Topo

UOL Confere

Uma iniciativa do UOL para checagem e esclarecimento de fatos


Bolsonaro mente na Globo ao dizer que não citou pílula abortiva em 1992

29.OUT.2022 - Presidente Jair Bolsonaro da TV Globo no segundo turno Imagem: Arte/UOL sobre Gabriel Bastos Mello/Estadão Conteúdo
Letícia Mutchnik e Abinoan Santiago

Do UOL, em São Paulo, e colaboração para o UOL, em Florianópolis

29/10/2022 01h59

O presidente Jair Bolsonaro mentiu no debate da Globo na noite de hoje (28) ao negar ter citado o uso de pílula abortiva em um discurso na Câmara dos Deputados em 1992, quando era deputado federal.

Adversário de Bolsonaro no 2º turno das eleições presidenciais, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) perguntou se ele se lembrava do discurso. O presidente respondeu:

Não confunda pílula do dia seguinte. Não confunda. Você tá pegando um jornal aí... Negativo. Abortivo é Cytotec. É pílula do dia seguinte. É isso? Outra coisa, 30 anos atrás? Eu posso mudar."

Falso. Em sessão do dia 3 de abril de 1992, Bolsonaro fez um discurso sobre controle da natalidade no Brasil. No discurso, ele defende a vasectomia e a laqueadura e faz referência "ao crescente problema da falta de, uma política efetiva de controle de natalidade no Brasil". Ao final, pede que seja transcrita uma matéria da Folha de S.Paulo sobre, nas palavras dele, "o início do uso da pílula de aborto na China".

A pílula citada na matéria é a Mifepristona (RU486), usada para aborto em gestações de até 13 semana. A RU486 bloqueia o hormônio necessário para a continuação da gravidez. Para o aborto, a Mifepristona deve ser usada em combinação com um medicamento de prostaglandina como Cytotec, citado por Bolsonaro, que ajuda o colo uterino a amolecer e dilatar, e o útero a se contrair.

No caso da pílula do dia seguinte, como relatou o UOL, não há evidências de que ela tenha efeito sobre o óvulo já fecundado, ou seja, ela não é abortiva. Pelo contrário, quando a gravidez já aconteceu, ela não tem efeito algum. O que ela faz é alterar o desenvolvimento dos folículos ovulatórios e retardar os espermatozóides.

Criada em 1974, a pílula do dia seguinte só teve sua comercialização aprovada no Brasil em 1999, sete anos depois do discurso de Bolsonaro.

Outras falas. No debate, Bolsonaro voltou a dizer que o PT votou contra o Auxílio Brasil, o que não é verdade. Ele também desinformou ao dizer que a "Jovem Pan foi calada" e ao negar levantamento de que ele mentiu mais de 6 mil vezes ao longo do mandato. Confira outras checagens de falas do candidato:

Essas seis mil e poucas mentiras estão na tua cabeça, você não conta nenhuma aqui. Você não conta nenhuma mentira aqui, tá na tua cabeça. Lula, para de mentir, Lula. Para de mentir. Tá ficando feio, Lula".

Falso. Levantamento da agência de checagem Aos Fatos reúne pelo menos 6.498 declarações falsas ou distorcidas por Bolsonaro ao longo de 1.394 dias de mandato. O balanço é atualizado semanalmente com base em checagens realizadas pelas equipes de jornalistas da agência.

A rádio Jovem Pan foi calada pelo ministro Alexandre de Moraes e o TSE [Tribunal Superior Eleitoral]. Mas quem entrou com a ação contra a Jovem Pan foi o teu partido, Lula. Foi o teu partido que entrou com uma ação no TSE para calar a rádio Jovem Pan".

Distorcido. Foi a coligação da campanha do ex-presidente Lula que pediu ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral) que a Jovem Pan fosse obrigada a dar direitos de respostas sobre a situação judicial do petista, e não de proibir comentário sobre ele.

Em comentários de 29 e 31 de agosto, jornalistas afirmaram que Lula não foi inocentado, em sim "descondenado" pelo STF. O petista pediu direito de resposta sobre essas declarações.

A Corte concedeu o direito de resposta ao petista, mas também determinou que a emissora e seus comentaristas "se abstenham de promover novas inserções e manifestações sobre os fatos tratados nas representações", ou seja, a situação dos processos de Lula. O caso foi tratado como censura pela emissora. Como as condenações contra Lula foram anuladas e alguns dos crimes prescreveram, ele é juridicamente inocente.

O UOL Confere aplica o selo distorcido a conteúdos que usam informações verdadeiras em contexto diferente do original, alterando seu significado de modo a enganar e confundir quem os recebe.

Nós concedemos reajuste para os aposentados e majoramos o salário-mínimo."

Distorcido. Bolsonaro concedeu reajuste para os aposentados e no salário-mínimo pelo quarto ano seguido de acordo o aumento percentual da inflação, mas isso não representou aumento real no valor.

Dados do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) mostram que o salário mínimo real teve redução de 3,7% entre janeiro de 2019 (R$ 1.259,01) a setembro de 2022 (R$1.212,00), último mês com dados do Instituto disponíveis.

E deixo bem claro, Lula: por que a sua bancada na Câmara dos Deputados, quando nós criamos o Auxílio Brasil, todos os deputados votaram contra a criação do Auxílio Brasil. Por quê, Lula? Responda aí.

Falso. A bancada do PT não votou contra o Auxílio Brasil, projeto que foi criado por meio de uma MP (Medida Provisória), aprovada em 25 de novembro de 2021. O Congresso validou a matéria de forma unânime.

O PT está entre os partidos que aprovaram o texto-base da medida na Câmara. No Senado, apesar de não haver registro individual de votos, as notas taquigráficas da sessão mostram que senadores do PT se posicionaram a favor da aprovação.

O partido também votou a favor do auxílio de R$ 400 e do aumento do pagamento para R$ 600.

O UOL Confere é uma iniciativa do UOL para combater e esclarecer as notícias falsas na internet. Se você desconfia de uma notícia ou mensagem que recebeu, envie para uolconfere@uol.com.br.

Comunicar erro

Comunique à Redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:

Bolsonaro mente na Globo ao dizer que não citou pílula abortiva em 1992 - UOL

Obs: Link e título da página são enviados automaticamente ao UOL

Ao prosseguir você concorda com nossa Política de Privacidade


UOL Confere