Boulos vence o debate na Globo, o 'coach' arrega, e Nunes fica na defensiva
Entre os três candidatos com chances de figurar no segundo turno na disputa pela Prefeitura de São Paulo, Guilherme Boulos (PSOL) teve de longe o melhor desempenho no debate na Globo, no fim da noite desta quinta. Pablo Marçal (PRTB), embora em pele de cordeiro — o lobo bobo chegou a se manifestar, mas não "prosperou", para usar um verbo de que ele gosta muito —, não comprometeu, dado o seu público. Ricardo Nunes (MDB) não conseguiu sair da defensiva. Desempenho fraco.
Se os números do Datafolha congelam um instante de uma dinâmica e se o evento interfere em alguma coisa, então não há razão para Boulos parar de crescer - 26% na pesquisa — e para Nunes parar de cair: 24%. Ainda que eu esteja como naquela música de Chico Buarque e Ruy Guerra sobre a diferença entre intenção e gesto, tenho de escrever: Marçal teve a melhor performance na comparação com a sua própria e horrível persona publica em outros debates, embora muito mais acanhado e visivelmente nervoso. O "coach" tremeu. Escolheu experimentar o lugar da vítima. Se notaram, o "libertário" ameaçou criar uma empresa municipal de saneamento, entre outras bobagens. Santo Deus!
José Luiz Datena (PSDB) bordou a sua fala com comentários genéricos, visivelmente fora de um lugar que conhece bem, onde tem retórica contundente. Não ali. Tabata Amaral (PSB) não se elegerá desta feita, mas não será por falta de propostas. Eu diria que ela promove uma espécie de vertigem de soluções para todos os males da cidade e do mundo, sempre com uma inflexão de primeira aluna da sala muito ciosa de sua sapiência. Na vida, funciona, e ela é a prova. Na política, dadas as suas grandes ambições, terá de aprender a dosar o excesso de solucionáticas para tantas problemáticas.
Ainda que em tom reacionário, a futura ocupante da centro-direita democrática se manifestou no debate quando, mais uma vez, tentou pespegar em Boulos a pecha de falso moderado, que busca dar um truque no eleitor. E, por isso, foi elogiada duas vezes por Marçal e uma por Nunes. Elogios justos, se é que me entendem. Numa pitada de bom humor, acho que vai ter de aprender a dançar um pouco de frevo com João Campos (PSB), seu namorado, que administra Recife. Será um dos campeões nacionais de voto. Não porque ele é o homem, e ela, a mulher. Mas porque ele tem ginga.
Ouso sugerir a Tabata um poema da formidável Adélia Prado, vencedora do Prêmio Camões. Chama-se "Com licença poética":
Quando nasci um anjo esbelto,
desses que tocam trombeta, anunciou:
vai carregar bandeira.
Cargo muito pesado pra mulher,
esta espécie ainda envergonhada.
Aceito os subterfúgios que me cabem,
sem precisar mentir.
Não sou tão feia que não possa casar,
acho o Rio de Janeiro uma beleza e
ora sim, ora não, creio em parto sem dor.
Mas o que sinto escrevo. Cumpro a sina.
Inauguro linhagens, fundo reinos
-- dor não é amargura.
Minha tristeza não tem pedigree,
já a minha vontade de alegria,
sua raiz vai ao meu mil avô.
Vai ser coxo na vida é maldição pra homem.
Mulher é desdobrável. Eu sou.
É o poema mais feminista que conheço.
Deixe seu comentário
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Leia as Regras de Uso do UOL.