'Trump, o normal': caçada humana, Guantánamo e punição a quem recusou golpe
Estavam certos aqueles que anteviam que, se eleito, Donald Trump voltaria com sangue nos olhos e disposto a se vingar daqueles que considera inimigos e, bem..., como vou dizer?, dos mais fracos.
"Vingar-se dos fracos?" É um dos apanágios dos covardes, e covardia compõe a essência moral da extrema-direita. Ou fascistoides não seriam. Por definição, o sofrimento dos desvalidos serve, vamos de Castro Alves, para "excitar a fúria do algoz". Os que foram submetidos a sevícias e tortura sistemática e sobreviveram para contar a história relatam, invariavelmente, que o sofrimento de quem estava inerme tornava o torturador ainda mais violento. Nota à margem: antes que "aquele cara" reaja, acusando-me de ver fascismo num navio negreiro, observe: aquilo era "apenas" tráfico de gente — nada que indigne os nossos "sommeliers" de fascismo...
Trump veio para valer. Anunciou, e talvez cumpra, que uma leva de imigrantes será enviada à conveniente Guantánamo — só os especialmente criminosos. Assim, podem ser jogados lá e não estarão sob a proteção nem das leis americanas nem de tratados internacionais. E quem, afinal, vai ser enviado para lá? Aquele que Trump e seus extremistas decidirem que deve ser levados pra lá. O mundo assiste a tudo com perplexidade, mas também com silêncio eloquente. Já volto ao ponto.
MARK MILLEY
Digo lá no começo que ele cumpre o que já havia anunciado: a vingança contra os que considera inimigos. Ele começou a cultivar um ódio mortal pelo general Mark Milley-- que foi o Número Um das Forças Armadas dos EUA -- ainda no fim do primeiro mandato. Motivo: o então presidente o instigou o militar a desfechar aquilo a que o mundo democrático chama "golpe de Estado". Sim, queria que Milley desse um jeito de impedir a posse de Joe Biden.
Obviamente não aconteceu. No dia 20 de novembro de 2020, na inauguração de um Museu do Exército, teve de ouvir o soldado exemplar:
"Somos únicos entre os militares. Não fazemos juramento a um rei ou uma rainha, a um tirano ou a um ditador. Não fazemos juramento a um indivíduo. Não fazemos juramento a um país, a uma tribo ou a uma religião. Fazemos um juramento à Constituição. Cada soldado representado neste museu; cada marinheiro, aviador, fuzileiro naval, guarda costeiro, cada um de nós protegerá e defenderá esse documento, independentemente do custo pessoal".
Milley era tão rigoroso no cumprimento de seu dever que se desculpou com os americanos por ter participado, em junho daquele ano, da caminhada de Trump para encenar uma foto na Igreja Episcopal de São João, perto da Branca, depois de mandar dissolver um protesto contra o racismo e a violência policial que acontecia na área:
"Eu não deveria ter estado lá. Minha presença naquele momento e naquele ambiente criou uma percepção de envolvimento dos militares na política interna".
Já aposentado, disse que Trump tinha concepções que evidenciavam um "fascista total". Vai ver o militar queria chocar um desses certificadores de fascismo que andam por aqui...
Pois bem! Antes de deixar o poder, Biden procedeu, pesquisem, a uma espécie de perdão preventivo a Milley poque se dava como certo que Trump tentaria alvejá-lo, e a outros (além de seus próprios familiares), como Anthony Fauci — que comandou a política de combate à Covid nos EUA, contra os desejos de Trump quando na Presidência e depois assessorou Biden. Sim, os EUA tem essas estranhezas de "perdões preventivos"...
Pois é. Trump já mandou retirar a segurança especial que protegia Fauci — e também alguns desafetos republicanos, como John Bolton, seu ex-assessor — e, obviamente, Milley. Nesse segundo caso, a decisão é ainda mais estupefaciente porque se pode imaginar quantos são os "seres das sombras", do terrorismo aos serviços secretos, que poderiam se interessar pelas informações de que dispõe um ex-número um da maior máquina de guerra do mundo.
Mas não só isso: Pete Hegseth, secretário da Defesa — um militar aposentado, ex-comentarista da Fox News e contra quem pesam acusações de assédio e uso abusivo de álcool —, informou a Milley que também se estuda um modo de rebaixar a sua patente e que ele é alvo de uma investigação especial, determinada por Trump. Faz-se uma "fishing expedition" em sua vida militar para tentar encontrar alguma coisa...
Mas não seja bobinho, leitor! Preste atenção ao que diz o reacionarismo ilustrado do "senta que o Trump é manso". Não é porque ele quer mandar 30 mil para Guantánamo, ao arrepio de qualquer código legal; não é porque ele promove um caçada humana; não porque ele pretende dar um rejeito de rebaixar a patente de um general, expondo-o adicionalmente a um taque terrorista só porque contrariado, que se deve confundi-lo com uma ameaça.
No mais, eis um cara batuta, nè?, que só faz o que prometeu a seu eleitor, como diz o abobado, aquele que acha que se deve conceder o outro lado até a um torturador. Sem essa de radicalismo e exclusivismo moral, né?
Que tempos!
5 comentários
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Luiz Jordam Ribeiro de Souza
Nota 20 perfeito Reinaldo
Ciro Lauschner
Vou morrer sem entender, o quanto os EUA regrediram.Cresci brigando para defender os americanos que na minha idéia achei que tivessem leis e seriam um exemplo para humanidade.
Marcio Francisco Zichia
Vai chegar sua vez também, tio b Oiola…Aguarde!