Gulosa, o apelido que Bolsonaro deu à sua sala no Palácio do Planalto
O apelido que Jair Bolsonaro deu à sua sala no Palácio do Planalto quando era presidente da República é bem peculiar: "Gulosa".
O entorno mais próximo a ele todos se referiam assim ao gabinete presidencial.
"Eu entrava lá na Gulosa, como ele chamava, um termo meio complicado? Deixa pra lá", contou sorrindo o senador Ciro Nogueira (PP-PI), numa entrevista ao UOL em abril. Nogueira era ministro-chefe da Casa Civil no governo Bolsonaro.
Após a publicação da reportagem, um outro ex-ministro de Bolsonaro telefonou para a coluna e deu mais detalhes sobre a Gulosa. O apelido foi dado ao quarto de descanso que fica nas dependências do gabinete presidencial do Palácio do Planalto. A ala presidencial comporta diversos cômodos, como copa, cozinha, e um dos ambientes serve como espécie de quarto de hotel, com cama e chuveiro para o caso de o presidente precisar de repouso. No governo Bolsonaro, este quarto foi apelidado de Gulosa.
Entrar na Gulosa era sempre uma atividade desafiadora para os auxiliares de Bolsonaro. O então presidente disponibilizava pouco tempo de sua atenção a um assunto e a um interlocutor. Os ministros entravam e tentavam ser objetivos e cirúrgicos.
Mas muitas vezes encontravam Bolsonaro já de cabeça feita. O seu ajudante de ordens, tenente-coronel Mauro Cid, beneficiava-se da proximidade permanente para influenciar o presidente, segundo Nogueira.
"Uma das coisas que mais prejudicava Bolsonaro era esse Cid, um câncer pro governo."
De acordo com o ex-ministro, Cid antecipava sua opinião sobre os assuntos que seriam tratados em seguida, mostrando fake news no celular. Quando chegavam para a reunião na Gulosa, Bolsonaro já era contrário ao posicionamento que seria defendido pelo interlocutor.
Nogueira disse que então desistia. "Eu dizia, não, presidente. Hoje não tem nada pra conversar, não. Ele já estava contaminado."
Mauro Cid se tornou pivô de várias investigações envolvendo Bolsonaro, foi preso e fez delação premiada. Uma delas teve desdobramento recente.
A Polícia Federal indiciou o ex-presidente por tentar se apropriar de joias dadas pela Arábia Saudita ao governo brasileiro. Ele é acusado de tentar desviar R$ 6,8 milhões em presentes que pertenciam ao governo brasileiro, e não ao presidente da República na ocasião.
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