Wálter Maierovitch

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Opinião

Israel aciona ONU para acabar com missão de paz no Líbano criada em 1978

Agora é oficial. Israel formalizou junto às Nações Unidas pedido para extinguir a Unifil (Força Interina das Nações Unidas no Líbano), missão de paz da ONU composta por cerca de 10 mil militares de 50 países, criada em 1978 pelo Conselho de Segurança das Nações.

O requerimento está assinado pelo primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, chefe de governo, e pelo ministro da Energia, Eli Cohen.

Para o ministro Cohen, a Unifil não garante o cumprimento das resoluções da ONU e as instalações servem de escudo de proteção aos ataques do Hezbollah.

O primeiro-ministro, desde os ataques iniciados na quinta-feira (10) às bases da Unifil, ressaltou que a Força da ONU no Líbano é um obstáculo para Israel se defender.

Para Netanyahu, as tropas de guerra defensiva não podem atingir, pela interposição dos postos da Unifil, o ponto de onde as milícias do Hezbollah lançam bombas e mísseis contra o norte de Israel —os bombardeios resultaram no êxodo de mais de 60 mil israelenses da alvejada região da Galileia.

Na peça, segundo vazado, há menção ao descumprimento pela Unifil da resolução 1.701, de 2006, que determinou a essa força de paz, composta pelos 'peacekeeper' (capacetes azuis), o monitoramento da área a fim de cessar as hostilidades, com apoio do exército regular do Líbano.

Unifil não cumpriu sua missão

Segundo o portal Huffpost, o general Luciano Antonio Portolano, comandante da Unifil de 2014 a 2016, admitiu que a força de paz não realizou verificações e nem controle sobre armas na região. Também não houve atuação dos serviços de inteligência e nem coleta de informações de campo.

O general Giorgio Battisti, participante de missões de paz da ONU em vários partes do mundo, disse ao Huffpost ter havido "falimento" da missão no sul do Líbano, com a ressalva de que foi grave a agressão de Israel ao quartel-general da Unifil.

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"Em 18 anos o Hezbollah reforçou-se no terreno. A Unifil não fez nada e agora está com 10 mil soldados na linha azul, traçada pela ONU. Em síntese, o Hezbollah, financiado pelo Irã, prosperou", declarou o general de missões de paz da ONU.

Como se sabe, lançamentos são feitos de casas particulares habitadas por xiitas. Como fez o Hamas em Gaza, o Hezbollah construiu uma rede de túneis e estava preparado para realizar um ato terrorista, com ataque aos israelenses da Galileia.

Ataques reprováveis, mas estratégicos

Os ataques aos postos da Unifil, segundo militares especializados, foram reprováveis, inéditos e causadores de mau exemplo, porém estratégicos.

Israel chamou a atenção para a existência de uma missão fracassada de paz e cuja inércia contribuía para o Hezbollah atacar, com facilidade, a Galileia judaica.

Num pano rápido, as discussões sobre o sul do Líbano tendem a causar novas divisões contra e pró Israel.

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Netanyahu pressionado

Netanyahu, nos seus 13 anos de poder, conhece a história da Unifil e sabe que a inteligência de Israel demorou para alertar sobre as novas formações das milícias e as fortificações do Hezbollah. Agora, tem pressa para empurrar as milícias para local distante, de modo a evitar bombardeamentos.

O premiê está pressionado para levar de volta para suas casas os 60 mil israelenses —todos sem morada, hospitais e escolas para os filhos.

Troca pela Otan já nasceu morta

O secretário-geral da ONU, António Guterres, dada como "persona non grata a Israel" e conhecido por infelizes declarações que revelam seu lado na guerra Israel contra Hamas, limitou-se a falar da gravidade dos ataques de Israel aos postos da Unifil e ressaltou, com acerto, a ocorrência de crime de guerra e contra o direito humanitário.

A ideia cogitada para substituir a Unifil pela Otan já nasceu morta. Na carta constitucional Atlântica, não há previsão para intervenção no Oriente Médio. Fora isso, haveria necessidade de aceitação pelos 32 Estados-membros —e, como todos sabem, a Turquia não aceitaria.

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A lembrar: a intervenção da Otan no Afeganistão decorreu de expresso pedido da ONU e uma exceção foi aberta, com a anuência de todos os Estados-membros.

História: a criação da Unifil

No ano de 1978, a OLP (Organização da Libertação da Palestina) ingressou pelo sul do Líbano e, em território do norte de Israel, matou 38 israelenses que viajavam em ônibus urbano.

Em resposta, Israel invadiu o sul do Líbano, considerado porta aberta para passagem de membros da OLP.

Em 1982 ocorreu outra invasão, em razão de novos ataques da OLP. Israel permaneceu na área por cerca de 20 anos e chegou a ter participação na Guerra Civil do Líbano

O Conselho de Segurança da ONU determinou a retirada de Israel da parte ocupada no sul do Líbano, criou a Unifil e foi traçada a linha azul, que cobre 120 km e corre entre o mar Mediterrâneo, a oeste, e Gollan, a leste.

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A área ocupada pelas instalações da Unifil, e vista por Netanyahu como obstáculo, tem pouco mais de 20 km e chega até o rio Litani.

No ano de 2006, com a guerra entre Israel e Hezbollah, o mandato da Unifil foi prorrogado e passou-se a falar em Unifil 2.

Naquele ano, Israel deixou o sul do Líbano e, segundo os especialistas em geopolítica e os 007 da inteligência ocidental, o Hezbollah passou a controlar a zona e intensificou os ataques a partir de 8 de outubro de 2023 —um dia após o ataque terrorista do Hamas, com 1.200 judeus mortos e 240 israelenses feitos reféns.

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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