Tales Faria

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Reportagem

Bolsonaro deixa as eleições municipais com a marca de aliado inconfiável

Deu errado o plano do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) para essas eleições municipais. Ele pretendia aproveitar a campanha para pavimentar alianças visando a aprovação de sua anistia pelo Congresso Nacional e uma eventual candidatura à Presidência em 2026, se conseguir derrubar sua inelegibilidade. Mas Bolsonaro acabou criando mais arestas com aliados do que apoios para a volta ao Planalto.

Reeleito prefeito de São Paulo numa disputa acirrada contra o PT e até contra um setor majoritário do bolsonarismo que aderiu à candidatura de Pablo Marçal (PRTB), Ricardo Nunes (MDB) fez questão de declarar que, na sua visão, "a grande liderança" o estado é o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos).

E por que motivo? Nunes disse: "pelo traço de caráter". Ele fez questão de sublinhar a "fundamental lealdade" do governador quando chegou a cair nas pesquisas, em agosto. Não citou Bolsonaro. Mas naquela época o ex-presidente chegou a aconselhar Tarcísio a abandonar o prefeito.

O comportamento de Bolsonaro, que acenou constantemente para a possibilidade de se juntar a Pablo Marçal, casou impressão igualmente assustadora nos presidentes de partido que se aliaram a Nunes.

Apenas Paulinho da Força, presidente do Solidariedade, explicitou o desagrado, defendendo que Bolsonaro nem aparecesse em São Paulo no 2º turno. Mas tiveram igualmente péssima impressão do comportamento de Bolsonaro os presidentes do MDB, deputado federal Baleia Rossi (SP); do PSD, Gilberto Kassab, que é secretário de governo de Tarcísio de Freitas; e do PP, senador Ciro Nogueira (PI).

Como eles, até Valdemar Costa Neto, que preside o PL ao qual Bolsonaro está filiado, tem dito reservadamente que precisa defender o partido das prováveis traições de Bolsonaro. Na avaliação de todos, Bolsonaro na verdade tem um grupo muito restrito que considera "verdadeiro aliados". São basicamente seus filhos. Nem a esposa Michelle entra nesse clube restrito.

Publicamente, Valdemar faz questão de frisar que a popularidade de Bolsonaro foi a principal responsável pelo crescimento do número de prefeitos e votos obtidos pelo partido nessas eleições. Mas, reservadamente, ele sublinha, com aliados, que o ex-presidente abandonou o partido em lugares decisivo.

Foi o que ocorreu no Paraná, onde o PL fechou aliança com o governador Ratinho Junior (PSD), indicando o vice da chapa de Eduardo Pimentel (PSD) à Prefeitura de Curitiba. Bolsonaro apoiou a adversária Cristina Graeml, do minúsculo PMB.

Para azar do ex-presidente, ela foi derrotada e tanto Kassab como Valdemar anotaram a traição em seus caderninhos. Quanto a Ratinho, aumentou seu desejo de se candidatar a presidente da República em 2026 pelo PSD, até mesmo contra Bolsonaro.

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O próprio Tarcísio passou a ser mais incensado para concorrer ao Planalto, roubando definitivamente a liderança de Bolsonaro sobre os conservadores.

Para tentar manter sua primazia no campo conservador, Bolsonaro resolveu enfrentar nessas eleições o principal pré-candidato à Presidência pelo União Brasil, o governador Ronaldo Caiado. Correu para apoiar a campanha a prefeito de Fred Rodrigues (PL), no 2º turno, contra Sandro Mabel (União), defendido por Caiado.

"Bolsonaro perdeu as eleições para ele mesmo e Caiado é quem saiu forte para a Presidência", declarou Mabel após a vitória.

Bolsonaro também deixou o presidente do União Brasil, ACM Neto, ainda mais disposto a defender Caiado, não se aliar a Bolsonaro em 2026 e nem defender a aprovação do projeto de anistia no Congresso. O partido tem candidatos fortes a presidir o Senado , Davi Alcolumbre (AP), e a Câmara, Elmar Nascimento (BA). ACM Neto aposta até numa "frente centrista" no 2º turno das próximas eleições presidenciais.

Em Belo Horizonte, outro candidato aliado de Bolsonaro, Bruno Engler (PL), se considera abandonado por Bolsonaro no 2º turno. Ele teve a candidatura bancada pelo deputado Nikolas Ferreira (PL), considerado até então como um dos nomes do partido mais próximos de Bolsonaro.

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