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Policiais oficializam manutenção da greve na Bahia

Janaina Garcia

Do UOL, em Salvador

09/02/2012 19h52Atualizada em 09/02/2012 21h47

Reunidos a portas fechadas desde as 16h desta quinta-feira (9), policiais militares da Bahia decidiram manter a greve iniciada há dez dias no Estado. A decisão saiu em uma assembleia realizada no ginásio de esportes do Sindicato dos Bancários, no centro da capital, da qual a imprensa foi impedida de participar. Após a decisão, os grevistas saíram em passeata pelas ruas da cidade.

O posicionamento foi tirado pouco mais de 12 horas após PMs acampados desde o dia 31 na Assembleia Legislativa baiana terem deixado o local. Duas lideranças foram presas na manhã desta quinta. Hoje mais cedo, policiais já haviam se manifestado sobre a manutenção da greve, mas a decisão oficial só foi estabelecida após a assembleia.

A greve na Bahia foi deflagrada na terça-feira, dia 31 de janeiro, por parte da categoria. Doze mandados de prisão foram expedidos contra policiais militares que lideram o movimento, considerado ilegal pela Justiça. As prisões foram decretadas pela juíza Janete Fadul. Todos são acusados de formação de quadrilha e roubo de patrimônio público (carros da corporação). Além dos crimes, os policiais devem passar por um processo administrativo.

Para encerrar a paralisação, os grevistas pedem a incorporação de gratificações ao salário e a concessão da anistia administrativa para os envolvidos. Segundo o governo estadual, a principal reivindicação dos policiais, que era a implantação de duas gratificações (a Gratificação de Atividade Policial-GAP 4 e 5), foi concedida de forma escalonada até 2015. "Com muito esforço orçamentário, ofereci entre 2012 e 2015 o atingimento no contracheque dessas duas gratificações", disse o governador Jaques Wagner (PT). Os grevistas, contudo, exigem que a GAP 4 seja paga ainda este ano, mesmo que de forma escalonada, e a GAP 5, no início de 2013.

"Todo ano o governo retira salário nosso de GAP e transfere para o soldo. Isso não dá nunca um aumento real, só uma transferência", disse um grevista que não quis se identificar.

A questão da anistia foi relativizada após a divulgação de áudios que mostraram um dos líderes do movimento incentivando atos de vandalismo. A presidente Dilma Rousseff se manifestou nesta quinta-feira contra a anistia aos grevistas.

O governo reiterou que os policiais envolvidos em casos de vandalismo serão punidos. "Os policiais que participaram legalmente, dentro das regras do processo reivindicatório, não têm com o que se preocupar. Mas todos aqueles condenados pela sociedade baiana que depredaram, quebraram e intimidaram a população devem ser investigados. Não há como falar em perdão quando se fala em atos de vandalismo", disse Wagner.

Após a assembleia, um dos grevistas negou que a categoria queria anistia irrestrita a todos os manifestantes. "O que está maculando a imagem da corporação é isso: queremos a anistia administrativa, nunca pleiteamos a anistia criminal. Quem cometeu crimes que responda por isso", disse um deles.

A paralisação gerou um aumento da violência no Estado: houve registro de arrastões e aulas e shows foram cancelados. Os Estados Unidos chegaram a recomendar aos norte-americanos que adiem viagens "não essenciais" ao Estado. Em uma semana, o número de homicídios mais do que dobrou na região metropolitana de Salvador, segundo estatísticas oficiais do governo.

Desocupação

Cerca de 500 homens do Exército e da Polícia Federal entraram por volta de 7h20 desta quinta-feira (9) na Assembleia Legislativa da Bahia, em Salvador, para realizar uma varredura no prédio que, até esta manhã, era ocupado por 245 policiais militares em greve há dez dias.

Segundo o Exército Brasileiro, a ordem pela não invasão foi seguida até o último momento da operação. Os grevistas começaram a rendição por volta das 6h30. Dois líderes, Marco Prisco e Antonio Paulo Angeli, tinham ordem de prisão decretada e foram levados presos por policiais federais à Polícia do Exército na capital baiana. 

De acordo com o chefe de Comunicações do Exército, tenente-coronel Márcio Cunha, a condição colocada por Prisco --principal líder do movimento --para a rendição era que ele e a outra liderança saíssem pelos fundos.

10º dia de greve

A greve da Polícia Militar da Bahia chega ao seu 10º dia hoje. A partir do início do protesto, a população passou a viver uma rotina de crimes, prejuízos e transtornos. Desde a noite do último dia 31 de janeiro, os baianos mudaram sua rotina e passaram a ficar em casa, com comércio e ruas vazias, aulas e eventos culturais suspensos e Justiça com serviços parados.

A paralisação levou o governo federal a decretar no fim de semana a GLO (Garantia de Lei e Ordem), tirando o comando da segurança do Estado e o repassando para o Ministério da Defesa. Sem PMs nas ruas, o serviço de segurança está sendo feito por 4.000 homens da Polícia Federal, Exército e Força Nacional.

Segundo a SSP da Bahia, entre os dias 1º e 8 de fevereiro, 135 pessoas foram assassinadas na região metropolitana de Salvador. Desses crimes, pelo menos 38 tiveram característica de extermínio, segundo informou a Polícia Civil, que investiga os casos com prioridade. Os assaltos a ônibus coletivos também assustam, foram nove casos somente nesta terça-feira (7). Em um deles, na Praia Grande, os ladrões levaram apenas R$ 8.

Desde o dia 1º, 300 veículos foram furtados ou roubados. Saques também foram registrados em lojas no começo da paralisação, mas cessaram após reforço federal nas áreas de concentração comercial.
 
Pelas redes sociais, os baianos relatam o clima com a paralisação. “As pessoas de Salvador estão assustadas com essa greve, o pessoal está com medo de sair de casa”, disse Jenny Ferreira. “Com um medo danado! Essa greve da PM está tirando o sono de todo mundo! Aulas só quando a greve terminar! Compensar em dezembro”, afirmou Beatriz Oliveira. “Uma semana de greve da PM e Salvador não aguenta mais ficar refém da violência e do medo, vamos nos unir em oração para acabar logo com isso”, publicou Rose Melo.


Serviços prejudicados

Alguns dos serviços essenciais estão prejudicados. Desde a segunda-feira (6), os trabalhos na sede do Tribunal de Justiça e no Fórum Criminal de Sussuarana estão suspensos por questões de segurança. Nesta quarta-feira (6), foi a vez do TRE (Tribunal Regional Eleitoral) fechar as portas e suspender o atendimento.

A volta às aulas, que deveria ter ocorrido esta semana, também foi prejudicada. As escolas da rede municipal de Salvador, com início das aulas previsto para esta terça, optaram pela suspensão “até que a situação em Salvador seja restabelecida.”

As escolas particulares, que iniciariam o ano letivo na segunda, receberam orientação para suspender as aulas até que a situação se normalize. Já a rede estadual optou por recomeçar as aulas na segunda-feira, mas a falta de alunos e professores levou a maioria das escolas a também suspender as atividades. O Sindicato dos Trabalhadores da Educação pediu aos professores que não comparecessem às unidades. As aulas das faculdades particulares e cursos também estão suspensas na maioria das instituições.

Prejuízos e "desespero"

O comércio de Salvador tem registrado uma queda nas vendas de pelo menos 50%, segundo estimativas da CDL (Câmara de Dirigentes Lojistas). A queda é reflexo do medo das pessoas de ir às compras. Os shoppings e galerias, que antes ficavam abertas à noite, estão fechando as portas mais cedo, e as ruas têm ficado desertas depois que o sol se põe. Os bares e restaurantes estão vazios.

Os prejuízos dos empresários não param de crescer com a paralisação. O sentimento de angústia dos empresários baianos com a greve pode ser percebido pelo teor de uma nota oficial divulgada nesta quarta-feira (8) pela seccional da Abrasel (Associação Brasileira de Bares e Restaurantes). “Mais do que preocupante, a situação já passa a ser desesperadora, pois as empresas, independentemente de suas vendas, terão que pagar pelos custos fixos como aluguéis, salários, impostos que independem do faturamento como o IPTU, dentre diversas outras despesas planejadas, bem como as despesas não planejadas diretamente causadas pela greve”, disse.

Segundo a associação, “em nove dias de greve, a Abrasel constata que a perda de faturamento dos estabelecimentos da capital baiana atinge a marca de 50% a 90% por dia de greve.”