'Despreparados', diz viúva de morto na Operação Verão; PMs viram réus
A Justiça aceitou a denúncia contra dois agentes da Rota por homicídio qualificado na Operação Verão por dificultarem a defesa da vítima, modificarem a cena do crime e obstruírem a captação de uma câmera corporal no assassinato de Allan dos Santos, baleado no dia 10 de fevereiro em Santos, no litoral de São Paulo.
O que aconteceu
Agente da Rota obstruiu captação de imagem de câmera acoplada na farda antes de abordagem ao carro da vítima, diz o Ministério Público. Segundo a Promotoria, o cabo Glauco Costa inclinou o corpo para frente, impedindo o registro da ação. Já o tenente Diogo Maia estava com a sua câmera corporal descarregada.
PMs simularam disparos para alegar confronto, indica o MP. Segundo a denúncia, os agentes colocaram uma cápsula de projétil dentro do veículo conduzido por Allan dos Santos para alegar a falsa versão de confronto.
O meu marido estava vivendo com dignidade. Aí, policiais despreparados tiraram a vida dele. É só a verdade que a gente quer. A gente não vai ter o Allan de volta, mas a Justiça será feita.
Luciana de Castro, viúva
Agora réus, agentes terão prazo de dez dias para que possam apresentar as suas versões do caso à Justiça. O UOL não localizou os advogados dos PMs Glauco Costa e Diogo Maia. A reportagem também pediu posicionamento da SSP-SP (Secretaria da Segurança Pública de São Paulo). Assim que houver manifestações, elas serão incluídas no texto.
Ação mais letal desde o Carandiru
Encerrada em abril deste ano, a Operação Verão deixou 56 pessoas mortas. Com isso, se tornou a ação mais letal da PM paulista desde o Massacre do Carandiru, quando 111 detentos foram mortos após rebelião no presídio em 1992.
Mortes na ação policial na Baixada Santista começaram após assassinato de soldado da Rota. O PM Samuel Wesley Cosmo morreu horas após levar um tiro no olho quando fazia patrulhamento no bairro Rádio Clube em Santos, no dia 3 de fevereiro. Cinco dias depois, o cabo da PM José Silveira dos Santos foi baleado no abdômen e também morreu.
Versão repetida durante a Operação Verão, de que o suspeito foi socorrido e morreu a caminho do hospital, reforça a suspeita de especialistas de alteração de cena de crime. Na denúncia da Justiça contra dois PMs da Rota pelo assassinato de Allan dos Santos, os agentes também responderão por suspeita de terem forjado confronto para justificar o assassinato. Moradores ouvidos na época pelo UOL denunciaram abusos.
[Com a alteração de cena do crime], não é possível analisar a posição do corpo e discutir a possível trajetória de disparos.
Cássio Thyone Rosa, perito criminal aposentado e membro do Fórum Brasileiro de Segurança Pública
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