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Abdias do Nascimento, ativista do movimento negro, morre aos 97 anos no Rio de Janeiro

Daniel Milazzo

Especial para o UOL Notícias<br>No Rio de Janeiro

24/05/2011 18h37

Aos 97 anos, faleceu na noite de ontem (23) Abdias do Nascimento, um dos expoentes na luta contra o racismo e pela valorização da cultura afrodescendente no Brasil. Nascimento estava internado desde 15 de abril no Hospital dos Servidores do Estado, no Centro do Rio de Janeiro, devido a complicações cardíacas. Ele sofria de hipertensão e diabetes. De acordo com o hospital, Nascimento faleceu vítima de uma insuficiência cardíaca.

Em nota divulgada na tarde desta terça-feira (24), o governador Sérgio Cabral (PMDB) lamentou o falecimento. Cabral disse que Nascimento foi um “ativista incansável” e destacou sua influência na garantia dos direitos à população negra.

Intelectual, artista, político, escritor, Abdias Nascimento atuou em diversas frentes para defender os direitos humanos e civis dos negros. Ele entrou na política em 1980, quando se juntou ao amigo Leonel Brizola para fundar o Partido Democrático Trabalhista (PDT).

Em 1983, ele ocupou uma cadeira na Câmara Federal representando o estado fluminense e apresentou um projeto de lei que propõe políticas públicas de igualdade racial. Neste mesmo ano, ele propôs que o racismo se tornasse crime de lesa-humanidade.

Em 1991, na gestão do governador Leonel Brizola, Nascimento ocupou a Secretaria Extraordinária para Defesa e Promoção das Populações Afro-Brasileiras (Sedepron, transformada na Seafro). Também foi secretário dos Direitos Humanos e da Cidadania na gestão de Anthony Garotinho como governador do Rio (1999-2002).

No Senado, Nascimento assumiu em 1996 a cadeira do falecido senador Darcy Ribeiro e exerceu o mandato até 1999. O ativista lutou pelo direito dos quilombolas à propriedade das terras onde haviam se instalado e apresentou propostas cujo objetivo era fundamentar o princípio da reparação ao povo negro.

Valorização do negro nas artes

Em 1944, contrariado com o fato de que atores brancos tinham a pele pintada de preto para encarnar personagens negros no teatro, Nascimento resolve fundar o Teatro Experimental do Negro (TEN).

O movimento pretendia valorizar a identidade, enaltecer a cultura, resgatar a herança africana e resgatar a dignidade dos negros no Brasil. Ele dirigiu o Teatro Experimental do Negro até 1968, quando teve de buscar exílio nos Estados Unidos por causa do endurecimento do regime militar.

No ano seguinte ao surgimento do TEN, em 1945, o ativista organizou a Convenção Política do Negro Brasileiro a fim de lutar contra o racismo. Em 1950, ele criou o 1º Congresso do Negro Brasileiro, mais um capítulo na sua trajetória em defesa da dignidade dos afrodescentes.

Dali surgiu a ideia da criação de um Museu de Arte Negra, mas este jamais chegou a possuir uma sede própria.

Abdias Nascimento deixou mais de 20 obras publicadas, entre peças teatrais, ensaios, trabalhos de pesquisa e poesias. Local e horário do enterro do ativista ainda não foram divulgados.