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Técnica de enfermagem é presa no RS acusada de sedar 11 recém-nascidos

Flávio Ilha<br/> Especial para o UOL Notícias<br/> Em Porto Alegre

14/11/2009 08h28

Atualizada às 12h14

Uma técnica de enfermagem do Hospital Universitário da Ulbra (Universidade Luterana do Brasil) foi presa na madrugada deste sábado (14) acusada de usar sedativos em 11 recém-nascidos. O crime ocorreu em Canoas, região metropolitana de Porto Alegre. Ela nega a acusação.

  • Marcos Nagelstein/Agência RBS

    Vanessa foi presa neste sábado acusada de
    aplicar tranquilizantes em bebês recém-nascidos

Vanessa Pedroso, 25, vinha aplicando uma mistura de diazepan e morfina em bebês saudáveis desde segunda-feira (9). Como as crianças apresentaram sintomas de intoxicação, a diretoria do hospital coletou sangue de cinco dos 11 recém-nascidos. O Laboratório Central do Estado confirmou na sexta-feira (13) à tarde a presença dos sedativos.

Os tranquilizantes podem ser aplicados em bebês apenas em situações de emergência. As crianças intoxicadas foram encaminhadas à UTI do hospital, onde ainda recebem tratamento. Nenhuma delas corre risco de morte.

A diretora do hospital da Ulbra, Eleonora Walcher, disse que começou a perceber os sintomas na segunda-feira. "Os bebês estavam fracos, desmaiavam e evoluíam rapidamente para um quadro de parada respiratória sem causa aparente", disse. Ela informou que as crianças tinham de cinco a seis horas de vida apenas quando receberam a medicação.

O delegado Guilherme Pacífico, da 1ª Delegacia de Canoas, autuou Vanessa em flagrante por tentativa de homicídio. Ela depôs durante duas horas. Segundo o delegado, no momento da prisão foi encontrada uma seringa na bolsa da técnica de enfermagem. O equipamento será periciado.

Em entrevista coletiva neste sábado (14) o delegado relatou que a técnica de enfermagem confessou que administrava 1 ml de tranquilizante, via oral, aos bebês em um primeiro depoimento informal que deu à polícia ainda de madrugada, porém, quando o advogado chegou, orientada, ela negou.

Pacífico conta ainda que a polícia passou a suspeitar de Vanessa verificando a escala de trabalho no hospital. No dia em que ela estava de folga, não foi relatado nenhum caso de problema na maternidade, já nos dias em que ela estava trabalhando, houve os registros dos 11 recém-nascidos com parada respiratória. "Mesmo que ela não tenha confessado formalmente, os fatos circunstanciais apontam a responsabilidade dela nestes episódios", afirmou o delegado. A polícia também revistou o armário da suspeita e encontrou uma seringa com morfina.

O delegado também falou em alguns motivos que levaram Vanessa a sedar os bebês. Um deles seria uma trauma familiar, levando em conta que na família dela houve uma tentativa de suicídio, e ela ficou abalada com isso. O outro seria a frustração profissional. A técnica tentou ingressar na faculdade de medicina, mas não conseguiu. Por isso, não aceitava ordens dos médicos. Ela passou a ministrar os medicamentos aos bebês, para que eles tivessem problemas, e ela pudesse detectar e mostrar aos médicos que era capaz.

Demora do hospital
Na noite de sexta, os pais começaram a ser avisados do que havia ocorrido. Segundo a direção do hospital, a confirmação só foi possível depois do laudo do Laboratório Central. Algumas famílias reclamaram que não foram comunicadas da intoxicação.

O centro obstétrico do Hospital da Ulbra, que realiza cerca de 100 partos por mês, suspendeu temporiamente o atendimento a gestantes. Elas estão sendo encaminhadas ao Hospital Nossa Senhora das Graças.

O secretário estadual da Saúde, Osmar Terra, classificou a suspeita como "psicopata". "É uma pessoa doente", disse.

Vanessa foi recolhida ao presídio feminino Madre Pelletier e será indiciada por tentativa de homicídio qualificado por envenenamento.