Areal (RJ) tem 60% da população em área de risco; cidades atingidas pela chuva ainda devem levar um mês para fazer cálculo
Em estado de calamidade pública devido às chuvas da última semana, a maioria das sete cidades da região serrana do Rio de Janeiro ainda não sabe quantos de seus moradores estão em áreas consideradas de risco. Das sete, apenas Areal, município com pouco mais de 11.400 habitantes, tem uma estimativa. “Pelo menos 60% da nossa população ainda está em área de risco –porque Areal é um vale entre montanhas, e esse percentual vive às margens dos rios Preto e Piabanha”, afirmou o secretário municipal de Meio Ambiente, Luís Felipe Rabelo Barros.
As demais cidades afetadas pelo temporal devem ter o levantamento em um mês, segundo o coronel Sérgio Marrafa, coordenador executivo regional da Defesa Civil estadual da região serrana e ex-coordenador da Defesa Civil municipal em Nova Friburgo –cidade até agora mais devastada pelas enchentes e deslizamentos.
Em um grupo liderado no número de mortos por Nova Friburgo, seguido de Teresópolis, Petrópolis, Sumidouro, São José do Vale do Rio Preto e Bom Jardim, Areal foi a única a não registrar mortes, já que um alerta dado pela prefeitura horas antes do deslizamento de encostas e da cheia dos rios garantiu a evacuação de pontos de alto risco. Pelos cálculos do próprio município, cerca de 500 casas serão interditadas nos próximos dias.
“A cidade foi construída sem observar a legislação vigente do Código Florestal de 1965, e, ainda que pelo número de habitantes não sejamos obrigados a isso, estamos elaborando um Plano Diretor para direcionar o crescimento a posterior retirada dessas pessoas”, afirmou o secretário de Ambiente. Indagado sobre ações imediatas para retirada dos moradores em áreas de risco, resumiu: “Estamos esses dias fazendo um pente fino com a Defesa Civil para ver o que precisa ser interditado; por ora, temos 500 casas nessas situações".
“Acidente da natureza”
Na cidade mais devastada pela chuva, o secretário municipal de Comunicação, David Massena, disse que “não há” moradores em áreas consideradas de risco –ainda que o Ministério Público estadual e a Defesa Civil já tenham prometido, nos últimos dias, retirar 1.400 pessoas de locais de risco na cidade, incluindo o bairro de Alto Floresta. É lá, por exemplo, que o UOL Notícias flagrou um casal que vive embaixo de um barranco e com a casa com um metro de lama.
“A gente tem feito um trabalho de conscientização, mesmo no Alto da Floresta fizemos intervenções com assistentes sociais. Temos muito cuidado em relação a esse tipo de assunto, mas sabemos que o friburguense tem um outro tipo de consciência”, definiu Massena. “Sabemos que nada dessa tragédia ocorreu porque teve área de risco –foi um acidente da natureza incontrolável, mas estamos acelerando o processo da construção de 30 mil moradorias aos afetados. O fato é que as pessoas têm reconhecido que não podem ficar onde há risco”, completou.
Defesa Civil estadual
Para o coordenador executivo da Defesa Civil estadual na região serrana, a situação em Nova Friburgo não é exatamente a relatada pelo secretário. “Em 2007, catalogamos 10 áreas de risco na cidade e fizemos um plano municipal de redução de risco que até foi aprovado em audiência pública, em setembro daquele ano, mas as obras não foram feitas. Na época eram cerca de 2.500 pessoas nessas áreas, mas é lógico que com mais chuvas, e decorrido esse tempo, esses números aumentaram."
Segundo o coronel Sérgio Marrafa, a Defesa Civil do Estado ainda aguarda balanços das Defesas Civis municipais, com equipes em campo, para definir o tipo de intervenção a ser feita nessas áreas. “Vai mais um mês, acredito, porque temos muitas dificuldades de acesso e ainda chove. É esse o tempo também que as buscas por desaparecidos devem durar”, calculou.
Marrafa, no entanto, é enfático sobre o período pós-tragédia: se as ações preventivas não forem logo tomadas, o problema de ocupações dificilmente terá fim. “Às vezes a Defesa Civil embarga obras em um local, a pessoa desobedece e constrói lá. Aí as companhias de água e energia levam o necessário até essas casas em áreas irregulares. A fiscalização das prefeituras é deficitária. Ou seja: essas condições de habitabilidade precisam ser revistas, mas é um trabalho conjunto."
Nesta quarta (19), o secretário de Estado do Meio Ambiente do RJ, Carlos Minc, admitiu também que um outro problema afeta os trabalhos nessas localidades: as más estruturas municipais das Defesas Civis, pouco equipadas. Conforme Minc, é necessário um plano de contingência que envolva a população, o sistema de transporte, o mapeamento das áreas e líderes que comandem esse processo –mas antes das tragédias acontecerem.
Mapeamento
Para ajudar as Defesas Civis municipais e estadual nas ações que serão feitas após os resgates de vítimas, geólogos e geógrafos do DRM-RJ (Departamento de Recursos Minerais do Rio de Janeiro) trabalham na região serrana com o mapeamento das áreas de risco.
Segundo a assessoria de imprensa do órgão, que é ligado ao governo do Estado, há bases do Núcleo de Prevenção e Análise de Desastres Geológicos em Teresópolis e Nova Friburgo ajudando as equipes da Defesa a identificar onde há essas áreas de risco para, então, poder remover os moradores. O resultado de todas as áreas será compilado e entregue também às prefeituras da região.
Em Petrópolis, a prefeitura informou, via assessoria, que o levantamento de moradores em áreas de risco, feito “em conjunto com representantes do governo estadual”, ainda não está finalizado. O órgão salientou, no entanto, que um comitê de ações emergenciais tem buscado amenizar os problemas de desabrigados.
Nas demais cidades, a reportagem não conseguiu contato ou –no caso de Teresópolis– não obteve retorno.
Cidades atingidas pela chuva
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