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Volume extremo de chuvas em Pernambuco aumentou tragédia em Alagoas

Município de Rio Largo (AL) é atingido pela forte cheia do rio Mundaú - Thiago Sampaio/Agência Alagoas
Município de Rio Largo (AL) é atingido pela forte cheia do rio Mundaú Imagem: Thiago Sampaio/Agência Alagoas

Do UOL Notícias <BR> Em São Paulo

24/06/2010 07h00Atualizada em 24/06/2010 16h27

O volume elevado de chuvas em Pernambuco, associado à ausência de infraestrutura adequada para a contenção de cheias, influenciaram a devastação sem precedentes em Alagoas, nas regiões próximas ao rio Mundaú e Paraíba.

"Não tenho mais cidade", diz prefeita

Segundo dados do Laboratório de Meteorologia de Pernambuco (Lamepe) --órgão do governo do Estado --todos os pontos de medição na região apontam um volume de chuvas muito acima da média histórica.

Em Garanhuns, em apenas 20 dias, choveu 311 mm, o que representa quase o triplo da média histórica para o mês inteiro, que é de 121 mm. Neste ponto de medição, o Lamepe registrou 56 mm na sexta-feira (18) e 80 mm no sábado (19), dias em que as cidades alagoanas foram devastadas pelas cheias.

Já na região de Canhotinho (PE), onde nasce o principal afluente do alto rio Mundaú, em 20 dias choveu 540 mm, contra 158 mm da média histórica para junho. Só na sexta e no sábado, o volume de chuva captado no local foi de 117 mm. Em Correntes (PE), que fica abaixo de Garanhuns e antes da divisa com Alagoas, só no sábado choveu 184 mm, valor superior à média histórica para o mês inteiro, que é de 165 mm.

Segundo Alex Gama, secretário de Meio Ambiente e Recursos Hídricos de Alagoas, os dados derrubam a hipótese de que as inundações tenham se agravado por um possível rompimento de alguma barragem, ou, ainda, em razão da abertura indevida de comportas. “Isso tudo é boato. Fomos a campo e analisamos. Há pequenos rompimentos de barragens, mas que foram irrelevantes. O que causou tudo isso foi a chuva intensa em Pernambuco, na cabeceira dos rios que chegam em Alagoas.”

Veja como ajudar as vítimas das chuvas

As chuvas dos últimos dias deixaram dezenas de mortos e milhares de desabrigados e desalojados nos Estados de Alagoas e Pernambucos. Há vários pontos para a entrega de donativos às vítimas.

No município de Bom Conselho (PE), que fica na cabeceira do rio Paraíba, choveu 243,4 mm nos 20 dias medidos em junho, quase quatro vezes mais do que a média histórica para o mês, que é de 78 mm. “Já estava chovendo muito. O solo estava saturado, não poderia receber nenhuma gota a mais de água, mas em dois dias choveu muito”, disse o secretário.

O período chuvoso na costa leste do Nordeste --entre o recôncavo baiano e o litoral potiguar-- ocorre entre os meses de abril e agosto. Nessa época, com frequência cidades de Pernambuco e de Alagoas são afetadas pelas cheias dos rios, embora não com a mesma intensidade verificada nesse ano.

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O secretário afirmou que não há barragens ou diques de contenção nos rios Mundaú e Paraíba e que a região carece de infraestrutura para evitar enchentes. “Não temos barragens, nem diques. Se tivéssemos, conseguiríamos reduzir a intensidade dessa tragédia. Não temos controle dos eventos [naturais], mas a engenharia consegui diminuir o tamanho do desastre.”, disse.

Números da tragédia
As cheias que assolaram os municípios alagoanos no final da semana passada já mataram 29 pessoas e obrigaram 73.828 a abandonarem suas casas --entre desalojados e desabrigados. No total, as enchentes dos rios atingiram 26 municípios alagoanos e deixaram 15 deles estado de calamidade pública. Em Pernambuco, são 15 mortos, mais de 40 mil pessoas fora de casa e nove cidades em calamidade pública.

Cidade de SP também 'sumiu'

  • Joel Silva/Folha Imagem

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As cidades alagoanas mais destruídas são Branquinha, União dos Palmares, Rio Largo, Santana do Mundaú, São José da Laje, Murici, Quebrangulo, Paulo Jacinto e Joaquim Gomes. Todas ficam às margens dos rios Mundaú ou Paraíba, que nascem na microrregião de Garanhuns (PE), no agreste pernambucano. 

Os rios Mundaú e Paraíba são federais, já que cortam mais de um Estado. A responsabilidade pela construção das obras é do governo federal, que pode delegar esse papel ao governo estadual, por meio de outorga. De acordo com Alex Gama, nesta quinta-feira o presidente Luiz Inácio Lula da Silva se reunirá com o governador de Alagoas, Teotônio Vilela (PSDB) e com secretários de Estado para tratar das obras de contenção de cheias e de medidas para retirar a população que vive em áreas de risco.

"Indícios de rompimento"
Diferentemente do secretário, o engenheiro Vladimir Caramori, professor da Universidade Federal de Alagoas (Ufal) e doutor em Recursos Hídricos e Saneamento Ambiental, não destaca a hipótese de que a tragédia nas cidades alagoanas tenha sido causada por outros fatores, e não só pelo excesso de chuvas em Pernambuco.

“Há indícios de que tenha havido o rompimento de barragem, ou algo do gênero”, afirmou. “Ocorreram duas características importantes: a velocidade da água e a rapidez com que a água tomou conta das casas. Em Rio Largo (AL), a cheia começou 7h de sábado e em meia hora a água já estava no teto das casas. Já aconteceram cheias desse nível, só que dessa vez não sobrou uma casa em pé. Mas nós estamos coletando informações para entender melhor o que aconteceu”, afirmou.

O engenheiro diz que tem que ser investigada a hipótese de as enchentes terem sido agravadas por rupturas em sequência de pequenos açudes. “Há uma quantidade gigantesca de pequenos açudes no Nordeste. Eles são construídos sem muito conhecimento dos órgãos gestores”, disse.  

Cidades que decretaram calamidade pública