistiu, há três anos, ao 6 de janeiro. Os insurreicionistas invadiram este Capitólio e colocaram uma faca na garganta da democracia americana.
Muitos de vocês estavam aqui naqueles dias mais sombrios. Todos vimos com os nossos próprios olhos que aqueles insurreicionistas não eram patriotas. Eles vieram para impedir a transição pacífica de poder e para anular a vontade do povo.
O dia 6 de janeiro, as mentiras sobre a eleição de 2020 e as conspirações para roubar a eleição representaram a mais grave ameaça à nossa democracia desde a Guerra Civil.
Mas eles falharam. O país permaneceu forte, e a democracia prevaleceu. Mas temos de ser honestos: a ameaça permanece, e a democracia tem de ser defendida."

"Como ele estava cheio de energia, né?! Quem sabe seja o começo da virada do jogo! Torço por isso. O que se viu no Capitólio foi uma tentativa de golpe de Estado. E os "democratas com Biden" saúdam a sua fala, que está correta. Mas logo se tornam "republicanos com Lula" se este evoca o 8 de janeiro de 2023, o que faz muito pouco.

Quando acontece, o presidente é acusado, como li numa coluna vomitada, de não promover a prometida "conciliação". A propósito: Biden também anunciou que uniria os EUA. Ocorre que os derrotados lá e cá buscam o confronto. A economia americana vai bem, mas poucos apostam na reeleição. Entre nós, neste governo, houve uma melhora generalizada de índices sociais, e a renda do trabalho teve o maior salto desde o Plano Real. A popularidade do petista, no entanto, claudica. E olhem que o titular da Casa Branca tem uma vantagem de que não dispõe o do Planalto: parte da imprensa reconhece seus méritos, o que não acontece por aqui, onde quase todos se tornaram... "republicanos".

Continua após a publicidade

Li quilômetros de textos a apontar que Trump pode comprometer seriamente a democracia americana. Exceção feita à fatia da extrema-direita, a imprensa chama o 6 de janeiro de 2021 de "insurreição", como faz Biden. E olhem que aquela patuscada macabra não tinha, a exemplo do que se viu aqui, um braço militar.

Observem a parte final do trecho do discurso que transcrevo acima. Ali se diz que a ameaça à democracia continua e que é preciso defendê-la. E isso me parece certo. Se, no Brasil, à diferença dos EUA (que não tem tal instituição), a Justiça Eleitoral conseguiu impedir o golpista — para a fúria de delinquentes de extrema-direita disfarçados de pensadores independentes —, é evidente que a cultura do golpismo sobreviveu.

Os "democratas com Biden", que se entusiasmaram com o "vigor" do seu discurso, logo entortam seu "nariz republicano" para Lula se este aponta as ameaças da extrema-direita. E chamo a atenção dos leitores: um ano e dois meses depois do mais grave atentado às instituições em tempos democráticos, fermenta-se uma indisposição com o STF e com a PF sob o pretexto da garantia da legalidade. O golpismo tem amplo espaço na imprensa para o exercício de sua escolástica escatológica. Os nossos "republicanos" já sabem quem é o culpado por isso a que chamam "polarização". Por certo, é o presidente, embora sejam eles próprios a garantir voz a golpistas sob o pretexto de assegurar a pluralidade.

O presidente americano convoca: "A ameaça permanece, e a democracia tem de ser defendida". Sim, ele é "corajoso"! Se o petista fizesse o mesmo, seria acusado pelos "democratas com Biden e republicanos com Lula" de criar um fantasma para se fortalecer politicamente.

O "SOCIALISTA" BIDEN?
O presidente dos EUA prosseguiu:

"Existem mil bilionários nos Estados Unidos.
Você sabe qual é a taxa média de Imposto de Renda para esses bilionários? 8,2%.
Isso é muito menos do que a grande maioria dos americanos paga. Nenhum bilionário deveria pagar uma taxa mais baixa do que um professor, um faxineiro ou uma enfermeira!
É por isso que propus um imposto mínimo de 25% para bilionários. Apenas 25%! Isso arrecadaria US$ 500 bilhões nos próximos 10 anos.
Imaginem o que isso poderia fazer pelo país. Imaginem um futuro com cuidados à infância acessíveis, para que milhões de famílias possam obter a assistência de que necessitam e, assim, trabalhar e fazer crescer a economia. Imaginem um futuro com licença remunerada porque ninguém deveria ter que escolher entre trabalhar e cuidar de si mesmo ou de um familiar doente. Imaginem um futuro com cuidados domiciliares e cuidados com os idosos, para que os mais velhos e as pessoas com deficiência pudessem permanecer em casa, e os cuidadores recebendo o que merecem! Nesta noite, vamos todos concordar, mais uma vez, em defender os idosos!
Muitos dos meus amigos republicanos querem colocar a seguridade social em risco. Se alguém aqui tentar reduzir a seguridade social ou a assistência à saúde ou aumentar a idade para se aposentar, eu irei impedir!
Os trabalhadores que construíram este país pagam mais à seguridade social do que os milionários e bilionários. Não é justo!
Temos duas maneiras de agir na Previdência Social: os republicanos cortando a seguridade social e aprovando mais cortes de impostos aos ricos.
Eu vou proteger e fortalecer a seguridade social e farei com que os ricos paguem a parte justa. Muitas empresas elevam os preços para aumentar os lucros, cobrando mais por cada vez menos."

Os psicopatas de lá, como é sabido, o chamam de "socialista" por isso. Mas encontro no fragmento acima o Lula que, por intermédio de Fernando Haddad, resolveu taxar os fundos exclusivos. O presidente do Brasil falou sobre o assunto no G-20 e se esforça, por aqui, para regularizar o trabalho informal.

Continua após a publicidade

Não fiz um levantamento, mas me parece evidente que a agenda social do governo rende na imprensa nativa mais pancadas do que elogios. Seria um favor ao país se os críticos buscassem corrigir o que lhes parece errado. Mas não. Os "democratas com Biden e republicanos com Lula" lhe dispensam o tratamento de alguém que tivesse sido vencido pela história e pelos fatos. A melhora óbvia dos indicadores é tratada como aspecto de somenos.

ISRAEL E A FAIXA DE GAZA
No que respeita à Faixa de Gaza, quase se pode fazer uma sobreposição entre trechos do discurso de Biden e afirmações que já foram feitas pelo petista -- e isso inclui o direito que tem Israel de se defender, o que o líder brasileiro nunca contestou. Vamos ler:

"Israel tem o direito de perseguir o Hamas. O Hamas poderia pôr fim a este conflito hoje, libertando os reféns, depondo as armas e entregando os responsáveis pelo 7 de outubro.
Israel tem um fardo adicional porque o Hamas esconde-se e opera entre a população civil, mas Israel também tem a responsabilidade fundamental de proteger civis inocentes em Gaza.
Esta guerra teve um impacto maior sobre civis inocentes do que todos os conflitos anteriores em Gaza juntos. Mais de 30 mil palestinos foram mortos. A maioria não é do Hamas. Milhares e milhares são mulheres e crianças inocentes. Meninas e meninos também ficaram órfãos. Mais de 2 milhões de palestinos foram alvos de bombardeios ou deslocados.
Casas destruídas, bairros sob escombros, cidades em ruínas. Famílias sem comida, água, remédios. É de partir o coração!
Temos trabalhado sem parar para estabelecer um cessar-fogo imediato, que duraria pelo menos seis semanas. Isso levaria os reféns para casa, aliviaria a intolerável crise humanitária e contribuiria para algo mais duradouro.
Os Estados Unidos têm liderado esforços internacionais para levar mais assistência humanitária a Gaza.
Nesta noite, dou instruções aos militares dos Estados Unidos para liderarem uma missão de emergência para instalar um porto temporário no Mediterrâneo, na costa de Gaza, que possa receber grandes navios que transportam alimentos, água, medicamentos e abrigos temporários. Nenhuma bota [soldado] americana estará no terreno. Esse cais temporário permitiria um aumento maciço na quantidade de assistência humanitária que chega a Gaza todos os dias."

Lembro Lula no Egito:
"Não tem nenhuma explicação o comportamento de Israel, a pretexto de derrotar o Hamas, está matando mulheres e crianças -- coisa jamais vista em qualquer guerra de que eu tenha conhecimento. (...) O Brasil foi um país que condenou de forma veemente a posição do Hamas no ataque a Israel e o sequestro de centenas de pessoas. Nós condenamos e chamamos o ato de ato terrorista. (...) De qualquer ângulo que se olhe, a escala de violência cometida contra os dois milhões de palestinos em Gaza não encontra justificativa."

O brasileiro em 13 de novembro do ano passado:
"Nessa guerra, depois do ato provocado, e eu digo um ato de terrorismo do Hamas, que provocou um ato, as consequências da solução do Estado de Israel são tão graves quanto foi a do Hamas, porque eles estão matando inocentes sem nenhum critério. Joga bomba onde tem crianças, onde tem hospital, a pretexto de que um terrorista está lá, não tem explicação. Primeiro vamos salvar as crianças e as mulheres e aí depois faz a briga com quem quiser fazer".

Os "democratas com Biden", como sabemos, viram o líder "forte, duro, vigoroso, corajoso..." Até "viril". Estes mesmos, "republicanos com Lula", dispararam: "O que tem ele de se meter? Olhe mais para o Brasil".

Ambos, é fato, exercem papeis distintos nessa história em particular: um pede cessar-fogo; o outro financia o fogo. Um acusa o massacre e cobra que pare; o outro acusa o massacre e solicita que o algoz de crianças e mulheres tenha mais compaixão. Os EUA vetam resoluções no Conselho de Segurança da ONU, mas seu mandatário manda construir um porto temporário para distribuição de víveres, que estarão sob o controle do invasor.

Continua após a publicidade

Nota à margem: um cessar-fogo de seis semanas em troca da libertação dos reféns? E depois? Netanyahu já disse que não haverá mudança no trato com a Cisjordânia — os assentamentos continuam na vigência da guerra — e que as forças israelenses manterão o controle de Gaza. Existe saída quando não há horizonte?

Os "democratas com Biden e republicanos com Lula" aplaudem um e vaiam o outro em razão de palavras idênticas. No que são diferentes, não me parece que sobre ao petista a pior parte.

ENCERRO
Biden exaltou no seu discurso seus feitos econômicos. E estes, de fato, existem. Eis o busílis. A menos que se diga que o americano "fala demais, opina demais ou viaja demais", é possível que o "malaise" esteja em outro lugar, e isso vale para todas as democracias, também a nossa. O homem tem em seu próprio território os democratas que são democratas e os republicanos que são trumpistas.

Lula, que faz um bom governo, viu cair a sua popularidade. E os nossos "republicanos" atribuem ao petista a responsabilidade até por escolhas que ou são de uma oposição sem eira nem beira — que literalmente não lida com coisas deste mundo e que tentou um golpe antes e depois da eleição — ou do centrão, com o qual é preciso governar não por escolha.

Não tenho nenhuma simpatia pela política externa do atual governo dos EUA. Eu a considero contraproducente e, no limite, sem saída. Quando Biden apela à guerra na Ucrânia para apontar o que sugere ser a subserviência de Trump a Putin, acuso o truque, mas o considero, vá lá, aceitável e até torço para que seja eficiente — embora duvide muito. Um extremista de direita à frente da maior potência da Terra, cheio de rancor e desejo de vingança, a inspirar outros "palhaços macabros" mundo afora, seria um risco muito maior.

Apesar das reservas — e também em razão da carnificina em Gaza —, gostei do "vigor" demonstrado pelo democrata. Considero a escolha do mal menor, quando não há alternativa, uma imposição da ética. Parafraseando seu discurso, lá do começo, entendo que "que a liberdade e a democracia estão sob ataque, ao mesmo tempo, tanto dentro como fora do Brasil".

Continua após a publicidade

Pelo visto, os "democratas com Biden e republicanos com Lula" não pensam assim. Torcem pela reeleição do presidente americano, mas tentam emparedar o petista no Brasil, alheios até mesmo à lógica, se fosse o caso, do mal menor.

Como sabem, avalio — e os indicadores relevantes o apontam — que teríamos, no 15º mês, um bom governo, ainda que os fascistoides não estivessem por aí, tentados a mandar para "o raio que os parta" os valores fundamentais da civilização. Torço para que venha a ter uma avaliação compatível com a sua qualidade. Não sei se vai acontecer. Mas eu o evidenciarei até quando assim for.

Será que o faço por "coragem", "heroísmo" ou "destemor"? Que bobagem! Faço-o porque aprendi com Graciliano Ramos, desde muito cedo, que as coisas precisam ser chamadas pelo seu nome. Navegar contra a corrente não chega a ser novidade para mim. Até diria que certas sinapses só se fazem assim.

Sim, eu sou um democrata com Biden, apesar de tudo, e um democrata com Lula, em razão de quase tudo.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

Deixe seu comentário

Só para assinantes