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Força Nacional vai investigar mortes de moradores de rua em AL; secretário suspeita de grupo de extermínio

Carlos Madeiro<br>Especial para o UOL Notícias<br>Em Maceió (AL)

14/11/2010 07h01

O Ministério da Justiça designou a Força Nacional da Policia Judiciária para investigar as mais de 30 mortes de moradores de rua ocorridas em Maceió em 2010. O anúncio foi em Maceió, nesta sexta-feira (12), pelo secretário nacional de Segurança Pública, Ricardo Balestreri. Apesar de não apresentar detalhes dos crimes, ele suspeita da existência de grupos de extermínio e envolvimento de policiais alagoanos nas execuções.

Segundo a Polícia Civil de Alagoas, já foram registrados 31 homicídios a sem-tetos este ano, sendo 30 deles na capital. Na terça-feira, o Ministério Público de Alagoas já havia denunciado três policiais civis por envolvimento em pelo menos uma morte de morador de rua. Os acusados já se pronunciaram e negaram veementemente a participação no crime.

De acordo com Balestreri, o pedido do ingresso da Força Nacional nas investigações foi feito pessoalmente pelo governador de Alagoas, Teotonio Vilela Filho (PSDB), ao ministro da Justiça, Luiz Paulo Barreto. "Nós prontamente atendemos ao pedido e designamos o coordenador da missão da Força [delegado goiano Eraldo José Augusto] para comandar esta investigação. Parte dos inquéritos já nos foi repassada pela polícia local", informou, sem dar prazo para conclusão.

Para o secretário, o histórico de crimes desse tipo aponta para a existência de grupo de extermínio. "Seria muita ingenuidade imaginar que essas mortes são casualidade. Um número desses, pela experiência que temos, aponta para existência de grupo de extermínio. E onde há grupo de extermínio há participação de policiais, e aqui não seria diferente", afirmou o Balestreri.

Balestreri afirmou ainda que a participação da Força Nacional faz parte de uma estratégia para preservar a própria polícia alagoana, já que há indícios de integrantes da corporação nos crimes. “Em grupos de extermínio sempre há maus policiais, com perfil psicopata. A gente sabe que há ameaças aos bons policiais em casos assim, e a participação de uma força federal traz uma repercussão nacional ao caso. Um crime contra um policial dessas forças teria repercussão internacional, e ninguém se atreveria a fazer isso. Nossa participação preserva também a competente polícia alagoana”, ressaltou.

Segunda ação em uma semana
A entrada da Força Nacional é a segunda ação do governo federal esta semana para tentar frear a onda de homicídios de moradores de rua em Maceió. O assessor especial da Secretaria Nacional de Direitos Humanos, Ivair Augusto dos Santos, esteve em Maceió para coordenar uma série de ações para proteção dos desabrigados. Foi a segunda visita dele em menos de 30 dias.

Uma equipe do Ministério do Desenvolvimento Social também esteve na capital alagoana para orientar sobre ações, em âmbito municipal, e ajudar a garantir abrigos e medidas de proteção. Segundo levantamento do MDS, 312 pessoas vivem nas ruas da capital. O relatório completo foi entregue à prefeitura.

Como medidas emergenciais, a Prefeitura de Maceió criou, na quinta-feira (11), um comitê composto por vários órgãos e instituições para planejar ações e políticas públicas para os sem-teto da capital. Outra medida adotada foi a ampliação do número de vagas do albergue público de 50 para 100, com pedido reforço policial no local.

“Nós estamos apoiando as instituições alagoanas a resolverem o problema. Isso não é um problema só da assistência social ou da segurança. Passa por um conjunto de ações, desde saúde a documentação. Esse comitê é uma ideia inédita que deve ser replicada pelo resto do país para discutir a situação de vulnerabilidade das pessoas que vivem nas ruas”, afirmou Ivair.