Desabrigados de AL enfrentam calor de 60°C dentro de barracas, diz estudo
Além da espera pela construção das casas destruídas pelas enchentes de junho de 2010, os desabrigados das enchentes de Alagoas que vivem em acampamentos sofrem com um calor "acima do limite suportável" e em uma situação de “extremo perigo”. Essa é a conclusão de um estudo realizado pelo Instituto de Ciências Atmosféricas da Universidade Federal de Alagoas.
Segundo análise, a temperatura dentro das barracas chega a alcançar 42°C, às 11h, e índice de calor (que leva em conta umidade, ventilação e temperatura) a impressionantes 60°C. “Com esse índice temos insolação e acidentes vascular cerebral iminente”, diz o estudo.
“A alta taxa de temperatura [é] responsável pela frequência de problemas, tais como dores de cabeça, má circulação sanguínea, dores de barriga, desidratação, queda de cabelos, inquietação, dificuldades de concentração, enjôos, problemas respiratórios, entre outros”, lista a pesquisa coordenada pelo professor Manoel Toledo Filho.
De acordo com o programa da Reconstrução dos Municípios, estão instaladas em Alagoas 2.431 barracas em 13 municípios que passaram por calamidade pública. Dessas, 700 foram doadas pelo Rotary Club, que informou que 3.000 barracas idênticas serão doadas para os desabrigados da região serrana do Rio. Nesta quarta-feira (18), a Defesa Civil de Alagoas enviou 97 barracas que sobraram para os desabrigados fluminenses.
“O índice apresentou características de ambiente destituído de conforto térmico, provocando sequelas no organismo dos seres ali viventes, principalmente idosos e crianças, que são mais sensíveis, visto que certas enzimas morrem se submetidos a altos índices de temperaturas”, afirma.
A conclusão do estudo diz que “as barracas de lona habitadas pelos desabrigados, no tocante ao conforto, mostraram-se fora do padrão e termicamente insalubre”.
Em dezembro do ano passado, quando a tragédia completou seis meses, o UOL Notícias visitou os acampamentos e ouviu relato dos moradores sobre o calor insuportável. Eles afirmaram que as altas temperaturas dificultavam o sono e provocam doenças. “Se nós que somos adultos estamos sofrendo com a diarreia e a desidratação, imagine as crianças”, afirmou na época a dona de casa Maria Telma Martins dos Santos, 31, moradora de União dos Palmares.
Em todas as cidades do Vale do Mundaú, os moradores se queixaram do intenso calor. Em Murici, as crianças se refrescam tomando banho em um córrego poluído.
“A gente sabe que esse córrego é sujo, que as crianças correm perigo, mas temos que lavar nossas roupas e pratos”, contou José Cícero Donato, 30.
Estado promete galpões
Para tentar amenizar o desconforto térmico das barracas, o governo do Estado diz que já está construindo galpões para abrigar as vítimas das enchentes. O Serviço de Engenharia de Alagoas informou que o primeiro deles deve ser inaugurado em Murici, mas apenas em fevereiro. Nos outros 12 municípios ainda serão realizadas análises para definição do cronograma de entrega.
Segundo o coordenador da Vigilância Sanitária Estadual, Paulo Bezerra, a inspeção das condições de salubridade das barracas é de responsabilidade das vigilâncias municipais –que não informaram sobre problemas. Bezerra, no entanto, afirmou que a temperatura é “totalmente insalubre” e que está atento a possíveis problemas relatados pelos municípios.
As enchentes afetaram 29 cidades no ano passado, deixando 15 deles em estado de calamidade pública e quatro em situação de emergência. Segundo a Defesa Civil Estadual, 27 pessoas morreram, 27.757 ficaram desabrigadas e 44.504, desalojadas, além de um total de 18.823 casas destruídas ou danificadas. Das casas que serão reconstruídas, cerca de 8.000 já tiveram obras iniciadas, 9.500 estão com contratos e assinados e 1.300 estão à espera de identificação de terrenos.
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