Prédio da Enel incendiado no Chile não teve relação com falta de luz

Um incêndio criminoso que atingiu o edifício da Enel em Santiago, no Chile, em 2019, não teve relação com a falta de energia no país.

Em meio ao caos causado por fortes chuvas e ventos que atingiram o estado de São Paulo na última sexta-feira (11), deixando centenas de milhares de pessoas sem luz, publicações viralizaram relembrando o caso no Chile. Naquela ocasião, porém, o incêndio foi provocado durantes protestos sociais por causa da alta da tarifa do metrô.

O UOL Confere considera distorcido conteúdos que usam informações verdadeiras em contexto diferente do original, alterando seu significado de modo a enganar e confundir quem os recebe.

O que diz o post

Vídeo postado em redes sociais mostra um prédio pegando fogo. Sobre o vídeo, está escrito: "Em outubro de 2019, chilenos atearam fogo no prédio da ENEL"

Os posts foram feitos no último fim de semana, quando São Paulo sofria com o apagão. Nos comentários, as pessoas dizem crer que o incêndio foi provocado como sendo uma reação à falta de luz na capital chilena.

Por que é distorcido

Protestos no Chile não tinham relação com falta de energia elétrica. Apesar disso, um dos alvos dos manifestantes foi o prédio da Enel no centro de Santiago (aqui e aqui, em espanhol). O fogo teria tido início nas escadas externas do edifício, se alastrando para pisos superiores. Em nota à época, a Enel declarou que um grupo havia "atacado" as dependências do edifício, em especial a escada de emergência. Veja abaixo imagens do incêndio, considerado como "criminoso" pela empresa:

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Série de protestos atingiu a capital chilena em outubro de 2019. O que começou com manifestações contra o aumento nas passagens do metrô evoluiu para protestos violentos entre população e policiais. Durante dias seguidos, milhões de chilenos foram às ruas contra o ajuste de 30 pesos na tarifa do metrô, cerca de R$ 0,18 centavos na época.

Estudantes durante protesto contra o aumento da tarifa do metrô em Santiago
Estudantes durante protesto contra o aumento da tarifa do metrô em Santiago Imagem: Jonathan Oyarzun/Aton Chile/AFP

Estações do metrô foram depredadas e palco de tumultos. Parte dos manifestantes paralisou diferentes linhas que cruzavam a cidade, enquanto outra parcela de chilenos quebraram catracas e derrubaram portões nas estações. Por conta do ocorrido, a circulação do metrô chegou a ser suspensa.

Pressão dos protestos fez com que presidente revogasse aumento nas passagens. Sebastián Piñera, então presidente do país, suspendeu o ajuste nos bilhetes. No entanto, os protestos continuaram tomando conta das ruas chilenas, com bombas de gás lacrimogêneo e jatos d'água por parte das autoridades e pedras e paus sendo arremessados pelos participantes dos protestos. Nesta altura, as manifestações haviam se fortalecido e passado a contestar o governo de Piñera como um todo, exigindo uma nova Constituição no país.

Violência escalou e se espalhou por Santiago. O combate entre manifestantes e policiais fez com que o Estado de Emergência fosse declarado pelo governo, e o exército foi às ruas pela primeira vez desde o final da ditadura de Augusto Pinochet, que perdurou até 1990. Barricadas foram espalhadas pelas avenidas e ruas da capital.

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Policial em chamas durante protesto contra o governo do Chile em Santiago
Policial em chamas durante protesto contra o governo do Chile em Santiago Imagem: Jorge Silva/Reuters

Protestos culminaram em votação para nova Constituição. Em setembro de 2022, a primeira tentativa de atualização do documento fracassou nas urnas, quando 62% votaram pela "rejeição" das propostas de líderes independentes e de esquerda. Já em dezembro de 2023, liderada por nomes da direita, nova proposta foi rejeitada com pouco mais de 55% de votos contrários. Com as negativas, continua em vigor a Constituição aprovada em 1980 no regime de Pinochet.

O que aconteceu no Brasil

Temporal atingiu diversas cidades do estado de São Paulo e prejudicou fornecimento de energia. Até está segunda-feira (14) de manhã, mais de 500 mil imóveis estavam sem energia elétrica no estado. Somente na capital, mais de 350 mil clientes estavam sem luz desde o final da sexta-feira, segundo boletim da Enel divulgado de manhã.

Além da cidade de São Paulo, municípios na Região Metropolitana também têm imóveis sem luz. Cotia, Taboão da Serra e São Bernardo do Campo ainda sofrem as consequências da tempestade. Segundo a Enel, até o momento 1,5 milhão de casas tiveram energia restabelecida.

Enel será intimada por demora no restabelecimento de energia. A Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) afirmou que a resposta da concessionária ao apagão ficou "aquém do esperado". Equipes do Rio de Janeiro e do Ceará, estados que também têm a Enel como distribuidora de energia elétrica, vieram a São Paulo para ajudar no reparo dos problemas, segundo a concessionária.

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Chuva repentina com ventos recordes causou o desligamento de várias linhas de alta tensão e subestações de energia. A Enel culpa o que chamou de "evento climático extremo" pelos estragos causados aos paulistas.

Errata:

o conteúdo foi alterado

  • Diferentemente do informado, incêndio não teria começado em escadas rolantes externas, mas nas escadas externas. Informação foi corrigida.
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