Bacamarteiros atiram pelas ruas de Caruaru (PE) e mantêm tradição desde o século 19
Cerca de 700 bacamarteiros desfilaram pelas ruas de Caruaru (PE) na tarde deste sexta-feira (24), dia de São João. A tradição, passada de geração a geração, vem desde o fim do fim da Guerra do Paraguai (1864-1870), no fim do século 19. Com seus bacamartes --armas usadas na guerra--, eles são homenageados e disparam tiros.
Saiba mais sobre a tradição
Bacamarte é uma arma de fogo, de cano curto e largo, também conhecida como granadeira, reiuna, reuna ou riuna, principalmente no Nordeste brasileiro. As granadeiras ou bacamartes que serviram na Guerra do Paraguai, em 1865, foram modificadas para que as armas se adaptassem ao uso dos bacamarteiros nas festas do interior de Pernambuco. Desde os fins do século 18, grupos de bacamarteiros se exibem em Caruaru durante as festas juninas.
Em Caruaru, a tradição dos bacamarteiros é mantida por 30 batalhões, que desfilam ao som de forró pelas ruas centrais da cidade, até a antiga estação ferroviária, onde eles receberam homenagens de honra ao mérito. Hoje (24) é comemorado o Dia Nacional do Bacamarteiro.
A tradição dos disparos é familiar, com a participação de filhos ou netos. O comandante de um dos batalhões, Otávio Alves da Silva, 65, diz que a tradição dos bacamartes segue viva no interior de Pernambuco. “Nós somos mortais. Mas a tradição é muito maior que todos aqui: a nossa cultura passa de pai para filho”, afirmou.
O batalhão de seu Otávio mantém tradições centenárias: não é permitida a entrada de mulheres. “Nós somos um dos poucos que mantemos essa tradição. Não as aceitamos porque dá muito trabalho. Como nós viajamos para outras cidades, em apresentações, às vezes é preciso parar, ou ir ao banheiro, em qualquer local. Com os homens, em um instante resolve, mas, com mulher é muito mais complicado”, disse o bacamarteiro, que desde os 14 anos participa do grupo.
Mas nem todos os batalhões negam a entrada de mulheres. Maria Cristina Tavares, 63, participa de um grupo e diz que aguenta o “tranco” dos disparos. “A coisa aconteceu tão naturalmente que quando dei conta já estava atirando”, afirmou.
Maria Cristina diz que começou a integrar a tradição por causa do marido. Hoje ela tem a companhia não só do companheiro, mas também dos filhos e netos. Ela reclama do machismo que ainda impera no meio. “É uma ignorância que esta restrição ainda aconteça nos dias de hoje. Não dá para acreditar que uma festa tão bonita, tão nordestina, ainda tenha este preconceito”, lamentou.
A presença de crianças também é comum nos batalhões. E elas começam cedo a aprender. O estudante Daniel de Deus, 8, está no grupo desde os seis anos de idade. Filho de bacamateiro, ele sonha um dia chegar a comandante de batalhão. "Eu quero passar por todas as etapas. Hoje, sou porta-estandarte, desfilo, mas quando ficar mais velho quero atirar. Depois, quero comandar a troça", planeja.
Bacamarte é uma arma de fogo, de cano curto e largo, também conhecida como granadeira, reiuna, reuna ou riuna, principalmente no Nordeste brasileiro. As granadeiras ou bacamartes que serviram na Guerra do Paraguai, em 1865, foram modificadas para que as armas se adaptassem ao uso dos bacamarteiros nas festas do interior de Pernambuco. Desde os fins do século 18, grupos de bacamarteiros se exibem em Caruaru durante as festas juninas
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