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Cenário de catástrofe contrasta com o que resta da comemoração dos 50 anos de Santana do Mundaú

Ivan Richard<br>Enviado especial da Agência Brasil<br>Em Santana do Mundaú (AL)

27/06/2010 15h23

As ruas enfeitadas com bandeirinhas em verde e amarelo e algumas faixas que lembram a recente comemoração pelos 50 anos da cidade contrastam com a destruição causada pela enchente ocorrida há praticamente uma semana no município alagoano de Santana do Mundaú. Assim como outras cidades do Estado, banhadas pelo rio Mundaú, o município teve a maior parte de seu território destruído pela enxurrada.

“Era uma cidade limpa, organizada e agora praticamente tudo foi destruído”, disse o tenente-coronel da Defesa Civil estadual Gilson Romeiro, que coordena as ações de ajuda no município.

Agora, pelas ruas, máquinas do governo do Estado e do Exército tentam retirar a enorme camada de areia e barro que se formou após a enchente. Em algumas delas, os montes passaram de 1,5 metro de altura.

“Foi um dilúvio. Agradecemos a Deus por estarmos vivos. Ainda bem que tudo aconteceu durante o dia. Se fosse à noite tinha morrido muita gente”, disse a dona de casa Maria do Socorro em frente à sua casa que foi totalmente coberta pela enchente.

A secretária executiva de Defesa Civil e coordenadora de Saúde no município, Rita Bittencourt, afirmou que a cidade não pode ser reconstruída no mesmo local. Segundo ela, o número de mortes, duas no total, não foi maior porque houve um intenso trabalho de alerta à população e a tromba d'água ocorreu durante o dia.

“A cidade não pode se mais construída aqui. Foram milhões perdidos. [Na parte alta da cidade] temos terrenos particulares que poderiam ser comprados pelo governo ou doados pelos donos. Ou a gente tira o povo [daqui] ou vai continuar morrendo gente”, alertou, ao lembrar-se de outras enchentes de menores proporções que atingiram a cidade nos anos de 1988, 1992 e 2009.

Após a catástrofe, Rita desabafou que, apesar do apoio do governo estadual e da solidariedade das pessoas, teme o fim da ajuda com o passar dos dias. “Nossa angústia é que daqui a um mês vão abandonar a gente. É a partir da próxima semana que devem começar os problemas de saúde devido à sujeira. Precisaremos de apoio.”

De acordo com a Defesa Civil, em Santana do Mundaú, 12.039 pessoas foram atingidas pela enchente. Foram 2.532 desalojados, 3.758 desabrigados, duas pessoas mortas e uma ainda está desaparecida.

O aposentado Manoel Braz, que mora em Santana do Mundaú há mais de 40 anos, relatou que durante a enxurrada da última semana as águas do Rio Mundaú lembravam ondas do mar, que passaram levando tudo pela frente. “Subimos para a parte alta da cidade e só podemos observar a destruição.”

Ao todo, em Alagoas, 26.618 pessoas ficaram desabrigadas, 47.897, desalojadas e 34 morreram nos 28 municípios afetados pelas enchentes.