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Secretário de segurança diz que operação na cracolândia "não tem erro algum" e não tem prazo para terminar

Do UOL, em São Paulo

12/01/2012 13h38Atualizada em 12/01/2012 18h08

O secretário de Segurança Pública de São Paulo, Antônio Ferreira Pinto, afirmou nesta quinta-feira (12) que a operação que ocorre na cracolândia desde a semana passada não teve erro algum. Em entrevista à rádio CBN, Ferreira Pinto criticou a ação do Ministério Público, que vai investigar a atuação de policiais na área, e negou qualquer prazo para o fim da operação. 

“Ao contrário do que estão dizendo os jornais hoje, a operação não tem data para acabar. Vamos ficar lá enquanto houver necessidade”, disse. A afirmação faz referência à fala do comandante-geral da Polícia Militar, coronel Álvaro Batista Camilo, que anunciou ontem que a atuação vai durar pelo menos mais seis meses.

O secretário confirmou ainda que proibiu o uso de balas de borracha e bombas de efeito moral após ver imagens, no jornal “Folha de S.Paulo”, de policiais atirando contra os usuários. Ferreira Pinto, porém, afirmou que não há erros na operação e criticou um inquérito civil instaurado em conjunto por quatro promotorias para apurar a atuação da PM.

Localização da cracolândia

  • Arte UOL

“Não tenho dúvida que a operação está acertada, não houve erro algum. O papel do Ministério Público é investigar qualquer atuação, é legítimo, mas o que não é legítimo é fazer juízo precipitado a respeito da ação, isso não aceitamos. A simples crítica não ajuda nada a operação na cracolândia. Devemos estar com esforços conjugados para combater essa chaga social”, afirmou.

O secretário negou qualquer divergência e antecipação da operação por parte das autoridades e forças de segurança, como foi divulgado em reportagens da imprensa. Segundo ele, a capital já tem a estrutura necessária para fazer o tratamento dos usuários e não precisaria aguardar a inauguração do Complexo Prates –centro de acolhimento e tratamento para usuários de drogas– para dar início à ação.

Reportagens mostraram que o patrulhamento na região começou antes da hora, sem o conhecimento do prefeito Gilberto Kassab (PSD), como ele mesmo admitiu, do governador Geraldo Alckmin (PSDB) e do comando geral da Polícia Militar. E sem o equipamento para os dependentes concluído, conforme planejado.

Pequena quantidade de droga apreendida

Sobre a quantidade de crack apreendida até o momento –pouco mais de meio quilo (exatos 0,637 kg, segundo o boletim divulgado)– o secretário negou que o número seja baixo. “Uma pedra de crack é menor que uma semente de laranja. Temos que avaliar o número de pedras que foram recolhidas. São milhares de pedras, não se pode avaliar pela quantidade de peso”, afirmou, apesar de o governo continuar divulgando apenas a quantidade em quilo e não em pedras.

O secretário afirmou que pequenos traficantes já foram presos, mas admitiu que grandes cabeças do tráfico ainda não foram encontrados. Segundo ele, a polícia está fazendo um trabalho intenso de investigação sobre a rede do tráfico na região.

Números

A operação chamada de "Centro Legal" retirou das ruas da cracolândia 78 toneladas de lixo, segundo o último boletim divulgado pela Polícia Militar.

Até agora, 69 pessoas foram presas. Dos presos, 37 eram condenados pela Justiça. A Polícia Militar realizou 3.607 abordagens policiais.

A operação, que conta com policiais e órgãos estaduais e municipais ligados à segurança, saúde e assistência social, realizou 1.104 abordagens sociais e 1.066 abordagens de agentes de saúde. Ainda segundo o boletim, 61 pessoas foram internadas, 9 encaminhadas para hospitais e 6 para atendimento para tratamento.

Segundo o comandante-geral da PM, por pelo menos seis meses 287 homens permanecerão no local, com apoio de 117 carros e 26 motos, além de bicicletas, cavalos, cachorros e do helicóptero Águia. Normalmente, o efetivo é de 28 agentes, divididos em dois turnos.

A PM anunciou também uma série de normas que devem ser seguidas pelos policiais. São regras do tipo: "a postura deve ser enérgica sem demonstração de agressividade, porém ostensiva e desestimuladora" e "dependentes químicos têm a opção de buscar tratamento adequado, fornecido pelos órgãos assistenciais e de tratamento".

"O objetivo neste primeiro mês é diminuir a atuação dos traficantes. E, nos seguintes, a PM fica para garantir trabalhos de saúde e assistência social. No segundo semestre, avaliaremos se é o caso de diminuir o efetivo", afirmou o comandante-geral, coronel Álvaro Batista Camilo.

O plano da PM é manter 120 homens vindos do Comando de Policiamento da Capital, concentrados nas ruas da cracolândia. Outros 152 são do Policiamento de Choque e vão fazer rondas permanentes nos bairros vizinhos para tentar evitar a migração dos usuários no entorno. Ainda participam da operação 12 bombeiros.

Denúncias de abuso

A Defensoria Pública de São Paulo informou nesta quarta-feira que já coletou 32 denúncias de abusos cometidos durante a operação policial na região da cracolândia, na região central de São Paulo, segundo reportagem da Folha.

Segundo o coordenador do núcleo de Direitos Humanos do órgão, Carlos Weis, são casos "exemplificativos" de como a Polícia Militar e a Guarda Civil Metropolitana estão agindo. Para ele, os métodos das corporações são " absolutamente exacerbados, em face das pessoas, que são pobres, miseráveis e desarmadas".

A defensoria realiza reuniões com os órgãos do governo estadual para tentar uma mudança na forma de atuação da Polícia Militar nas ações de combate aos traficantes e usuários de drogas na cracolândia com uso de força desproporcional, segundo relatos. Para o defensor, o problema é mais de saúde do que de polícia.

(Com Agência Estado)