Justiça proíbe tradicional "guerra de espadas" no interior da Bahia
Imagens mostram a "guerra das espadas"
Um dos municípios de maior tradição nos festejos juninos na Bahia perde este ano a sua principal atração: a “guerra de espadas”, travada noite de 23 para 24 de junho, quando é comemorada o São João no Estado. Uma decisão judicial proibiu a brincadeira na cidade de Cruz das Almas (145 km de Salvador). A justificativa é garantir a integridade física dos moradores da cidade.
Todos os anos, a batalha atrai muitos turistas e curiosos que ficam fascinados com o brilho e velocidade dos artefatos usados como “espadas”. No entanto, a tradição costuma deixar feridos. A prefeitura chegou a recorrer da decisão, mas, às vésperas da festa, a Justiça negou o recurso e manteve a proibição.
Na tentativa de flexibilizar a decisão judicial, a Câmara municipal chegou a provar na segunda-feira (20), em regime de urgência, uma lei para disciplinar a atividade. O prefeito Orlando Peixoto (PT) sancionou a lei, mas a determinação judicial se sobrepõe à lei municipal.
Conforme a decisão assinada pela juíza Luciana Amorim, quem for pego com espadas em Cruz das Almas estará sujeito a prisão. O parecer da juíza atendeu a um pedido do Ministério Público Estadual, que alegou que a atividade coloca em risco a integridade física dos moradores e do patrimônio público de Cruz das Almas.
Para o promotor Christian de Menezes, a prática “tem caráter criminoso”. Ele afirma que o Ministério Público tentou negociar com a prefeitura um local específico para a guerra, fora da área urbana, mas não obteve êxito.
Além de vedar a realização das batalhas, a determinação judicial também prevê mandado de busca e apreensão de todas as espadas nas ruas da cidade. Na semana passada, numa ação conjunta das polícias civil e militar foram apreendidas mais de 2.000 unidades, produzidas numa fábrica clandestina da cidade.
O vice-prefeito da cidade, Valtércio Cerqueira (PSDB), teme que a proibição prejudique o turismo, que fica aquecido nesse período do ano. Cruz das Almas ganhou notoriedade nacional pelas famosas guerras e atrai cerca de100 mil pessoas durante os festejos juninos.
“Não dá para entender como o município pode agir com tamanho grau de irresponsabilidade diante dos danos provocados a cada ano à comunidade, ao patrimônio, ao direito de locomoção e ao próprio meio ambiente”, criticou o promotor.
Temendo a ação danosa das espadas, que riscam as ruas centrais da cidade, os moradores fecham as casas na noite do São João. Alguns chegam a vedar as fachadas com folhas de madeira.
Produzidas artesanalmente, as espadas são feitas com pedaços de bambu, barro, pólvora e outros componentes como limalha de ferro, de fácil combustão.
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