Brasileiros dão nota baixa para qualidade de vida no país, diz ONU; região Norte tem pior índice
Quanto falta para o Brasil se tornar um país onde as escolas ofereçam oportunidades reais e trabalhem em conjunto com a família, onde os locais de trabalho deixem as pessoas felizes e realizadas, e onde o atendimento médico não seja apenas eficiente, mas também acolhedor aos pacientes. Pelo novo indicador de desenvolvimento lançado nesta terça-feira (10) pelo Pnud (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento), ainda falta muito para o Brasil chegar no ideal.
O chamado Índice de Valores Humanos (IVH) é uma média de três outros índices que consideram a vivência e a percepção da população nas áreas da saúde (IVH-S), da educação (IVH-E) e do trabalho (IVH-T) na hora de medir o desenvolvimento em cada uma das cinco regiões do país. Em uma escala de 0 a 1, são pontuados, por exemplo, o respeito no atendimento médico, a qualidade da convivência escolar e familiar e as experiências positivas no ambiente profissional.
Neste primeiro levantamento feito por pesquisadores brasileiros, foram ouvidas 1.887 pessoas em 148 cidades de 24 unidades da federação. As regiões Sul e Sudeste apresentaram os maiores valores de IVH (0,62) e a região Norte, o pior resultado (0,50). O Centro-Oeste e o Nordeste aparecem com 0,58 e 0,56, respectivamente. (Veja o gráfico 1)
Os resultados, no entanto, estão longe do 1, o máximo de avanço que um país pode alcançar. Por exemplo, o IVH-S da região Sudeste, considerada uma das mais desenvolvida, beira a metade do ideal (0,51 de um máximo de 1). Quase um quarto dos entrevistados acha o linguajar médico difícil ou muito difícil, 43% reclamam da demora no atendimento tanto na rede privada quanto na pública, e mais de 70% consideram o interesse demonstrado pelos profissionais de saúde regular ou insuficiente.
No Norte, onde 67% reclamam do tempo de espera nas consultas, 62% da dificuldade em entender o que o médico está dizendo e mais de 85% do atendimento dados pelos profissionais, o IVH-S cai para 0,31. (Veja o gráfico 2)
Já o índice do trabalho foi o que mais contribuiu para a boa colocação da região Sul, onde foi registrada a melhor relação entre vivência de prazer e de sofrimento. No Sudeste, a população relata até mais casos de situações de prazer, mas os momentos de sofrimentos são experimentados em maior número que no Sul. (Veja o gráfico 3)
O IVH-T contabiliza o número de vezes que um trabalhador experimentou 17 tipos de vivência de prazer e 15 de sofrimento nos seis meses anteriores à pesquisa ou no último emprego no caso de desempregados, tais como realização profissional e a liberdade de expressão, o esgotamento emocional e a falta de reconhecimento.
O Sul aparece com IVH-T de 0,84, o Sudeste com 0,80, o Nordeste com 0,78, o Norte com 0,74 e o Centro-Oeste, com 0,68. O Brasil acumulou um índice de 0,79, bem mais alto que os índices da saúde.
No campo da educação, houve pouca variação entre as regiões (0,53 a 0,55), com exceção do Norte que apresentou baixo desempenho também neste índice (0,47). Ali, 40% da população avalia que o mais importante do estudo é garantir um bom emprego. O restante do país (36,2%) considera a educação uma maneira para formar um bom cidadão, percepção que provoca maiores benefícios públicos, e não individuais. (Veja o gráfico 4)
Complemento ao IDH
O Índice de Valores Humanos (IVH) é uma tentativa brasileira de humanizar o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), que tradicionalmente mede os avanços alcançados por 182 nações em três aspectos: vida longa e saudável (baseado na esperança média de vida ao nascer), acesso ao conhecimento (baseado na alfabetização e na escolarização) e nível de vida digno (baseado no PIB per capita associado ao poder de compra em dólares americanos). Com a participação da população na análise dos serviços nos quais se baseiam os índices do IDH, os números ficam mais reais, e a solução dos problemas, mais eficaz.
Isso quer dizer que, ao contrário do IDH, que serve para orientar políticas governamentais, o IVH aponta caminhos e políticas públicas articuladas entre o governo, as entidades (empresas, escolas, hospitais) e a população.
"Frequentemente vemos política pública que servem para obter um melhor indicador social. Com os índices de valor, podemos medir o resultado pelo processo, pelos aspectos mais qualitativos, pelas experiências vividas e pela opinião das pessoas. E não pela abstração. Antes era: mais trabalho, mais dinheiro. Agora é: como você está vivendo? Eu não posso dizer qual é a expectativa de vida, mas pode dizer que se eu morrer os médicos não estão nem aí”, explicou Flávio Comim, economista-chefe do Pnud Brasil e coordenador do Relatório de Desenvolvimento Humano Brasileiro 2009/2010.
Nesse sentido, o Brasil, que hoje ocupa a 75º posição no ranking mundial com um IDH de 0,813, deve investir em programas multifocais que melhorem a qualidade do serviço prestado na saúde, na educação e no trabalho para que saia de um índice baixo de 0,59 para um mais próximo de 1.
Por exemplo, a partir da percepção de que a educação de uma criança depende de uma relação entre professores e família, de que as inspirações de um jovem são influenciadas pelos ambientes familiar e escolar e de que o desempenho dos pais e dos professores é diretamente afetado pelas experiências negativas ou positivas no mundo do trabalho é possível estabelecer novas soluções para problemas que antes eram tratados separadamente. E uma solução mais ampla: a busca por uma vida com paz e feliz.
Segundo o relatório do Pnud, uma medida simples e eficaz de agregar valor na sociedade e melhorar o ambiente, é inserir o esporte ou as pracinhas no cotidiano da população, que são formas de estimular a socialização, principalmente dos jovens, e acabar com a segregação espacial imposta por muros e ruas.
“Isso não é novo, mas devemos enfatizar, cruzar políticas, apontar os responsáveis pelo mundo ideal. As pessoas só podem cobrar por aquilo que vêem. E é essa especificidade que queremos medir com esse índice, cuja aplicabilidade ainda deve ser construída”, resumiu Comim.
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.