Evento com trio elétrico em MG não tinha aval para funcionar, dizem bombeiros
O capitão Thiago Lacerda Duarte, subchefe do Centro de Atividades Técnicas do Corpo de Bombeiros de Minas Gerais, afirmou nesta segunda-feira (28) que a prefeitura de Bandeira do Sul (região sul do Estado, a 440 km de Belo Horizonte) não apresentou à corporação projeto para a festa de pré-Carnaval realizada no último domingo (27). Ao todo, 16 pessoas morreram após trio elétrico ser atingido por fios de alta tensão da rede elétrica. O evento, intitulado “Carnaband 2011”, foi promovido pela prefeitura local.
Entenda como aconteceu a tragédia no pre-Carnaval de cidade de MG
“O evento não estava regularizado junto ao Corpo de Bombeiros. Embora tenha sido promovido pela prefeitura, não foi apresentado o chamado Projeto Técnico para Eventos Temporários. Sem o projeto, fica difícil avaliar as condições de segurança do evento”, disse o oficial.
Segundo ele, pela norma da corporação, o projeto deveria conter, entre outros itens, os locais de concentração e dispersão dos foliões, para avaliação das normas de segurança e possíveis áreas de escape em situações de emergência.
“O projeto tem de conter algumas exigências técnicas previstas na norma específica que, no nosso caso, chama-se 'instrução técnica número 33'”, disse o oficial.
Conforme Duarte, as informações mais relevantes que devem constar no projeto, em relação especificamente aos trios elétricos, são as relativas às proteções laterais para evitar risco de queda e as que dão conta da presença de extintores de incêndio no veículo. São exigidos dois por cada andar do trio elétrico.
“Por esses veículos serem normalmente adaptados, o proprietário precisa apresentar o documento de inspeção veicular, emitido pelo órgão de trânsito, atestando que as modificações feitas não comprometem a segurança do veículo”, acrescentou.
Aprovado o projeto, os bombeiros realizam vistoria técnica para checar se as informações são verídicas, de acordo com Duarte.
“Estando tudo dentro das normas, é emitido o atestado que dá a autorização para a realização do evento. No nosso Estado, ele (atestado) se chama Auto de Vistoria do Corpo de Bombeiros”, declarou. Conforme o oficial, geralmente para a realização de eventos em locais públicos ainda são necessárias licenças prévias das prefeituras e de órgãos responsáveis pelo tráfego de veículos nas localidades.
A reportagem do UOL Notícias tentou entrar em contato com a Prefeitura de Bandeira do Sul, mas ninguém atendeu no local.
Acidente
Segundo a Polícia Militar, o acidente ocorreu quando uma pessoa ainda não identificada disparou um foguete contendo serpentina laminada em direção aos fios de energia elétrica. Houve um curto-circuito e o rompimento dos cabos, que atingiram o trio elétrico e o chão. As pessoas que estavam no solo e em contato com a carroceria do veículo foram atingidas pela descarga elétrica. Segundo a PM, houve 15 óbitos instantâneos, sendo que algumas vítimas foram eletrocutadas após tocarem em quem recebia a descarga elétrica. De acordo com a corporação, 57 pessoas ficaram feridas e foram encaminhadas para o pronto-socorro da cidade e a hospitais de Poços de Caldas, Botelhos e Campestre, municípios próximos a Bandeira do Sul. A cidade ficou sem fornecimento de energia elétrica por algumas horas.
O delegado da Polícia Civil Ademir Luiz Corrêa, responsável pelo caso, informou que o dono do caminhão, que servia de base para o trio elétrico e foi apreendido, seria a primeira pessoa a ser ouvida, ainda nesta segunda-feira (28).
“Vamos fazer um levantamento para saber o que causou o acidente e se esse nexo causal pode caracterizar homicídio culposo”, explicou. De acordo com o delegado, as informações preliminares dão conta de que a versão da PM é a mais plausível para o acidente.
“O perito (da Polícia Civil) terminou os trabalhos por volta de 1h da manhã (de hoje). Nós vamos esperar a conclusão do laudo para termos algo mais concreto, o que deverá ocorrer em 5 dias”, salientou. De acordo com o delegado, testemunhas indicaram a pessoa que teria lançado o artefato em direção aos fios de alta tensão.
“Temos conjecturas, alguns comentários (em relação ao suspeito de ter lançado o foguete). Nós vamos conversar com essa pessoa para saber se realmente foi ela, mas ainda é tudo no campo das hipóteses. Ela pode ser indiciada por homicídio culposo (sem intenção de matar), mas temos de averiguar se o episódio não se trata também de uma fatalidade, mas vai ser medida a culpabilidade da pessoa e a Justiça decidirá posteriormente”, observou.
Conforme a Polícia Militar, o velório de algumas das vítimas está sendo feito, na manhã de hoje, no ginásio poliesportivo de Bandeira do Sul. O governador de Minas Gerais, Antonio Anastasia (PSDB), iria ao velório.
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