Wálter Maierovitch

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Opinião

Dilema do líder do Irã é atacar Israel antes ou depois da posse de Trump

O velho e enfermo Ali Khamenei, líder máximo da teocracia iraniana, luta em duas frentes e, em ambas, corre contra o tempo.

A primeira diz respeito a Israel, e a segunda, a uma manobra para emplacar o próprio filho no seu lugar, como sucessor.

Todos sabem, em especial o primeiro ministro israelense, Benjamin Netanyahu, que Khamenei determinou ao Conselho Nacional de Defesa a execução de ataque a Israel.

Ninguém sabe, no entanto, quando ocorrerá o ataque, a sua duração e a intensidade.

Ele terá consequências diferentes caso efetivado antes ou depois da posse de Donald Trump, em 20 de janeiro de 2025.

Façam as suas apostas.

Réplica e tréplica

Os ataques parecem não ter fim: réplicas e tréplicas dadas militarmente como pontuais.

Mas, na visão de militares especializados em geoestratégia, esses ataques poderão levar a uma guerra total entre Israel e Irã.

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A situação de momento mostra, para usar uma linguagem futebolística, que a bola está no campo dos aiatolás.

Khamenei justifica o ataque recém-ordenado como revide iraniano às agressões de Israel às bases militares iranianas, em 26 de outubro.

Netanyahu contesta e lembra que Irã atacou Israel com uma chuva de 180 mísseis no início de outubro.

Os aiatolás não deixam Netanyahu sem resposta e apontam para o bombardeamento, em abril, do consulado iraniano em Damasco, com a morte do general Mohammad Reza Zahedi.

Também invocam o assassinato em território iraniano, em 31 de julho, do líder de relações exteriores do Hamas, Ismail Haniyeh.

Especulações

Nos campos político e militar, as especulações são intensas.

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Para uns, as forças do Estado teocrático iraniano irão atacar antes da posse do mercurial e imprevisível Donald Trump, em 20 de janeiro.

No campo dessas especulações, caso isso aconteça antes da posse de Trump, o presidente Biden, em fim de mandato, deverá assimilar o ataque ao aliado Estado de Israel e empurrar com a barriga, até a chegada do seu sucessor.

Aí, volta o problema da questão não resolvida. Cai no colo de Trump, como novo presidente. Trump mantém laços fortes com Netanyahu e compromissos com a comunidade judaica norte-americana. Terá de marcar posição e, certamente, ouvirá a Arábia Saudita, que corteja desde o seu primeiro mandato de presidente.

Novo ministro

Khamenei sabe que, no ataque já ordenado a Israel, encontrará no posto de ministro da Defesa um novo titular, Israel Katz.

Katz é ligado à direita radical e de obediência cega às ordens de Netanyahu.

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Tem mais: Israel já substituiu seu sistema de defesa. O motivo foi a vulnerabilidade do Domo de Ferro: dos 180 drones e mísseis iranianos lançados contra o país, dez deles romperam a barreira.

Dos lançados, 170 restaram interceptados, fato visto, sob o prisma militar, como fracasso. Por outro lado, não fossem bloqueados, a tragédia seria pior do que aquela acontecida no 7 de outubro de 2023, quando do ataque terrorista do Hamas.

Com a dispensa do ministro da Defesa, Yoav Gallant, um general da reserva com muito apoio popular, o sanguinário premiê Netanyahu ficará com as mãos livres.

Gallant era, dentro do gabinete de guerra, voz discordante de Netanyahu. Também discordante foi o general Benny Gantz, antigo primeiro-ministro e membro do gabinete de guerra pós-7 de outubro de 2023, que se exonerou por não suportar mais a arrogância de Netanyahu e a desatenção com os reféns. Passados mais de 400 dias em cativeiro, presumem-se que estejam vivos 110 reféns.

Enfim, Khamenei enfrentará a novidade decorrente de um ministro de Defesa que cumprirá sem discutir as ordens de Netanyahu.

Embora Netanyahu e Gallant fossem do mesmo partido, o Likud, de centro-direita, sempre divergiram em posições político-militares.

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Gallant priorizava solução para a libertação dos 110 reféns ainda vivos. Foi, ainda, contra o ataque ao Irã e se opôs firmemente, com sucesso, a revidar mirando as plataformas de petróleo e as bases nucleares iranianas. Com Trump, tudo poderá acontecer.

Sucessão

Khamenei não se saiu bem nem na retórica, nos embates contra Israel. Sua política expansionista territorial e religiosa de matriz xiita, que leva sustentação a Hamas, Hezbollah, Houthis, Jihad Palestina etc, é criticada mundo afora e implica forte oposição por parte dos árabes.

O guia supremo Khamenei suportou desmoralização quando o Mossad, sob as suas barbas e em prédio oficial, executou o líder político do Hamas, hóspede oficial vindo para a posse do novo presidente iraniano. A reação determinada, a chuva de 180 drones, foi entendida como fracassada, como já frisado acima.

Diante disso tudo, internamente, ele teme não emplacar seu filho, também um clérigo, como sucessor.

Caso o ataque ordenado represente um outro fracasso, Khamenei perderá todo o poder de influência, e o filho não chegará à liderança suprema do país.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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