Topo

Polícia Militar registra problemas com grevistas no interior do Estado do Rio

Manifestantes comparecem à assembleia na praça da Cinelândia, no centro do Rio de Janeiro - Zulmair Rocha/UOL
Manifestantes comparecem à assembleia na praça da Cinelândia, no centro do Rio de Janeiro Imagem: Zulmair Rocha/UOL

Do UOL*, em São Paulo

10/02/2012 09h06

Após o anúncio de greve por bombeiros, policiais civis e militares e agentes penitenciários, a Polícia Militar do Rio registrou, na madrugada de hoje (10), problemas isolados no interior do Estado, segundo informações do assessor de relações públicas da corporação, coronel Frederico Caldas.

Ele disse que o principal problema ocorreu em Volta Redonda (127 km do Rio). Na cidade do sul fluminense, segundo o coronel, viaturas retornaram para o quartel e abandonaram o patrulhamento das ruas. Cinquenta homens do Batalhão de Choque foram enviados para a cidade, para suprir a falta de policiais.

“Em outras cidades, houve situações como viaturas que foram patrulhar juntas e algumas ameaçaram não voltar para o batalhão, mas a presença dos comandantes nos batalhões foi fundamental para evitar a interrupção do serviço”, acrescentou.

Segundo o coronel, nenhum grande problema foi registrado na capital ou em outros municípios da região metropolitana do Rio.

No entanto, 500 policiais dos batalhões de Choque e de Operações Especiais (Bope) ficaram de prontidão para o caso de necessidade de suprir possíveis faltas de policiamento.

A paralisação começou oficialmente às 23h30 de quinta-feira (10). A partir da 0h, todos os policiais ficarão aquartelados em seus respectivos batalhões, segundo o movimento.

Quem estiver de folga também ficará aquartelado, além de inativos e aposentados que, na medida do possível, foram convocados a comparecer nos quartéis. Policiais foram destacados para continuar nas UPPs (Unidades de Polícia Pacificadora), mas o movimento grevista recomenda que trabalhem sem armas.

A orientação do comando de greve é que nenhum PM ou bombeiro saia para ocorrência alguma.  A Polícia Civil só atenderá ocorrências emergenciais, como violência grave, furto de veículo e as relativas à Lei Maria da Penha. A Delegacia de Homicídios continuará operando normalmente, segundo o diretor jurídico do Sindipol (Sindicato dos Policiais Civis), Francisco Chao. "Em nenhuma hipótese serão aceitos atos de vandalismo da Polícia Civil", afirmou Chao.

O cabo da Polícia Militar lotado no 22º BPM (Maré) Wellington Machado afirmou que, a partir de agora, "qualquer ocorrência que ocorrer na cidade é de responsabilidade do exército e da Força Nacional de Segurança".

O sargento do 1º GSE (Grupamento de Socorro e Emergência) Paulo Nascimento havia afirmado mais cedo que o governador Sérgio Cabral teria até 23h59 de hoje para aceitar as reivindicações da categoria e evitar uma greve geral das entidades de classe da segurança pública fluminense.

Segundo o sargento do Corpo de Bombeiros, a ideia dos grevistas é a de "evitar o pânico". Por esse motivo, os manifestantes pedem que a população do Rio "evite transitar pelas ruas a partir de amanhã", conforme anunciava uma mensagem de um carro de som próximo ao palanque montado na praça da Cinelândia, no centro do Rio.

"Essa medida é para evitar acidentes ou colisões. A gente não quer criar pânico. Acendemos um pavio e, se tiver explosão, é culpa do governador", disse.

Nascimento afirmou ainda que não tem medo de ser preso, a exemplo do cabo Benevenuto Daciolo --líder do movimento S.O.S Bombeiros que foi preso na noite de ontem após divulgação de uma interceptação telefônica na qual ele supostamente "incita" a greve.

"Nosso movimento não tem uma só liderança. Na verdade, nós somos líderes das nossas famílias, e por elas que estamos lutando. Eu perdi o medo há muito tempo. Desde o dia em que invadiram o quartel central da corporação e nós não desmobilizamos", finalizou.

Assembleia

Cerca de 2.500 manifestantes, entre policiais civis e militares, bombeiros e agentes penitenciários, compareceram na noite desta quinta-feira (9) à praça da Cinelândia, no centro do Rio de Janeiro, para a assembleia conjunta que definiu o início da greve

O momento de maior comoção entre os manifestantes foi quando uma das lideranças anunciou que todo o efetivo do Corpo de Bombeiros e da Polícia Militar foi proibido de deixar os quartéis. Segundo o comandante do Corpo de Bombeiros Militar do Rio, Sérgio Simões, os militares estão em regime de prontidão, e não de "aquartelamento". O comando da PM ainda não se pronunciou sobre o assunto.

Reivindicações

De acordo com o sargento Paulo Nascimento, lotado no 1º GSE (Grupo de Socorro e Emergência), as principais reivindicações unificadas das quatro forças da segurança pública do Rio são: piso salarial de R$ 3.500, auxílio-alimentação na ordem de R$ 350 (e fim dos ranchos nos quartéis), e uma jornada de trabalho de 40 horas semanais.

Os militares aceitam uma carga horária maior do que a reivindicada, desde que o governo do Estado pague hora extra.

O governo já descartou o piso de R$ 3.500 e mandou um projeto de lei sobre o reajuste aos deputados, que o aprovaram nesta quinta-feira. O projeto define que todas as 11 parcelas do aumento previsto para este ano (0,915% mensal) serão aplicadas já neste mês. Até fevereiro de 2013, isto é, em um período de um ano, o somatório do reajuste escalonado será de 39%, e o piso salarial chegará a R$ 2.077 --considerando o adicional do auxílio-moradia (R$ 551,36). Policiais civis e agentes penitenciários não recebem tal benefício.

Após uma reunião emergencial do governador Sérgio Cabral (PMDB) com a chefe de Polícia Civil do Rio, Martha Rocha, e o presidente da Alerj, Paulo Melo (PMDB), na noite de ontem, o governo do Estado fez uma nova proposta: além da antecipação do reajuste escalonado --que foi aprovado em 2010--, os profissionais da segurança pública terão direito a uma nova reposição em 2014.

O aumento previsto para daqui a dois anos levará em consideração a inflação acumulada do IPCA em um espaço temporal de 12 meses (de fevereiro de 2013 a fevereiro de 2014), e corresponderia, segundo o governo estadual, ao dobro da inflação no período.

Além disso, os servidores serão beneficiados a partir de 2014 com um auxílio-transporte no valor de R$ 100 mensais e a garantia de que não mais haverá corte da gratificação da Delegacia Legal em caso de afastamento por acidente de trabalho.

Deputada cobra "direitos iguais"

A deputada estadual Janira Rocha (PSOL), que aparece em gravações telefônicas autorizadas pela Justiça e exibidas pelo "Jornal Nacional" articulando o movimento grevista junto com o cabo do Corpo de Bombeiros Benevenuto Daciolo, uma das lideranças do movimento, cobrou "direitos iguais" ao comentar a prisão de Daciolo, na noite de ontem –realizada após a divulgação das gravações.

"Eu tenho a liberdade de falar, pois vivemos em uma democracia. Nós estávamos discutindo sobre o momento do ponto de vista político. A presidente da República, Dilma Rousseff, fatalmente ligou para o governador Sérgio Cabral para debater sobre o assunto e falar sobre as perspectivas do governo. O mesmo direito que ela tem, eu tenho", argumentou.

Segundo a parlamentar, ela mantém "contatos regulares" com Daciolo desde o movimento grevista do Corpo de Bombeiros iniciado no segundo semestre do ano passado.

"A diferença é eu honro as minhas calças e assumo isso. Não há problema nenhum em discutir política seja com o Daciolo ou qualquer outro integrante do movimento", afirmou.

"Meu marido não é bandido”

A mulher do cabo Benevenuto Daciolo afirmou que o marido está sendo mantido em uma penitenciária de segurança máxima (Bangu 1, na zona oeste), a mesma utilizada para abrigar criminosos de alta periculosidade.

Segundo Cristiane Daciolo, que está na assembleia das categorias, este será o argumento do defensor público do marido na hora de protocolar o pedido de habeas corpus.

"A prisão do Daciolo é totalmente ilegal. Ainda não consegui contato com ele, pois meu marido está isolado em Bangu 1, não nos deram qualquer tipo de acesso a ele, nem para a família nem para o defensor público. Meu marido não é bandido. Estão negando a ele o seu direito de defesa", disse.

Cristiane reclamou que o coronel Sérgio Simões, comandante do Corpo de Bombeiros, não autorizou que ela e a filha visitassem Daciolo quando ele ainda estava detido no quartel central da corporação.

"O Simões não quis nos receber e deixou com que eu e minha filha ficássemos até cinco horas da manhã na porta do quartel, sentadas na calçada", afirmou.

O último contato que Cristiane teve com o marido foi quando ele ainda estava no avião, voltando da Bahia em direção ao Aeroporto Internacional Tom Jobim, o Galeão. "Ele já sabia que ia ser preso quando desembarcasse e me ligou para avisar”.

Na versão de Cristiane, o cabo líder do movimento grevista só viajou para a Bahia a convite de um juiz militar e da AMB (Associação de Magistrados do Brasil). "Eles queriam que o Daciolo ajudasse e intermediasse e negociação com os policiais militares da Bahia. Acredito que a desocupação da Assembleia Legislativa só foi possível por causa dele", finalizou.

*(Com Agência Brasil e informações de Hanrrikson de Andrade, no Rio)