Dois anos após anúncio de mudanças, Anel Rodoviário de BH continua registrando acidentes e mortes
Apesar de já ter sido alvo de decreto de calamidade pública, em 2009, e de promessas sobre reformas estruturais e de requalificação da pista, o Anel Rodoviário de Belo Horizonte continua registrando acidentes e mortes. Somente nos primeiros seis meses deste ano, 22 pessoas morreram e 541 ficaram feridas em 1.511 acidentes flagrados nos 26,5 quilômetros da rodovia federal.
Ontem, uma série de acidentes envolvendo vários veículos expôs mais uma vez os perigos para quem tem de trafegar no local. Segundo a Polícia Rodoviária Estadual, no mais grave deles, uma carreta desgovernada bateu em nove carros, próximo ao bairro Betânia. De acordo com a corporação, ninguém se feriu gravemente.
Em 2010, foram registrados, em média, oito acidentes por dia, resultando em 39 mortos e 1.200 feridos. O Anel tem fluxo diário de 125 mil veículos e representa uma das vias mais perigosas da capital mineira.
Os números registrados, de acordo com a Polícia Militar Rodoviária, englobam desde os acidentes mais triviais até os mais graves. Apesar de ser uma rodovia federal, a fiscalização foi delegada ao Estado.
Na opinião do presidente da ONG Movimento SOS Estradas Federais, que cobra intervenções no local, as modificações feitas até o momento na rodovia foram consideradas paliativas e não resolvem o problema de segurança na via. “Ouço essas promessas há pelo menos dez anos, mas nunca saem do papel. Melhoraram a sinalização depois que houve um grave acidente no local, mas ela não segura caminhão sem freio. O Anel tem de ser realmente reconstruído”, avaliou José Aparecido Ribeiro.
De acordo com ele, nos 26,5 quilômetros que compreendem a rodovia federal, existem 11 estreitamentos de pistas –as três faixas existentes são reduzidas para duas. “Precisam eliminar esses gargalos. O Anel há muito se transformou numa autopista que liga duas importantes rodovias federais, a BR- 381 e a BR-040, e que passa pelo meio da cidade.”
Ribeiro afirma que o Anel Rodoviário se transformou numa via urbana, mas que recebe tráfego de uma rodovia. “Os caminhões que atravessam o Brasil se misturam ao tráfego de veículos menores, de pessoas que usam a via para trabalhar em bairros de Belo Horizonte”, salientou.
O diretor da ONG defende também a construção de um rodoanel, que serviria para tirar o fluxo de veículos pesados da cidade, que tangenciaria a capital mineira. “A maioria dos caminhões que passa no Anel não tem destino final na cidade. Existem esses 11 estrangulamentos, que provocam engarrafamentos, em um local onde o tráfego é de uma rodovia. Retenção de tráfego de veículos em uma autopista significa risco de acidente iminente.”
Enquanto as obras necessárias não são realizadas, o tenente Geraldo Donizete, comandante do policiamento no local, recomenda aos motoristas atenção redobrada na sinalização existente ao longo da rodovia.
Apesar de reconhecer a necessidade da requalificação do Anel, ele cobra mais participação dos usuários. “Não adianta ficarmos só colocando a culpa na via. É claro que existem os problemas, mas, enquanto a solução não vem, o motorista precisa colaborar”, avisou.
O supervisor de vendas Wilson Soares, 47, que trabalha em uma concessionária de veículos situada às margens do Anel Rodoviário, diz sentir “medo” ao transitar no local. “Isso aqui é risco de morte todo santo dia. Isso aqui é o fim do mundo”, completou.
Promessa de investimentos
Construído na década de 50 para ligar a BR-040 à BR-381 e permitir que veículos pesados passassem ao largo do centro de Belo Horizonte, o Anel Rodoviário se transformou, através dos anos, em uma via urbana.
Em 2009, o prefeito de Belo Horizonte Márcio Lacerda (PSB) chegou a decretar estado de calamidade pública na rodovia em decorrência de um acidente que matou seis pessoas e feriu outras cinco.
O objetivo era o de acelerar os trâmites para obras emergenciais na pista e reativar dez radares de controle de velocidade, desligados desde 2007 por conta do término de contrato com empresa terceirizada. A reativação dos aparelhos tornou-se alvo de disputas judiciais entre as empresas que participaram de nova licitação.
Atualmente, o Anel conta com 17 radares em operação. O que não evitou nova tragédia no início deste ano. Em janeiro, acidente envolvendo uma carreta bitrem e 15 carros provocou a morte de cinco pessoas, entre elas uma criança de 2 anos, e ferimentos em outras doze vítimas.
Dnit
O Dnit (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes) havia anunciado, em audiência pública realizada em 2009, um pacote de R$ 780 milhões para intervenções no Anel Rodoviário e a abertura da licitação para a realização das obras. Segundo o órgão, os recursos provenientes do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) seriam utilizados para implantar e revitalizar 17 conexões viárias do Anel com outras vias para acesso à capital, substituição do pavimento de asfalto por concreto e a construção e alargamento de 12 viadutos. As obras estavam previstas para começar em março de 2010.
Procurado pela reportagem do UOL Notícias, o órgão em Belo Horizonte salientou, por meio de sua assessoria de imprensa, que o pedido de informação teria de ser enviado por e-mail. A demanda seria posteriormente remetida à Brasília para análise.
O senador Clésio Andrade (PR-MG) havia anunciado em junho deste ano que a presidente Dilma Rousseff iria a Minas Gerais anunciar pacote de R$ 2,5 bilhões para licitação de obras viárias que integram a preparação de Belo Horizonte para a Copa de 2014. Entre elas, estava a previsão de duplicação e revitalização do Anel, cujo orçamento inicial estava em R$ 750 milhões.
No entanto, após as reformulações determinadas pela presidente no Ministério dos Transportes, cuja cúpula foi rifada do comando da pasta em razão de denúncias de corrupção, as licitações foram suspensas por determinação do novo ministro, Paulo Passos.
A assessoria do vice-prefeito de Belo Horizonte, o petista Roberto Carvalho, informou que o político esteve nesta semana em Brasília, onde se reuniu com equipe de gabinete da presidente e com o ministro dos Transportes. Os encontros foram, de acordo com a assessoria, uma tentativa de mostrar a relevância da necessidade de obras no Anel, além do pedido da retomada de licitações em outras estradas do Estado.
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