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Thiago Herdy

REPORTAGEM

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Desenho de governo Tarcísio em SP é mais kassabista do que bolsonarista

Tarcísio de Freitas pode apoiar o deputado estadual André do Prado (PL) à presidência da Alesp - Bruno Santos/Folhapress/17.out.2022
Tarcísio de Freitas pode apoiar o deputado estadual André do Prado (PL) à presidência da Alesp Imagem: Bruno Santos/Folhapress/17.out.2022

Colunista do UOL

24/11/2022 04h00

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Passadas quatro semanas desde a eleição do novo governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), articulações de bastidores apontam para a formação de um governo mais influenciado pela figura de Gilberto Kassab, presidente nacional do PSD, do que pelo presidente Jair Bolsonaro (PL), que foi derrotado nas urnas pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Por ora, a prevalência da figura de Kassab como influenciador do novo governador reduz a chance de nomes mais ligados à ala ideológica do bolsonarismo e da extrema-direita de ocuparem postos chave no governo, especulação que dominou o debate pré-eleitoral.

Embora o empresário Guilherme Afif Domingos coordene oficialmente a equipe de transição do governo, as articulações e aprovações para os cargos mais estratégicos do novo governo passam sempre por Kassab, de acordo com interlocutores ouvidos pela coluna.

O secretário de educação do Paraná Renato Feder foi convidado e aceitou convite de Tarcísio para ser secretário de educação em São Paulo. O mesmo ocorreu com o ex-deputado federal Eleuses Paiva (PSD), confirmado nesta quarta-feira (23) para a Saúde. Ele é um nome ligado a Kassab.

Além dos dois, outros nomes estão com conversas avançadas e podem ser confirmados nos próximos dias.

Em articulação com o presidente nacional do MDB, Baleia Rossi, o MDB quer indicar o secretário da Agricultura e Abastecimento do novo governo, e o deputado estadual Itamar Borges (MDB) é o mais cotado. Bem relacionado com o agronegócio paulista, ele já ocupou o mesmo cargo por 10 meses, durante o governo de João Doria (PSDB).

Em fase pré-eleitoral, Tarcísio sondou o ex-comandante da Rota e presidente da Ceagesp (Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo), o coronel Ricardo de Mello Araújo, para ser seu possível secretário de Segurança Pública. Na época, ele declinou do convite, dando a entender que tinha interesse em continuar na Ceagesp.

O plano de continuar na estatal federal deve naufragar com a eleição de Lula e Mello Araújo volta a ser cotado para a Secretaria Pública. Se não vingar, o plano B é a indicação do deputado federal e vice-líder do PL na Câmara, Capitão Derrite (PL).

Apoio na Assembleia Legislativa de SP

Tarcísio já articula sua base de apoio na Assembleia Legislativa de São Paulo e para isso pretende contar com o deputado estadual André do Prado (PL). Nome ligado ao presidente nacional do PL, Valdemar Costa Neto, Prado se fortalece para receber o apoio de Tarcísio e se candidatar à presidência da Casa. Sua opção seria mais uma derrota da ala ideológica, que gostaria de ver nomes mais próximos do bolsonarismo no posto.

Tarcísio convidou o ex-secretário de Agricultura de SP, João Sampaio, para ocupar uma secretaria estratégica no governo, mas ele declinou do convite. Ele atua na iniciativa privada desde 2011, quando deixou o Executivo para assumir atividades empresariais no agronegócio. Apesar da negativa, ele aceitou integrar a equipe de transição do novo governo.

Coordenador da transição, Guilherme Afif deve ser nomeado para uma secretaria ainda não definida. O filho do presidente Bolsonaro, Eduardo Bolsonaro, também deve ter direito a uma indicação de um nome, ainda não definido também. Este seria o único representante do bolsonarismo mais ideológico no governo estadual.

Deputados federais do PL na suplência vêm pressionando para que eleitos pelo partido assumam secretarias no governo estadual, abrindo espaço para novos mandatos na Câmara.

A iniciativa não prospera, por exemplo, em relação ao ex-ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles, que já anunciou não estar disposto a licenciar-se do cargo de deputado federal para ocupar uma secretaria em sua terra natal.

Rodrigo Garcia perde força

Apoiador de Tarcísio no segundo turno, o atual governador paulista, Rodrigo Garcia, deve ter algum espaço para indicação no novo governo, mas bem aquém do que ele desejava. Há duas razões para isso.

A primeira é a força de Kassab, oponente histórico de Garcia, e figura forte no atual governo paulista. A segunda diz respeito ao desempenho de Jair Bolsonaro no segundo turno da eleições. Para Tarcísio, Garcia não entregou o resultado prometido a Bolsonaro quando acertaram um acordo para a segunda etapa do pleito.

Entre o primeiro e o segundo turno, Bolsonaro ampliou sua votação no estado em 2,6 milhões de votos. Na mesma etapa Lula recebeu 1,3 milhão de votos adicionais, deixando a diferença entre os candidatos menor do que esperava a equipe de Bolsonaro, diante das promessas de Garcia.

Tarcísio iniciou a campanha eleitoral com discurso do candidato mais técnico, sem compromissos amarrados com esquerda ou direita. Sua campanha mudou de rota no meio do percurso, colando sua imagem à do presidente Bolsonaro, candidato forte no estado.