De neoliberal a expansionista, as metamorfoses de Gleisi Hoffmann
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Nova ministra de Relações Institucionais do governo Lula, a petista Gleisi Hoffmann hoje enfrenta o mercado financeiro e defende gastos públicos com programas sociais, mas no começo da carreira, nos anos 2000, ela foi chamada de neoliberal ao fazer cortes de pessoal para reduzir a folha de pagamentos no primeiro cargo público que ocupou.
As transformações pelas quais Gleisi passou ao longo da trajetória de quase 30 anos na política indicam que, ao voltar ao Palácio do Planalto, a nova ministra não terá dificuldades em se ajustar às necessidades do novo cargo.
A deputada paranaense começou a carreira política como secretária extraordinária de Reestruturação e Ajuste do governo de Zeca do PT em Mato Grosso do Sul, de 1999 a 2001. Era responsável pela reforma administrativa em curso e pôs em prática corte de gastos e de pessoal, fusões e extinções de empresas públicas e mudanças na previdência do estado.
Na época, bateu de frente com o sindicalismo local e um dirigente da CUT chegou a dizer que a secretária era uma "tecnocrata com programa neoliberal".
Em 2010 ela se elegeu para o seu primeiro mandato, no Senado Federal, com 3 milhões de votos. Assumiu a cadeira fazendo barulho. Era comecinho do governo Dilma Rousseff (PT) e Gleisi saiu em defesa da então senadora Marta Suplicy contra a misoginia na política.
"Em muitos momentos, ela foi desrespeitada. Vimos aqui deboches, galhofas, gracinhas. Será que é por que uma mulher está na direção da Casa que se faz isso?", questionou Gleisi após uma sessão do Senado presidida por Marta.
Em seis meses de mandato, foi convidada por Dilma para assumir a Casa Civil, após a queda de Antonio Palocci, em junho de 2011.
Como ministra, Gleisi ficou responsável por um programa de reabilitação de dependentes químicos em comunidades terapêuticas, inclusive evangélicas. Setores do PT tinham críticas ao programa, mas ela enfrentou a resistência e articulou diversas aproximações com o segmento.
"Vivemos num país religioso, a grande maioria da população professa uma fé", declarou ao jornal "O Globo" em 2013. Ela se disse contra a descriminalização das drogas, argumentando que "legalizar uma droga não quer dizer que minora o problema do tráfico".
Em 2024, deu uma guinada de 180 graus. Quando o Supremo Tribunal Federal votou para descriminalizar o porte de maconha pra uso individual, Gleisi foi favorável.
"A decisão não pode servir de pretexto para retrocessos no Congresso, como é o caso da PEC das drogas", matéria em tramitação que criminaliza porte e posse em qualquer quantidade de qualquer droga.
Agora, no governo Lula 3, Gleisi se colocou como voz crítica à política econômica do ministro Fernando Haddad (Fazenda), que o PT, sob seu comando, classificou como "austericídio fiscal".
"Para mim, faria um déficit de 1%, de 2% [do PIB]. Não podemos deixar a economia desaquecer", declarou.
Gleisi é presidente do PT desde 2017, período no qual vocalizou oposição permanente à Operação Lava Jato, à prisão do presidente Lula e ao governo Jair Bolsonaro (2019-2022).
Foi uma das coordenadoras da campanha petista de 2022, em que se formou uma frente ampla com setores de centro e da direita para derrotar Bolsonaro.
Em dezembro de 2024, no entanto, ela afirmou que o PT não podia ir para o centro do espectro político sob pena de romper com a base social que sustentou o partido até aqui.
Assessores palacianos e petistas não duvidam de uma nova mudança de rota quando chegar ao Planalto.
Gleisi é plenamente "adaptável", diz o advogado petista Marco Aurélio de Carvalho, líder do grupo Prerrogativas. "Ela tem postura aguerrida, se entrega completamente às missões que assume, mergulha profundamente. E esse senso pragmático faz com que mude de postura."
"Não acho que ser ministra vai ser uma mordaça, mas ela vai ter que ter mais controle, não pode atirar tanto, porque vai estar no barco do governo", conclui Carvalho.
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